Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

A LIÇÃO DO PRESÉPIO

Um Santo Natal para todos!

Sem esquecermos os que estão ao nosso lado:
Os desempregados, os jovens sem trabalho, os doentes, os idosos, os que sofrem, os que estão sós, os necessitados,
os carentes do nosso olhar
   
   
Também este será um Natal na crise, agravado pelo aumento do desemprego.
Para muitos, sobretudo jovens, não há trabalho; para outros, tornou-se difícil chegar ao fim do mês com o seu salário.
E para muitos pensionistas a situação é marcada pela penúria e extrema pobreza.
Nem todos o vêem, mas sabem-no muito bem os responsáveis por iniciativas ou instituições caritativas que viram aumentar a fila de quantos procuram uma refeição quente ou “mendigam” pão, leite, massa, um pouco de queijo, alguma caixa de comida…

Mas, ainda mais preocupante, neste Natal domina a fraca confiança, a falta de esperança e, em alguns covis, uma raiva que às vezes parece pronta a explodir na violência e na vontade de dar uma lição a quantos são vistos como responsáveis pela situação, na vingança dirigida àqueles que continuam a não sofrer a crise, mostrando um estilo de vida luxuoso e arrogante.
Certo, comer-se-á bolo-rei, porque mesmo este é distribuído e dado aos pobres, mas em muitos corações não haverá aquela alegria que todos nós imaginamos ligados a esta festa, e até para alguns ela agravará o cansaço e o sofrimento, como às vezes acontece quando quem sofre vê a alegria dos outros.

Estar consciente desta “realidade” deveria tornar-nos particularmente responsáveis – sobretudo se não estamos gravemente feridos pela crise – por aqueles que passam por necessidades.
Não é preciso assumir grandes iniciativas: basta que, saindo de casa, nos detenhamos a olhar nos olhos, face a face, aqueles que sofrem; basta que, conhecendo aquela família particular que precisa de ajuda, vamos ao seu encontro, tornando-a próxima: então o nosso coração, as nossas entranhas de compaixão, ditar-nos-ão o comportamento, inspirar-nos-ão o que partilhar, o que dar gratuitamente.

Nós, homens e mulheres, não somos maus: somos distraídos, estamos em fuga, temos pressa e não temos tempo para nos determos.
Mas se tivermos a força para fazer isto, ou seja, encontrar e olhar nos olhos de quem passa por necessidades, saberemos o que fazer e teremos a coragem, o impulso para o fazer.
Conheceremos, sobretudo no Natal, a festa da troca dos dons, descobriremos que há mais alegria no dar do que no receber, e o nosso dom gratuito activará uma dinâmica fecunda pela qual quem recebe dá a quem está à sua volta.

Afinal, o que nos narra a presépio que encontramos aqui e ali nas praças ou nas igrejas, ou aquele que nós próprios construímos nas nossas casas?
O nascimento de uma criança de um casal pobre, uma família em viagem, para a qual não havia lugar nem sequer na estalagem.
Todavia, àquela gruta, àquele recém-nascido chegam muitos pobres: pastores, donas de casa, habitantes dos povoados, e chegam com presentes para o menino pobre, enfaixado, que tem por berço uma manjedoura de estrebaria.

É portanto o presépio que nos convida a fazer o mesmo.
Se gostamos de o ver, se o construímos para estar em festa, então que se refaça o mesmo movimento: ir ao encontro de quem precisa e gratuitamente dar a quem não pode retribuir.
E para os cristãos, o presépio torna-se profecia.
Aquela criança na manjedoura, com efeito, também disse, como Messias e Juiz: «Tudo o que tiverdes feito a um destes pobres que são meus e vossos irmãos, a mim o fizestes».

Mas saberemos discernir o pobre nos pobres concretos, que estão ao nosso lado?
No Natal cantamos Jesus pobre, nutrimos sentimentos ideais em relação «ao pobre menino ao frio e à geada», mas depois reconhecemos quem é carenciado e habita provavelmente no nosso próprio palácio, sob o próprio tecto ou nas casas vizinhas?
Somos facilmente atraídos pela caridade por quem está longe e que o faz estar longe, mas não gostamos do pobre ao nosso lado, na nossa casa, na verdadeira relação com ele.

Por isso, a crise económica, que antes de tudo é social, cultural e sobretudo ética, deveria ser uma ocasião para viver de maneira diferente, de modo simplesmente mais humano e humanizante, a nossa vida social.
O Natal, com a sua tradição, a sua mensagem, pode interpelar-nos e ajudar-nos a dar passos concretos, de forma a conhecermos uma melhor convivência e começar assim a ter confiança uns nos outros, a esperar juntos por todos.

Quando eu era uma criança, no imediato pós-guerra (e era um tempo de crise, mesmo de miséria!), no dia de Natal, à mesa, reservava-se um prato e uma cadeira para o caso de aparecer um pobre para festejar.
Era o sinal de que se estava pronto a partilhar o pouco que havia: ter à mesa alguém que chegasse de surpresa ampliava a festa…

Quem sabe se alguém, na noite de Natal, ouvirá uma pregação como a que fez São Jerónimo:

«Nós, hoje, com a desculpa de honrar Cristo, eliminámos a sujidade do estábulo para a substituir por ouro e prata, mas para mim é muito mais precioso aquilo que tirámos.
Ouro e prata condizem com os poderosos, os ricos, mas a quem crê em Cristo diz muito mais aquele estábulo de terra batida.
Quem nasceu no estábulo não quer nem ouro nem prata!».

Enzo Bianchi
Prior do Mosteiro de Bose, Itália
In Vatican Insider
Trad. e adapt.: rjm

Fonte: Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura


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