Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

terça-feira, 28 de novembro de 2017

VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MIANMAR






O Papa Francisco efectuou os primeiros encontros em Mianmar
   
  
Antecipando o encontro previsto para Quinta-feira, o Santo Padre encontrou-se na manhã de ontem com o general birmanês Min Aung Hlaing, comandante em Chefe dos Serviços de Defesa.
Durante o encontro "falou-se sobre a grande responsabilidade das autoridades do País neste momento de transição".

Hoje, depois de presidir a celebração da missa na sede do Arcebispado, o Papa Francisco teve um evento extra-oficial: o Pontífice recebeu 17 líderes das diferentes religiões presentes em Mianmar.
Tratou-se de uma reunião para ressaltar o valor que o País atribui ao diálogo inter-religioso – uma das finalidades desta 21ª Viagem Apostólica.
No encontro de 40 minutos estiveram presentes líderes budistas, hinduístas, muçulmanos, judeus, baptistas e anglicanos.
O Papa sublinhou que hoje existe uma tendência mundial para a uniformidade, a tornar tudo igual.
Mas a paz está na harmonia das diferenças.
A unidade não é uniformidade, cada um tem as suas riquezas para dar.

Depois do almoço, no Centro Internacional de Congressos, com a presença da Conselheira de Estado, Aung San Suu Kyi, realizou-se a cerimónia oficial de boas-vindas e o encontro com as autoridades.

Nesta ocasião, Francisco pronuncia o seu primeiro discurso em terras birmanesas, ressaltando que "o árduo processo de construção da paz e a reconciliação nacional só pode avançar através do compromisso com a justiça e do respeito pelos direitos humanos".

Essa justiça, segundo o Papa, deve brotar da sabedoria dos antigos que sempre definiram a justiça como a vontade de reconhecer a cada um aquilo que lhe é devido, enquanto os antigos profetas a consideraram como o fundamento da paz verdadeira e duradoura.

Referindo-se ao imenso trabalho a ser realizado no âmbito da reconciliação e integração nacional, Francisco recordou o papel privilegiado que cabe as comunidades religiosas do Mianmar.

As diferenças religiosas não devem ser fonte de divisão e dissidência, mas sim uma força em prol da unidade, do perdão, da tolerância e da sábia construção da nação”.



Sem usar a palavra “Rohingya”, o Papa Francisco apelou ao diálogo e à reconciliação.






VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MIANMAR E BANGLADESH
(26 DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2017)

ENCONTRO COM AS AUTORIDADES GOVERNAMENTAIS, COM A SOCIEDADE CIVIL E COM O CORPO DIPLOMÁTICO

DISCURSO DO SANTO PADRE

Centro Internacional de Congressos (Nay Pyi Taw)
Terça-feira, 28 de novembro de 2017

Senhora Conselheira de Estado,
Ilustres membros do Governo e Autoridades Civis,
Senhor Cardeal, Veneráveis Irmãos no Episcopado,
Distintos membros do Corpo Diplomático,
Senhoras e Senhores!

Expresso vivo reconhecimento pelo amável convite para visitar o Mianmar e agradeço à Senhora Conselheira de Estado as suas cordiais palavras.

Estou muito grato a todos aqueles que trabalharam incansavelmente para tornar possível esta visita.
Venho sobretudo para rezar com a pequena mas fervorosa comunidade católica da nação, para a confirmar na fé e encorajá-la no esforço de contribuir para o bem da nação.
Motivo de contentamento é o facto de a minha visita se realizar depois do estabelecimento formal das relações diplomáticas entre o Mianmar e a Santa Sé.
Apraz-me ver esta decisão como sinal do empenho da nação em prosseguir o diálogo e a cooperação construtiva dentro da comunidade internacional alargada, bem como em renovar o tecido da sociedade civil.

Gostaria também que a minha visita pudesse atingir toda a população do Mianmar e oferecer uma palavra de encorajamento a todos aqueles que estão a trabalhar para construir uma ordem social justa, reconciliada e inclusiva.
O Mianmar foi abençoado com o dom duma beleza extraordinária e numerosos recursos naturais, mas o maior tesouro dele é, sem dúvida, o seu povo, que sofreu muito e continua a sofrer por causa de conflitos civis e hostilidades que duraram muito tempo e criaram profundas divisões.
Uma vez que agora a nação está a trabalhar por restaurar a paz, a cura destas feridas não pode deixar de ser uma prioridade política e espiritual fundamental.
Só posso expressar apreço pelos esforços do Governo em enfrentar este desafio, em particular através da Conferência de Paz de Panglong, que reúne os representantes dos vários grupos numa tentativa para pôr fim à violência, criar confiança e garantir o respeito pelos direitos de quantos consideram esta terra como a sua casa.

