Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

segunda-feira, 28 de março de 2016

HOMILIA DO NOSSO BISPO D. ANTÓNIO NA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO





A Páscoa comporta uma riqueza inesgotável.

Convoca-nos para estarmos presentes e sermos activos em todos os domínios da vida humana, religiosa, cultural, social e política”
   
   
Homilia de D. António dos Santos na Páscoa da Ressurreição:



1. A festa da Páscoa do Senhor é a festa da Igreja.
É a nossa festa.
Ontem, na solene Vigília Pascal, irrompia nesta Catedral, um grito de luz, jorrava uma nascente da água pura e ouvia-se, a partir da palavra de Deus, a voz da criação, o cântico da libertação, o desígnio da profecia e o anúncio feliz da vida nova, nascida do Ressuscitado.

A Páscoa cristã, preparada durante a quaresma, prolonga-se agora ao longo de outro tanto tempo de sete semanas de tempo pascal.
Na Diocese do Porto, quisemos integrar, de acordo com o Plano Diocesano de Pastoral, todo este tempo numa só Caminhada Quaresma-Páscoa, vivida no espírito do Jubileu da Misericórdia, sob o lema: “Pratica as obras de misericórdia, com alegria!”

A partir da ressurreição do Senhor, o valor dos sinais adquire uma dimensão nova – a de indicarem a presença discreta e eficaz d’Aquele que faz aliança definitiva connosco e não desiste de estar no meio daqueles que esperam os frutos novos da sua presença.

A presença do Ressuscitado manifesta-se, de modo real, na vida da Igreja, na oração das famílias e na celebração dos sacramentos.
É, sobretudo, a eucaristia que se faz memorial deste mistério admirável da nossa fé.
O nosso encontro com o Ressuscitado vive-se na comunhão da Igreja, que cresce na fé, na esperança e no amor; que celebra e reza; que se reanima e revitaliza; que reforça os laços de fraternidade; que se abre à sociedade e aceita ser enviada em missão, para anunciar com encanto a “Alegria do Evangelho”, para proclamar as bem-aventuranças e para praticar as obras de misericórdia, com alegria!

2. Neste tempo dilacerado por tantas e desnecessárias divisões, o mundo e muito concretamente a Europa e Portugal precisam da sabedoria, da lucidez e da determinação de todos para que saibamos fazer do diálogo a chave da harmonia e da concertação entre todos os cidadãos e para que um futuro de consenso, de justiça e de progresso igual para todos seja possível.

Ao longo destes últimos tempos e mais proximamente nesta Semana Santa fomos duramente confrontados de novo, de forma cíclica e cobarde, com o drama do terrorismo internacional que feriu o coração da Europa e do mundo.
Fomos igualmente tocados, de forma cruel e impensável, pela tragédia do acidente rodoviário que ceifou vidas de doze portugueses emigrantes das nossas terras, que aqui regressavam para celebrar a Páscoa.

Tudo isto se vem acumular a tantas mortes prematuras fruto de violência doméstica sob o tecto das nossas casas, aos suicídios crescentes nas nações mais desenvolvidas, aos acidentes de trabalho em empresas inseguras, aos que chegam inanimados às portas fechadas da Europa ou morrem na orla das praias do Mediterrâneo e às vitimas inocentes da perseguição religiosa ou étnica em tantos países em guerra, nos diferentes continentes do mundo.
São estes sinais tenebrosos que toldam o horizonte da humanidade mas não podem ter a última palavra diante da esperança renascida da Páscoa.

É a hora de levantarmos o nosso olhar para o alto, para a cruz redentora, para o sepulcro vazio, para o Ressuscitado. Vejamos os caminhos trilhados pelo Papa Francisco.
Saudemos os gestos de governantes, de educadores, de pais, de voluntários e de profissionais competentes que resistem à inércia dos que nada fazem para bem dos outros ou dos que se submetem impassíveis à tirania do mal, da violência e do ódio.

Há felizmente, nas nossas terras, tanta gente decidida a abrir caminhos novos, a construir pontes que unem, a fazer ruir barreiras que separam, a abraçar com a alegria da proximidade e da fraternidade os pobres, os frágeis, os sem-abrigo e os doentes, a lavar os pés magoados pela dureza do caminho de irmãos de cores diferentes e de religiões desiguais, mas sempre e acima de todas as diferenças nossos irmãos.

Vejamos a plêiade de homens e mulheres e muitos deles tão jovens e mesmo crianças, mas invulgarmente generosos e audazes, que querem dar de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, visitar os doentes, assistir os presos, e sepultar os mortos ou também e sempre dar bons conselhos, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, suportar com paciência as fraquezas do próximo e rezar a Deus pelos vivos e pelos defuntos.

