No
passado dia 2 de Agosto o Papa Francisco retomou as catequeses
habituais das Quartas
O
Papa Francisco começou a sua reflexão recordando que nos tempos
modernos praticamente desapareceu o fascínio pelos antigos ritos do
Baptismo, assim como alegorias que tinham um grande significado para
o homem antigo, como a orientação das Igrejas para o Oriente,
“lugar onde as trevas são vencidas pela primeira luz da aurora,
evocando-nos Cristo, Sol que surgiu do alto no horizonte do mundo."
No
entanto, permanece intacta em seu significado – observou o Papa –
“a profissão de fé, feita segundo a interrogação
baptismal, que é própria da celebração de alguns sacramentos”.
O
texto integral da catequese do dia 2 de Agosto de 2017:
Bom
dia, dilectos irmãos e irmãs!
Outrora
as igrejas orientavam-se para o Leste.
Entrava-se
no edifício sagrado por uma porta aberta para o Ocidente e,
caminhando pela nave, dirigia-se rumo ao Oriente.
Era
um símbolo importante para o homem antigo, uma alegoria que ao longo
da história decaiu progressivamente.
Nós,
homens da época moderna, muito menos habituados a captar os grandes
sinais do cosmos, quase nunca nos damos conta de um pormenor deste
tipo.
O
Ocidente é o ponto cardeal do pôr do sol, onde a luz desfalece.
O
Oriente, ao contrário, é o lugar onde as trevas são vencidas pela
primeira luz da aurora, evocando-nos Cristo, Sol que surgiu do alto
no horizonte do mundo (cf. Lc 1, 78).
Os
antigos ritos do Baptismo previam que os catecúmenos emitissem a
primeira parte da sua profissão de fé, com o olhar voltado para o
Ocidente.
E
naquela postura, eram interrogados:
“Renunciais
a Satanás, ao seu serviço e às suas obras?”.
E
os futuros cristãos repetiam em coro:
“Renuncio!”.
Depois,
iam rumo à abside, na direcção do Oriente, onde nasce a luz, e os
candidatos ao Baptismo eram novamente interrogados:
“Acreditais
em Deus Pai, Filho e Espírito Santo?”.
E
desta vez, respondiam:
“Creio!”.
Nos
tempos modernos perdeu-se parcialmente o fascínio deste rito:
perdemos a sensibilidade à linguagem do cosmos.
Naturalmente,
permaneceu-nos a profissão de fé, feita segundo a interrogação
baptismal, que é própria da celebração de alguns sacramentos.
Contudo,
ela conserva-se intacta no seu significado.
O
que quer dizer ser cristão?
Significa
olhar para a luz, continuar a fazer a profissão de fé na luz,
enquanto o mundo estiver envolvido pela noite e pelas trevas.
Os
cristãos não estão isentos das trevas, externas e inclusive
internas.
Não
vivem fora do mundo, mas pela graça de Cristo, recebida no Baptismo,
são homens e mulheres “orientados”: não acreditam na escuridão,
mas na luminosidade do dia; não sucumbem à noite, mas esperam na
aurora; não são derrotados pela morte, mas anseiam por ressuscitar;
não são vencidos pelo mal, porque confiam sempre nas possibilidades
infinitas do bem.
E
esta é a nossa esperança cristã.
A
luz de Jesus, a salvação que nos traz Jesus com a sua luz que nos
salva das trevas.
Nós
somos aqueles que acreditam que Deus é Pai: esta é a luz!
Não
somos órfãos, temos um Pai, e o nosso Pai é Deus.
Cremos
que Jesus desceu ao meio de nós, caminhou na nossa própria vida,
tornando-se companheiro sobretudo dos mais pobres e frágeis: esta é
a luz!
Cremos
que o Espírito Santo age incessantemente para o bem da humanidade e
do mundo, e até as maiores dores da história serão superadas: esta
é a esperança que nos desperta todas as manhãs!
