Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

sábado, 14 de abril de 2018

VENERÁVEL PADRE MANUEL NUNES FORMIGÃO




Figura proeminente na história de Fátima

(texto do Postulador da Causa de Beatificação)

   
   
Padre MANUEL NUNES FORMIGÃO, FIGURA PROEMINENTE NA HISTÓRIA DE FÁTIMA

Ao lado dos pastorinhos de Fátima, há uma outra figura que foi decisiva no evoluir dos acontecimentos ligados às aparições da Virgem na Cova da Iria entre o mês de Maio e o de Outubro.
Trata-se de alguém que soube penetrar no mundo de Lúcia e dos dois primos, que assegurou a veracidade das três crianças, que recolheu o conteúdo das celestiais comunicações, que garantiu a seriedade da ligação com a hierarquia eclesiástica e divulgou num jornal da Beira-Alta os extraordinários acontecimentos.
Num ambiente de reserva eclesial e de elevada turbulência política, esse personagem deu corpo e credibilidade à mensagem, envolta em mistério, mas identificada como evangélica, tal como os pastorinhos a testemunharam mediante cerrados interrogatórios e frequentes visitas do referido personagem.
Como mais idosa, Lúcia tornou-se, desde a primeira hora, o principal interlocutor.
Os relatos dos primeiros tempos devem-lhe muito.
Mas tudo correu o risco de ser sufocado, à nascença, se não fora a atitude prudente e critica desse personagem, que de incrédulo se tornou no primeiro e grande “apóstolo de Fátima”.
Foi precisa uma sensibilidade particular para elaborar minuciosos interrogatórios, ganhar a confiança das crianças, auscultar o entusiasmo do povo, prevenir as desconfianças intra-eclesiais, contornar as assanhadas atitudes dos adversários, que eram muitos e vários!

Estamos a falar do P. Manuel Nunes Formigão, do Patriarcado de Lisboa. Foi respeitando as crianças e sendo respeitado por elas que ele se tornou no confidente de confiança, em tudo quanto dizia respeito às aparições.
Depois da frieza com que presenciou o que se passava na Cova da Iria, no dia 13 de Setembro de 1917, este homem não parou mais na procura e na divulgação da mensagem transmitida pelos pastorinhos.
Apesar da indicação do Vigário em exercício do Patriarcado de Lisboa, a que Fátima então pertencia, de acompanhar os acontecimentos aí manifestos, o Dr. Formigão actuou, de própria iniciativa, com uma seriedade, dedicação e discrição verdadeiramente surpreendentes.
A partir do seu posto de professor em Santarém, não deixou de seguir de perto os pastorinhos, em particular a Jacinta, que conseguiu fosse para Lisboa, a fim de se tratar da doença, e Lúcia, que estimulou ao estudo e acompanhou até ao noviciado.

O fenómeno de Fátima começa aqui, no acurado estudo, na atenção crítica, na abertura inteligente deste homem da Igreja.
Formigão fez falar Lúcia.
Mas, sobretudo, foi por ele que Lúcia falou.
Ele foi interlocutor, intérprete, arauto, divulgador!
Cada um foi intermediário ao serviço de Alguém, a modo seu.
E nesta missão não se pode separar um do outro, tanto mais que Formigão jamais perdeu de vista “o segredo” que a Senhora tinha deixado para ele através da Jacinta, então no hospital de D. Estefânia.
Depois da morte tão prematura dos primos, com Lúcia a ser alvo de publicidades de vária ordem, o Dr. Formigão preocupou-se com a sua educação e com a sua protecção.
Conseguiu estadia em família de Lisboa, de onde ao fim de um mês foi prudente sair, por causa das frequentes agitações políticas e contra a Igreja.
Depois de ter estado alguns dias em casa de Formigão, em Santarém, Lúcia regressou a Aljustrel, de onde partiria, algum tempo depois, para o Asilo de Vilar no Porto.
Confrontado com um ambiente hostil por parte das autoridades civis e dos ideólogos de então, a primeira e grande tarefa do Dr. Formigão foi desmontar o esquema da ilusão, e a acusação de superstição.

Os pastorinhos tiveram no P. Formigão o suporte e o defensor.
Deles foi mestre e deles se tornou discípulo.
Depois dos estudos em Roma e da sua experiência no santuário de Lourdes (1909), ninguém como ele estava em condições de interpretar e apresentar o que durante seis meses ocorrera na Cova da Iria.
Com o ânimo dorido, depois do regicídio e pelo posicionamento anti-religioso da República, Formigão tinha-se dedicado ao acompanhamento de jovens estudantes em Santarém com a Associação Nun’Alvares, por ele fundada, com o objectivo de preparar as gerações do futuro.

Os fenómenos de Fátima, em 1917, surgem como um sol de esperança que dava sentido a toda a sua vida e à história de um povo, tão duramente provado pela guerra civil, pela guerra mundial e pela epidemia da pulmónica.
Acompanhando a sucessão dos acontecimentos, pedra a pedra, foi o verdadeiro “construtor” de Fátima, com interrogatórios minuciosos, com visitas frequentes, com relatos e crónicas, com livros e artigos, com a palavra escrita e oral.
O seu apurado sentido crítico e teológico bem mereceram a confiança dos bispos, nomeadamente, o de Leiria, D. José Alves Correia da Silva.
Além dos primeiros escritos sobre Fátima, do Estudo apologético dos Videntes e do Processo Canónico sobre as aparições, Formigão deixou uma vasta bibliografia sobre Fátima sob o pseudónimo de Visconde de Montelo.
Mais tarde, o Sr. Manuel Marto, pai de Jacinta e Francisco, reconheceu o papel singular de Formigão no caso de Fátima: «O Sr. Dr. Formigão é que foi a chave disso tudo».
E o Cardeal António Ribeiro, Patriarca de Lisboa, também testemunhou: «Sem ele, Fátima não seria o que é presentemente».

Por tudo isso e muito mais, ao falar do “Século de Fátima”, é de justiça não deixar no esquecimento a figura deste homem e deste padre do século XX, que se apagou e imolou para que Fátima fosse “um grande sinal de Deus” no meio de um mundo conturbado.

A. PINTO CARDOSO
Postulador da Causa de Beatificação




Fonte: Congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima


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