A Páscoa de Jesus, têm uma palavra, porventura a maior e a melhor, a dizer na vida da Igreja, no rumo do nosso viver como País e no horizonte de esperança de que o mundo anda tão necessitado. Fala-se tanto da responsabilidade social do Estado.
E é bem que se fale e, melhor ainda, que se trabalhe nesse sentido. A Igreja tem esse dever, também, e tem procurado cumpri-lo com sentido de generosidade e de subsidariedade.
Mas para lá desta responsabilidade social, que ao Estado pertence em primeiro lugar e a todos os cidadãos diz respeito, a Igreja tem a responsabilidade pascal que é sua missão primeira ao serviço do Evangelho e consiste em tudo fazer para ser sinal e presença do Ressuscitado e da vida nova que Ele nos trouxe e assim se renovar diariamente e ajudar em permanência a transformar o mundo.

A Páscoa comporta uma riqueza inesgotável.
Convoca-nos para estarmos presentes e sermos activos em todos os domínios da vida humana, religiosa, cultural, social e política, entendida esta como o melhor serviço da pólis, da cidade.
A Páscoa é escola de uma concepção nova de vida e de dignidade humana em todas as suas dimensões para que, aí e à luz do acontecimento pascal, se eduquem as novas gerações para uma vida saudável, feliz e cristã, para uma partilha solidária, justa e fraterna e para uma responsabilidade coerente, profética e universal, orientada no sentido do bem comum e da construção de um mundo melhor.

3. No momento da morte de Jesus não foram muitos os que permaneceram junto da cruz de Jesus e ao lado de sua Mãe. Sepultaram Jesus com respeito e dignidade, para que os corpos não ficassem na cruz em dia de sábado, como prescreve a lei judaica.
O sepulcro foi cedido a Jesus por um amigo e discípulo, José de Arimateia.
Mas aqueles mesmos que permaneceram na hora da morte foram de novo, na manhã do terceiro dia, ao levantar do sol, ao sepulcro.

A morte é incapaz de fazer calar o amor, a saudade e a esperança da vida eterna, daqueles que se querem bem.
Não se vai ao sepulcro de alguém que nos morre apenas por curiosidade, mas sim por amor e pela fé na vida que a morte não destrói e que o sepulcro não esconde.
Maria de Magdala, Pedro e João, pela manhã, viram o sepulcro vazio e vieram dizê-lo apressadamente aos restantes discípulos.
Os discípulos de Emaús, pela tarde daquele mesmo dia, reconheceram Jesus ao partir do pão e regressaram de imediato a Jerusalém para o dizer também.

A estas testemunhas juntaram-se outras que viviam por perto e juntamo-nos nós, agora, distantes no tempo, mas igualmente presentes, discípulos e mensageiros do Ressuscitado.
Associa-se a este testemunho a multidão dos que vêem a afirmação das Escrituras, que confirmam o milagre da ressurreição, lidas à luz da Páscoa.
Aqui começa a fé pascal que encontrará a sua plenitude no dom do Espírito Santo, na manhã do Pentecostes, capaz de abrir os corações dos discípulos a tudo aquilo que Jesus lhes dissera antes.

4. É na vitória de Jesus Cristo sobre a morte que residem a identidade própria e o carácter específico do cristianismo.
É este o grande sentido da Páscoa, mas também a grande dívida que nós cristãos temos em relação aos homens e mulheres, nossos contemporâneos, e que a Igreja tem em relação ao mundo.
É este testemunho lúcido, claro, humilde e feliz que o mundo desde sempre espera da Igreja.

É esta dívida do amor vivido, celebrado e anunciado por palavras e por obras, que a Igreja deve saldar.
Um amor que liberta, que ergue, que levanta, que perdoa e que ressuscita. Um amor nascido do mistério e do transcendente, de quem ajuda o mundo a ver para lá das evidências, das aparências e das ilusões.
Um amor fruto do milagre, que ao Ressuscitado devemos pelo valor sagrado da vida, desde a sua concepção até á morte natural.
É a dívida da misericórdia infinita de Deus, que nos ama e nunca se cansa de nos perdoar.
Amor e misericórdia da Igreja que, sendo mãe, tem rosto e coração de ternura.

Esta é, em síntese teológica e antropológica, a dívida de uma nova concepção do homem e do mundo, firmada nas bem-aventuranças do Evangelho, que temos de transformar em trabalho evangelizador incansável e em missão pascal inadiável, para que haja terra, tecto e trabalho para todos e onde não sejam mais necessárias armas assassinas, muros intransponíveis, ou lucros desonestos, mas sim casas, escolas e mesas de família, de estudo, de convívio e de trabalho, onde a vida possa nascer e crescer feliz.

5. A nossa Caminhada Diocesana neste ano pastoral, em que nos propomos praticar as obras de misericórdia, com alegria, firma os nossos passos e afirma a nossa fé no Ressuscitado, ouvindo a voz do Anjo junto do sepulcro vazio, que nos diz: «Não tenhais medo; sei que procurais Jesus, o Crucificado. Não está aqui: ressuscitou como tinha dito.
Vinde ver o lugar onde jazia. E ide depressa dizer aos discípulos: Ele ressuscitou» (cf Mt 28. 1-10).

Uma Santa e Feliz Páscoa para todos. Aleluia! Aleluia!

Porto, Igreja Catedral, 27 de Março, Páscoa da Ressurreição de 2016
António, Bispo do Porto



Fonte: Diocese do Porto


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