Cremos
que cada afecto, cada amizade, cada desejo bom, cada amor, até os
mais ténues e descuidados, um dia encontrarão o seu cumprimento em
Deus: esta é a força que nos leva a abraçar com entusiasmo a nossa
vida de todos os dias!
E
esta é a nossa esperança: viver na esperança, na luz, na luz de
Deus Pai, na luz de Jesus Salvador, na luz do Espírito Santo que nos
impele a ir em frente na vida.
Além
disso, há outro sinal muito bonito da liturgia baptismal que nos
recorda a importância da luz.
No
final do rito, aos pais — se se trata de uma criança — ou ao
próprio baptizado — se for um adulto — é entregue uma vela,
cuja chama se acende no círio pascal.
Trata-se
do grande círio que, na noite de Páscoa, entra na igreja
completamente escura para manifestar o mistério da Ressurreição de
Jesus; daquele círio todos acendem a própria candeia e transmitem a
chama aos vizinhos: neste sinal está a lenta propagação da
Ressurreição de Jesus na vida de todos os cristãos.
A
vida da Igreja — direi uma palavra um pouco forte — é
contaminação de luz.
Quanto
mais luz de Jesus nós cristãos tivermos, quanto mais luz de Jesus
houver na vida da Igreja, tanto mais ela será viva.
A
vida da Igreja é contaminação de luz.
A
exortação mais bonita que podemos dirigir uns aos outros é a de
nos recordarmos do nosso Baptismo.
Gostaria
de vos perguntar: quantos de vós se recordam da data do seu
Baptismo?
Não
respondais, porque alguns terão vergonha!
Pensai,
e se não vos recordais, hoje tendes uma tarefa para fazer em casa:
vai ter com a tua mãe, o teu pai, a tua tia, o teu tio, a tua avó,
o teu avô e pergunta-lhes:
“Qual
é a data do meu Baptismo?”.
E
não voltes a esquecê-la! Está claro? Fareis isto?
O
compromisso de hoje é aprender a recordar-se da data do Baptismo,
que é o dia do renascimento, é a data da luz, o dia em que —
permiti-me esta palavra — fomos contaminados pela luz de Cristo.
Nós
nascemos duas vezes: a primeira, para a vida natural; a segunda,
graças ao encontro com Cristo, na pia baptismal.
Ali
morremos para a morte, a fim de vivermos como filhos de Deus neste
mundo.
Ali
tornamo-nos humanos, como nunca o teríamos imaginado.
Eis
por que razão todos nós devemos propagar o perfume do Crisma, com o
qual fomos marcados no dia do nosso Baptismo.
Em
nós vive e age o Espírito de Jesus, primogénito de muitos irmãos,
de todos aqueles que se opõem à inevitabilidade das trevas e da
morte.
Como
é grande a graça, quando um cristão se torna verdadeiramente um
“cristo-foros”, ou seja, “portador de Jesus” no mundo!
Sobretudo
para aqueles que atravessam situações de luto, de desespero, de
trevas e de ódio.
E
isto pode ser entendido a partir de muitos pequenos detalhes: da luz
que o cristão conserva nos olhos, do fundo de serenidade que não é
manchado nem sequer nos dias mais complicados, do desejo de recomeçar
a amar, até quando experimentamos muitas desilusões.
No
futuro, quando for escrita a história dos nossos dias, o que se dirá
de nós?
Que
fomos capazes de esperança, ou então que pusemos a nossa luz
debaixo do alqueire?
Se
formos fiéis ao nosso Baptismo, propagaremos a luz da esperança, o
Baptismo é o início da esperança, aquela esperança de Deus, e
poderemos transmitir razões de vida às gerações vindouras.
Papa
Francisco
AUDIÊNCIA
GERAL
Sala
Paulo VI, Quarta-feira, 2 de Agosto de 2017
Fontes:
Santa Sé; Rádio Vaticano
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