O Papa Leão XIV
na catequese desta semana
Na catequese desta Quarta-feira, o Papa Leão XIV reflectiu sobre a revelação da traição de Judas, feita não para condenar, mas para ensinar que o amor, quando sincero, não pode ocultar a verdade. A esperança é esta, disse o Papa: "saber que, embora possamos fracassar, Deus nunca falha. Ainda que possamos trair, Ele não se cansa de nos amar".
Deu sequência ao novo ciclo de catequeses iniciado na semana passada sobre o mistério pascal e "seguindo os passos de Jesus nos últimos dias da sua vida", em particular, sobre a "cena íntima, dramática, mas também profundamente verdadeira" do momento em que, durante a Ceia Pascal, Jesus revelou que um dos Doze estava prestes a traí-lo. Mas ele não o fez para condenar ou humilhar, comentou o Pontífice, porque não apontou o culpado e nem sequer disse o nome de Judas: mas o fez para "salvar", ensinando que o amor, quando é sincero, não pode ocultar a verdade. "O Evangelho não nos ensina a negar o mal, mas a reconhecê-lo como dolorosa ocasião para renascer", continuou Leão XIV.
Deus, reflectiu o Papa, “quando vê o mal, não se vinga, entristece-se”.
“No fundo, é nisto que consiste a esperança: saber que, embora possamos fracassar, Deus nunca falha. Ainda que possamos trair, Ele não se cansa de nos amar. E se nos deixarmos alcançar por este amor – humilde, ferido, mas sempre fiel – então realmente poderemos renascer. E começar a viver não já como traidores, mas como filhos sempre amados”.
LEÃO XIV - AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro, Quarta-feira, 13 de Agosto de 2025
Ciclo de Catequese – Jubileu 2025. Jesus Cristo Nossa Esperança.
III. A Páscoa de Jesus. 2. A traição. “Porventura sou eu?”
Estimados irmãos e irmãs!
Continuemos o nosso caminho na escola do Evangelho, seguindo os passos de Jesus nos últimos dias da sua vida. Hoje, meditamos sobre uma cena íntima, dramática, mas também profundamente verdadeira: o momento em que, durante a Ceia Pascal, Jesus revela que um dos Doze está prestes a traí-lo: «Em verdade vos digo, um de vós que come comigo me há de trair» (Mc 14, 18).
Palavras fortes! Jesus não as pronuncia para condenar, mas sim para demonstrar que o amor, quando é verdadeiro, não pode prescindir da verdade. A sala no andar superior, onde pouco antes tudo tinha sido preparado com esmero, enche-se repentinamente de uma dor silenciosa, feita de perguntas, suspeitas, vulnerabilidades. Trata-se de uma dor que até nós conhecemos bem, quando nas relações mais queridas se insinua a sombra da traição.
No entanto, é surpreendente a maneira como Jesus fala sobre o que está prestes a acontecer. Não levanta a voz, não aponta o dedo, não pronuncia o nome de Judas. Fala de tal modo que cada um possa interrogar-se. E é exactamente o que acontece. São Marcos diz-nos: «Começaram a entristecer-se e a perguntar-lhe, um após outro: “Porventura sou eu?”» (Mc 14,19).
Prezados amigos, esta pergunta – “Porventura sou eu?” – é, talvez, uma das mais sinceras que podemos dirigir a nós mesmos. Não é a pergunta do inocente, mas do discípulo que se descobre frágil. Não é o clamor do culpado, mas o sussurro de quem, embora deseje amar, sabe que pode ferir. É a partir desta consciência que começa o caminho da salvação.
Jesus não denuncia para humilhar. Diz a verdade, porque quer salvar. E para ser salvo é preciso sentir: sentir que se está envolvido, sentir que se é amado não obstante tudo, sentir que o mal é real mas não tem a última palavra. Só quem conheceu a verdade de um amor profundo pode aceitar inclusive a ferida da traição.
A reacção dos discípulos não é raiva, mas tristeza. Não se indignam, entristecem-se. Trata-se de uma dor que nasce da possibilidade real de estar envolvido. E é precisamente esta tristeza, se acolhida com sinceridade, que se torna lugar de conversão. O Evangelho não nos ensina a negar o mal, mas a reconhecê-lo como dolorosa ocasião para renascer.
Além disso, Jesus acrescenta uma frase que nos inquieta e nos faz pensar: «Ai daquele por quem o Filho do Homem for traído! Melhor fora que nunca tivesse nascido!» (Mc 14, 21). São certamente palavras duras, mas devem ser bem compreendidas: não se trata de uma maldição, mas sim de um grito de dor. Em grego, aquele “ai” soa como uma lamentação, um “ai de mim”, uma exclamação de compaixão sincera e profunda.
Estamos habituados a julgar. Deus, ao contrário, aceita sofrer. Quando vê o mal, não se vinga, entristece-se. E aquele “melhor fora que nunca tivesse nascido” não é uma condenação infligida a priori, mas uma verdade que cada um de nós pode reconhecer: se renegarmos o amor que nos gerou, se traindo nos tornarmos infiéis a nós próprios, então realmente perderemos o sentido da nossa vinda ao mundo, excluindo-nos da salvação.
Contudo, precisamente ali, no ponto mais obscuro, a luz não se apaga. Aliás, começa a brilhar. Pois se reconhecermos o nosso limite, se nos deixarmos tocar pela dor de Cristo, então finalmente poderemos renascer. A fé não nos exime da possibilidade do pecado, mas oferece-nos sempre uma saída: a da misericórdia!
Jesus não se escandaliza perante a nossa fragilidade. Sabe bem que nenhuma amizade está imune ao risco da traição. Mas Jesus continua a ter confiança. Continua a sentar-se à mesa com os seus. Não renuncia a partir o pão até para quem o trairá. Eis a força silenciosa de Deus: nunca abandona a mesa do amor, nem sequer quando sabe que será deixado sozinho.
Caros irmãos e irmãs, hoje também nós podemos perguntar-nos, com sinceridade: “Porventura sou eu?”. Não para nos sentirmos acusados, mas para abrir um espaço à verdade no nosso coração. A salvação começa aqui: na consciência de que poderíamos ser nós a quebrar a confiança em Deus, mas que também podemos ser nós a aceitá-la, a preservá-la, a renová-la.
No fundo, é nisto que consiste a esperança: saber que, embora possamos fracassar, Deus nunca falha. Ainda que possamos trair, Ele não se cansa de nos amar. E se nos deixarmos alcançar por este amor – humilde, ferido, mas sempre fiel – então realmente poderemos renascer. E começar a viver não já como traidores, mas como filhos sempre amados.
Fontes: Santa Sé; Notícias do Vaticano
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