Foi
o tema da catequese do Papa Francisco na Quarta-feira desta semana
Segundo
a mentalidade da época, Jesus, profeta, não deveria permitir que a
mulher se inclinasse sobre os seus pés para lavá-los com perfume; a
separação entre o santo e o pecador, entre o puro e o impuro,
deveria ser nítida.
“Desde
o início do seu ministério na Galileia, Ele aproxima-se dos
leprosos, dos endemoninhados, de todos os doentes e dos
marginalizados.
Onde
há uma pessoa que sofre, Jesus cuida dela e aquele sofrimento
torna-se seu.”.
É
este o comportamento que caracteriza o cristianismo: a misericórdia.
Jesus
sente compaixão.
Onde
houver um homem ou uma mulher sofrendo, Jesus vai querer a sua cura,
a sua libertação e a sua vida plena.
E
é por isso, explicou o Papa, que Ele acolhe os pecadores de braços
abertos.
“Quanta
gente perdura ainda hoje numa vida errada, porque não encontra
ninguém disposto a olhar para ele ou para ela de modo diverso, com
os olhos, melhor, com o coração de Deus, ou seja, olhar para eles
com esperança.
Jesus,
ao contrário, vê uma possibilidade de ressurreição até em
quantos acumularam muitas escolhas equivocadas”.
Texto
integral da catequese do Santo Padre:
PAPA
FRANCISCO
AUDIÊNCIA
GERAL
Sala
Paulo VI
Quarta-feira,
9 de Agosto de 2017
Bom
dia, prezados irmãos e irmãs!
Ouvimos
a reacção dos comensais de Simão, o fariseu:
«Quem
é este homem que até perdoa os pecados?» (Lc 7, 49).
Jesus
acabou de fazer um gesto escandaloso.
Uma
mulher da cidade, que todos conheciam como uma pecadora, entrou na
casa de Simão, inclinou-se aos pés de Jesus e derramou sobre os
seus pés o óleo perfumado.
Todos
aqueles que estavam ali à mesa murmuravam: se Jesus é um profeta,
não deveria aceitar gestos deste tipo de uma mulher como aquela.
Estas
mulheres, desventuradas, que só serviam para ser encontradas às
escondidas, inclusive pelos chefes, ou para ser lapidadas.
Segundo
a mentalidade dessa época, entre o santo e o pecador, entre o puro e
o impuro, a separação devia ser clara.
Mas
a atitude de Jesus é diferente.
Desde
o início do seu ministério na Galileia, Ele aproxima-se dos
leprosos, dos endemoninhados, de todos os doentes e dos
marginalizados.
Um
comportamento deste tipo não era nada habitual, a ponto que esta
simpatia de Jesus pelos excluídos, pelos “intocáveis”, será
uma das atitudes que mais desconcertarão os seus contemporâneos.
Onde
há uma pessoa que sofre, Jesus cuida dela e aquele sofrimento
torna-se seu.
Jesus
não apregoa que a condição de pena deve ser suportada com
heroísmo, à maneira dos filósofos estóicos.
Jesus
compartilha a dor humana, e quando se depara com ela, do seu íntimo
irrompe aquela atitude que caracteriza o cristianismo: a
misericórdia.
Diante
da dor humana, Jesus sente misericórdia; o coração de Jesus é
misericordioso.
Jesus
experimenta compaixão.
Literalmente:
Jesus sente tremer as suas entranhas.
Quantas
vezes nos Evangelhos encontramos reacções deste género.
O
coração de Cristo encarna e revela o coração de Deus, e onde há
um homem ou uma mulher que sofre, Ele quer a sua cura, a sua
libertação, a sua vida plena.
É
por isso que Jesus abre de par em par os braços aos pecadores.
Quanta
gente perdura ainda hoje numa vida errada, porque não encontra
ninguém disposto a olhar para ele ou para ela de modo diverso, com
os olhos, melhor, com o coração de Deus, ou seja, olhar para
eles com esperança.
Jesus,
ao contrário, vê uma possibilidade de ressurreição até em
quantos acumularam muitas escolhas equivocadas.
