Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

ALGUMAS PERGUNTAS SOBRE A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA




Prof. Jorge Teixeira da Cunha


Não é só com dinheiro que se muda o mundo


O mundo muda-se com a criação de atitudes e de comportamentos sensatos
   
   
O dicionário de Oxford acaba de escolher a expressão “emergência climática” como palavra do ano.
Essa opção tem que ver com a popularidade e com o futuro de uma preocupação.
Por nossa parte, podemos perguntar o que tem a dizer a reflexão crente sobre um assunto que ganhou foros de primeira importância, tanto da opinião pública como da política e da universidade.

Parece que a emergência climática é um problema evidente.
De facto, dizem-nos que o planeta está em perigo, que as coisas nunca foram como são agora, do ponto de vista das mudanças do clima e assim por diante.
À vista desta suposta evidência só haveria duas opções: ou o negacionismo ou o alinhamento sem questionar.

A reflexão crente não costuma alinhar de uma forma tão crédula na última moda que ocupa as cabeças bem pensantes.
Por isso, perguntamos: temos elementos científicos suficientemente sólidos para falar de uma emergência climática, como se o mundo estivesse para colapsar nos próximos tempos?
Cremos que é dever da razão parar para pensar, antes de clamar aos quatro ventos sobre matérias sobre que não temos elementos ainda suficientes.
Isso por algumas razões.

Em primeiro, por uma razão científica.
De facto, não temos registos sobre o clima com amplitude suficiente para tirar conclusões.
Dizem-nos que temos queimado carbono numa proporção sem precedentes na história.
Mas perguntamos: quem nos garante isso?
A Terra não terá sofrido hecatombes no passado semelhantes ao que acontece nos últimos dois séculos?
Dois séculos comparados com a idade da Terra é coisa pouca para tirar conclusões.

Em segundo lugar, parece que devemos reflectir desde o horizonte da teologia.
E a pergunta é: a humanidade tem poder para destruir o planeta?
Pensar desse modo não constitui uma clara exorbitação do poder do ser humano?
Quando a humanidade cá chegou, o mundo já cá andava há muitos milhares de milhões de anos.
Por isso, de ponto de vista da fé cristã, o mais sensato é ouvir a interpelação que foi feita a Job: “Onde estavas tu quando foi lançado o fundamento do Universo?” (Job 38, 4).
A nosso ver, é necessário moderar a falsa sensação de poder que é dado à humanidade pela ciência e técnica moderna.
Esse poder não é tão grande como parece à primeira vista.
A ciência e a tecnologia de hoje dão à humanidade um delírio de omnipotência que não bom conselheiro para pensar sensatamente o mundo.
Isso é, em boa medida, a tentação apocalíptica de todos os tempos.

Mas então, perguntamos em terceiro lugar, não é necessário fazer nada?
Pelo contrário, é necessário fazer muito.
Desde logo, é necessário livrar-se de falsas ideias sobre os poderes humanos, pois a humanidade não tem poder sobre a origem do mundo.
Esse poder pertence a Deus.
Por isso, o que é pedido à humanidade é que se converta a uma espiritualidade ecológica e a uma ética da sobriedade.
A fé cristã é um óptimo caminho.
Cremos que é esse o sentido da luta do Papa Francisco: a partir do crescimento na fé no verdadeiro Deus, converter a razão e o estilo de vida.
Não é só com dinheiro que se muda o mundo.
O mundo muda-se com a criação de atitudes e de comportamentos sensatos.



Fonte: Editorial da Voz Portucalense, 28Nov2019


Sem comentários:

Enviar um comentário