Leão XIV reflectiu sobre a diferença
entre optimismo e esperança
E convidou todos os peregrinos reunidos na Praça de São Pedro a redescobrir na Ressurreição a fonte viva que sacia a sede mais profunda do coração humano.
O Papa deteve-se sobre a tensão paradoxal presente na experiência humana:
“A nossa vida é cadenciada por inúmeros acontecimentos, cheios de diferenciadas nuances e experiências. Às vezes sentimo-nos alegres, outras tristes, realizados, tensos, gratificados ou desmotivados. Vivemos atarefados, concentramo-nos para obter resultados, até chegamos a atingir metas elevadas, prestigiadas. Vice-versa, sentimo-nos suspensos, precários, à espera de sucessos e reconhecimentos que demoram a chegar, ou que nunca chegam.”
E acrescentou:
“Gostaríamos de ser felizes, no entanto é muito difícil sê-lo de modo contínuo e sem sombras. Fazemos as contas com o nosso limite e, ao mesmo tempo, com o ímpeto irreprimível de o procurar ultrapassar. No íntimo, sentimos que nos falta sempre algo.”
O Papa sublinhou ainda que,
“Jesus ressuscitado não faz descer uma resposta “do alto”, mas torna-se nosso companheiro nesta viagem muitas vezes cansativa, dolorosa, misteriosa. Só Ele pode encher o nosso cantil vazio, quando a sede se torna insuportável.”
“Sem o seu amor, a viagem da vida tornar-se-ia um perambular sem meta, um erro trágico com um destino fracassado.”
“O Ressuscitado garante a meta, conduz-nos para casa, onde somos esperados, amados, salvos.”
LEÃO XIV - AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro, Quarta-feira, 15 de Outubro de 2025
Ciclo de Catequese – Jubileu 2025. Jesus Cristo, Nossa Esperança.
IV. A Ressurreição de Cristo e os desafios do mundo de hoje
1. O Ressuscitado, fonte viva da esperança humana
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Nas catequeses do Ano jubilar, até este momento, percorremos a vida de Jesus seguindo os Evangelhos, desde o seu nascimento até à morte e ressurreição. Assim, a nossa peregrinação na esperança encontrou o seu fundamento sólido, o seu caminho seguro. Agora, na última parte do caminho, deixaremos que o mistério de Cristo, culminante na Ressurreição, liberte a sua luz de salvação em contacto com a realidade humana e histórica actual, com as suas interrogações e desafios.
A nossa vida é cadenciada por inúmeros acontecimentos, cheios de diferenciadas nuances e experiências. Às vezes sentimo-nos alegres, outras tristes, realizados, tensos, gratificados ou desmotivados. Vivemos atarefados, concentramo-nos para obter resultados, até chegamos a atingir metas elevadas, prestigiadas. Vice-versa, sentimo-nos suspensos, precários, à espera de sucessos e reconhecimentos que demoram a chegar, ou que nunca chegam. Em síntese, experimentamos uma situação paradoxal: gostaríamos de ser felizes, no entanto é muito difícil sê-lo de modo contínuo e sem sombras. Fazemos as contas com o nosso limite e, ao mesmo tempo, com o ímpeto irreprimível de o procurar ultrapassar. No íntimo, sentimos que nos falta sempre algo.
Na verdade, não fomos criados para a falta, mas para a plenitude, para rejubilar com a vida, com a vida em abundância, segundo a expressão de Jesus no Evangelho de João (cf. 10, 10).
Este anseio abismal do nosso coração pode encontrar a sua resposta última não nos papéis, nem no poder, não no ter, mas na certeza de que existe alguém que se faz garante deste impulso constitutivo da nossa humanidade; na consciência de que esta espera não será desiludida nem frustrada. Esta certeza coincide com a esperança. Não significa pensar de modo optimista: muitas vezes o optimismo desilude-nos, vê implodir as nossas expectativas, enquanto que a esperança promete e cumpre.
Irmãs e irmãos, Jesus Ressuscitado é a garantia desta meta! Ele é a fonte que sacia a nossa aridez, a sede infinita de plenitude que o Espírito Santo instila no nosso coração. Com efeito, a Ressurreição de Cristo não é um simples acontecimento da história humana, mas o evento que a transformou a partir de dentro.
Pensemos numa fonte de água. Quais são as suas características? Sacia e refresca as criaturas, irriga a terra, as plantas, torna fértil e vivo o que, de outra forma, permaneceria árido. Refresca o viandante cansado, oferecendo-lhe a alegria de um oásis de vigor. Uma nascente aparece como uma dádiva gratuita para a natureza, para as criaturas, para os seres humanos. Sem água não se pode viver!
O Ressuscitado é a fonte viva que não torna árido nem sofre alterações. Permanece sempre pura e pronta para quem quer que tenha sede. E quanto mais saboreamos o mistério de Deus, tanto mais nos sentimos atraídos por Ele, sem nunca nos saciarmos completamente. No décimo livro das Confissões, Santo Agostinho apreende precisamente este anseio inesgotável do nosso coração, exprimindo-o no célebre Hino à beleza: «Infundiste a tua fragrância; e respirei e anseio por ti; saboreei, e tenho fome e sede; tocaste-me, e ardi de desejo da tua paz» (X, 27, 38).
Com a sua Ressurreição, Jesus garantiu-nos uma fonte permanente de vida: Ele é o Vivente (cf. Ap 1, 18), o amante da vida, o vitorioso sobre toda a morte. Por isso, é capaz de nos oferecer descanso ao longo do caminho terreno e de nos assegurar a perfeita quietude na eternidade. Só Jesus morto e ressuscitado responde às perguntas mais profundas do nosso coração: existe realmente um ponto de chegada para nós? A nossa existência tem sentido? E como pode ser resgatado o sofrimento de tantos inocentes?
Jesus ressuscitado não faz descer uma resposta “do alto”, mas torna-se nosso companheiro nesta viagem muitas vezes cansativa, dolorosa, misteriosa. Só Ele pode encher o nosso cantil vazio, quando a sede se torna insuportável.
E Ele é também o ponto de chegada do nosso caminho. Sem o seu amor, a viagem da vida tornar-se-ia um perambular sem meta, um erro trágico com um destino fracassado. Somos criaturas frágeis! O erro faz parte da nossa humanidade, é a ferida do pecado que nos faz cair, renunciar, desesperar. Ressuscitar, pelo contrário, significa levantar-se e pôr-se de pé. O Ressuscitado garante a meta, conduz-nos para casa, onde somos esperados, amados, salvos. Percorrer o caminho com Ele ao nosso lado significa experimentar que somos sustentados não obstante tudo, saciados e revigorados nas provações e nas fadigas que, como pedras pesadas, ameaçam bloquear ou desviar a nossa história.
Caríssimos, da Ressurreição de Cristo brota a esperança que nos faz saborear, apesar do cansaço da vida, uma profunda e alegre quietude: aquela paz que só Ele nos poderá conceder no fim, sem fim.
Fontes: Santa Sé; Notícias do Vaticano
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