Jesus
está sempre ali, com o coração aberto; escancara aquela
misericórdia que tem no coração; perdoa, abraça, compreende,
aproxima-se: Jesus é assim!
Às
vezes esquecemos que para Jesus não se tratou de um amor fácil,
barato.
Os
Evangelhos frisam as primeiras reacções negativas em relação a
Jesus, precisamente quando Ele perdoa os pecados de um homem (cf. Mc
2, 1-12).
Era
um homem que sofria duplamente: porque não podia caminhar e porque
se sentia “errado”.
E
Jesus entende que a segunda dor é maior do que a primeira, a ponto
que o recebe imediatamente com um anúncio de libertação:
«Filho,
os teus pecados te são perdoados!» (v. 5).
Liberta-o
daquela sensação de opressão de se sentir errado.
Então,
alguns escribas — aqueles que se julgam perfeitos: penso em tantos
católicos que se consideram perfeitos e desprezam os outros... isto
é triste... — alguns escribas ali presentes escandalizam-se com
aquelas palavras de Jesus, que soam como uma blasfémia, porque
somente Deus pode perdoar os pecados.
Nós
que estamos habituados a experimentar o perdão dos pecados, talvez
“a um preço muito baixo”, deveríamos recordar-nos de vez em
quando de quanto custamos ao amor de Deus.
Cada
um de nós custou bastante: a vida de Jesus!
Ele
tê-la-ia dado até por um só de nós.
Jesus
não vai para a cruz porque cura os enfermos, porque prega a
caridade, porque proclama as bem-aventuranças.
O
Filho de Deus vai para a cruz sobretudo porque perdoa os pecados,
porque quer a libertação total e definitiva do coração do homem.
Porque
não aceita que o ser humano consuma toda a sua existência com esta
“tatuagem” indelével, com o pensamento de não poder ser
recebido pelo coração misericordioso de Deus.
E
com estes sentimentos Jesus vai ao encontro dos pecadores, que somos
todos nós.
Assim
os pecadores são perdoados.
Não
só tranquilizados a nível psicológico, porque libertados do
sentido de culpa.
Jesus
faz muito mais: oferece às pessoas que erraram, a esperança de
uma vida nova.
“Mas
Senhor, eu sou um miserável” — “Olha para a frente e Eu dou-te
um coração novo”.
Esta
é a esperança que Jesus nos oferece.
Uma
vida marcada pelo amor.
Mateus,
o publicano, torna-se apóstolo de Cristo: Mateus, que é um traidor
da pátria, um explorador do povo.
Zaqueu,
rico corrupto — ele certamente tinha um diploma em suborno — de
Jericó, transforma-se num benfeitor dos pobres.
A
mulher da Samaria, que teve cinco maridos e agora convive com outro,
ouve a promessa da “água viva” que poderá jorrar para sempre
dentro dela (cf. Jo 4, 14).
Deste
modo Jesus muda o coração; faz assim com todos nós.
É
bom pensar que Deus não escolheu como primeira massa, para formar a
sua Igreja, pessoas que nunca erravam.
A
Igreja é um povo de pecadores que experimentam a misericórdia e o
perdão de Deus.
Pedro
entendeu mais verdades sobre si mesmo ao canto do galo, do que dos
seus impulsos de generosidade, que lhe enchiam o peito, levando-o a
sentir-se superior em relação aos outros.
Irmãos
e irmãs, todos nós somos pobres pecadores, necessitados da
misericórdia de Deus, que tem a força de nos transformar e
restituir esperança, e isto todos os dias.
E
fá-lo!
E
às pessoas que entenderam esta verdade basilar, Deus confia a missão
mais bonita do mundo, ou seja, o amor aos irmãos e às irmãs, e o
anúncio de uma misericórdia que Ele não nega a ninguém.
E
esta é a nossa esperança.
Vamos
em frente com esta confiança no perdão, no amor misericordioso de
Jesus.
Fontes:
Santa Sé; Rádio Vaticano
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