Com efeito, o árduo processo de construção da paz e reconciliação nacional só pode avançar através do compromisso com a justiça e do respeito pelos direitos humanos.
A sabedoria dos antigos definiu a justiça como a vontade de reconhecer a cada um aquilo que lhe é devido, enquanto os antigos profetas a consideraram como o fundamento da paz verdadeira e duradoura.
Estas intuições, confirmadas pela trágica experiência de duas guerras mundiais, levaram à criação das Nações Unidas e à Declaração Universal dos Direitos Humanos como base dos esforços da comunidade internacional para promover a justiça, a paz e o progresso humano em todo o mundo e para resolver os conflitos através do diálogo, e não com o uso da força.
Neste sentido, a presença do Corpo Diplomático entre nós testemunha não só o lugar que o Mianmar ocupa entre as nações, mas também o compromisso do país em manter e perseguir estes princípios fundamentais.
O futuro do Mianmar deve ser a paz, uma paz fundada no respeito pela dignidade e os direitos de cada membro da sociedade, no respeito por cada grupo étnico e sua identidade, no respeito pelo Estado de Direito e uma ordem democrática que permita a cada um dos indivíduos e a todos os grupos – sem excluir nenhum – oferecer a sua legítima contribuição para o bem comum.

No trabalho imenso da reconciliação e integração nacional, as comunidades religiosas do Mianmar têm um papel privilegiado a desempenhar.
As diferenças religiosas não devem ser fonte de divisão e dissidência, mas sim uma força em prol da unidade, do perdão, da tolerância e da sábia construção da nação.
As religiões podem desempenhar um papel significativo na cura das feridas emocionais, espirituais e psicológicas daqueles que sofreram nos anos de conflito.
Impregnando-se de tais valores profundamente enraizados, elas podem ajudar a extirpar as causas do conflito, construir pontes de diálogo, procurar a justiça e ser uma voz profética para as pessoas que sofrem.
É um grande sinal de esperança o facto de que os líderes das várias tradições religiosas deste país se estejam comprometendo a trabalhar juntos, com espírito de harmonia e respeito mútuo, pela paz, pela ajuda aos pobres e pela educação nos valores religiosos e humanos autênticos.
Quando procuram construir uma cultura do encontro e da solidariedade, eles contribuem para o bem comum e colocam as bases morais indispensáveis para um futuro de esperança e prosperidade para as gerações vindouras.

Hoje aquele futuro já está nas mãos dos jovens da nação.
Os jovens são um dom a estimar e encorajar, um investimento que só produzirá um bom rendimento na base de oportunidades reais de emprego e duma educação de qualidade.
Trata-se de um requisito impelente de justiça intergeracional.
O futuro do Mianmar, num mundo em rápida evolução e interconexão, dependerá da formação dos seus jovens, não só nos campos técnicos, mas sobretudo na formação para os valores éticos de honestidade, integridade e solidariedade humanas, que podem garantir a consolidação da democracia e o crescimento da unidade e da paz em todos os níveis da sociedade.
De igual modo a justiça intergeracional requer que as futuras gerações herdem um meio ambiente que não esteja corrompido pela ganância e a depredação humana.
É indispensável que os nossos jovens não sejam espoliados da esperança e da possibilidade de empregar o seu idealismo e os seus talentos na projectação do futuro do seu país, melhor, da família humana inteira.

Senhora Conselheira de Estado, queridos amigos!

Nestes dias, quero encorajar os meus irmãos e irmãs católicos a perseverar na sua fé e a continuar a expressar a sua mensagem de reconciliação e fraternidade através de obras caritativas e humanitárias, de que toda a sociedade possa beneficiar.
Espero que, na respeitosa cooperação com os seguidores de outras religiões e com todos os homens e mulheres de boa vontade, contribuam para abrir uma nova era de concórdia e progresso para os povos desta amada nação.
Longa vida ao Mianmar!
Agradeço-vos pela atenção e, formulando votos das melhores felicidades no vosso serviço ao bem comum, sobre todos vós invoco as bênçãos divinas de sabedoria, força e paz.

Obrigado.



Fontes: Santa Sé; Rádio Vaticano; L'Osservatore Romano



Sem comentários:

Enviar um comentário