Dando
continuidade às catequeses sobre a esperança, o Papa Francisco
falou da relação entre a esperança e a memória da vocação
O
Santo Padre centrou sua catequese nesta Quarta-feira principalmente
na questão da relação entre a memória e a esperança, com
particular referência à memória da vocação.
E
para o ilustrar, usou como exemplo o chamamento dos primeiros
discípulos de Jesus, uma experiência que ficou de tal forma
impressa nas suas memórias, que o evangelista João, embora já
idoso, recordava ainda com precisão a hora do evento: "Eram
cerca de 4 horas da tarde".
No
final da audiência, a propósito do Dia de oração pelo cuidado da
criação, fez um apelo:
“Depois
de amanhã, 1 de Setembro, será celebrado o Dia de oração pelo
cuidado da criação.
Para
essa ocasião, eu e o meu irmão Bartolomeu, Patriarca Ecuménico de
Constantinopla preparamos juntos uma Mensagem.
Nela
convidamos todos a assumir uma atitude respeitadora e responsável em
relação à criação.
Além
disso fazemos apelo, a quantos desempenham papéis influentes, a
ouvir o grito da terra e dos pobres, que mais sofrem por causa dos
desequilíbrios ecológicos.”
Texto
integral da catequese do Santo Padre:
PAPA
FRANCISCO
AUDIÊNCIA
GERAL
Quarta-feira,
30 de Agosto de 2017
Estimados
irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje
gostaria de voltar a falar sobre um tema importante: a relação
entre a esperança e a memória, com particular referência à
memória da vocação.
E
tomo como ícone a chamada dos primeiros discípulos de Jesus.
Esta
experiência permaneceu tão impressa na sua memória que um deles
até registou a hora: «Eram cerca das quatro da tarde» (Jo 1, 39).
O
evangelista João narra o episódio como uma recordação nítida de
juventude, que permaneceu intacta na sua memória de idoso: porque
João escreveu isto quando já era idoso.
O
encontro deu-se perto do rio Jordão, onde João Baptista baptizava;
e aqueles jovens galileus tinham escolhido o Baptista como guia
espiritual.
Um
dia veio Jesus, e fez-se baptizar no rio.
No
dia seguinte passou novamente e então o Baptizador — isto é, João
o Baptista — disse a dois dos seus discípulos: «Eis o cordeiro de
Deus!» (v. 36).
E
para aqueles dois foi a “centelha”.
Deixam
o seu primeiro mestre e põem-se no seguimento de Jesus.
No
caminho, Ele volta-se para eles e formula a pergunta decisiva: «O
que procurais?» (v. 38).
Jesus
aparece nos Evangelhos como um perito do coração humano.
Naquele
momento encontrara dois jovens em busca, sadiamente inquietos.
Com
efeito, não há uma juventude satisfeita, sem uma pergunta acerca do
sentido?
Os
jovens que nada procuram não são jovens, estão na reforma,
envelheceram antes do tempo.
É
triste ver jovens aposentados...
E
Jesus, no Evangelho inteiro, em todos os encontros que lhe
aconteceram ao longo da estrada, aparece como um “incendiário”
de corações.
Eis
aquela sua pergunta que procura fazer emergir o desejo de vida e de
felicidade que cada jovem tem dentro: “o que buscas?”.
Também
eu hoje gostaria de perguntar aos jovens presentes na praça e aos
que ouvem através dos meios de comunicação: “Tu, que és jovem,
o que procuras? O que buscas no teu coração?”.
A
vocação de João e de André começa assim: é o início de uma
amizade com Jesus tão forte que impõe uma comunhão de vida e de
paixões com Ele.
Os
dois discípulos começam a ficar com Jesus e de repente se
transformam em missionários, porque quando acaba o encontro não
voltam tranquilos para casa: de maneira que os seus respectivos
irmãos — Simão e Tiago — logo são envolvidos no seguimento.
Foram
ter com eles e disseram: “Encontrámos o Messias, encontrámos um
grande profeta”: dão a notícia.
São
missionários daquele encontro.
Foi
um encontro tão comovedor, tão feliz que os discípulos recordarão
para sempre aquele dia que iluminou e orientou a sua juventude.
Como
se descobre a própria vocação neste mundo?
Ela
pode ser descoberta de muitos modos, mas esta página do Evangelho
diz-nos que o primeiro indicador é a alegria do encontro com Jesus.
Matrimónio,
vida consagrada, sacerdócio: cada vocação verdadeira tem início
com um encontro com Jesus que nos oferece uma alegria e uma esperança
nova; e nos conduz inclusive através de provações e dificuldades,
a um encontro cada vez mais pleno, que cresce, torna-se maior, o
encontro com Ele e a plenitude de alegria.
O
Senhor não quer homens e mulheres que caminham atrás d’Ele de má
vontade, sem ter no coração o vento da alegria.
A
vós, que estais na praça, pergunto — cada um responda a si mesmo
— tendes o vento da alegria no coração?
Cada
um se questione: “Tenho dentro de mim, no coração, o vento da
alegria?”.
Jesus
quer pessoas que sentiram o facto de que estar com Ele provoca uma
felicidade imensa, que se pode renovar todos os dias da vida.
Um
discípulo do Reino de Deus que não é alegre não evangeliza este
mundo, é alguém triste.
Não
nos tornamos pregadores de Jesus afinando as armas da retórica:
podes falar, falar, falar mas se não tens algo... Como se tornar
pregadores de Jesus? — Conservando nos olhos o brilho da felicidade
verdadeira.
Vemos
muitos cristãos, até no meio de nós, que com os olhos nos
transmitem a alegria da fé: com os olhos!
Por
este motivo o cristão — assim como a Virgem Maria — conserva a
chama do seu amor: apaixonados por Jesus.
Certamente,
há provações na vida, momentos em que é preciso ir em frente não
obstante o frio e os ventos contrários, apesar de tantas amarguras.
Contudo
os cristãos conhecem a estrada que conduz àquele fogo sagrado que
os acendeu de uma vez para sempre.
Mas
por favor, recomendo: não nos deixemos levar por pessoas desiludidas
e infelizes; não escutemos quem aconselha cinicamente não cultivar
esperanças na vida; não confiemos em quem abafa o surgir de
qualquer entusiasmo, dizendo que empreendimento algum vale o
sacrifício de uma vida inteira; não escutemos os “velhos” de
coração que sufocam a euforia juvenil.
Vamos
ter com velhos que têm os olhos brilhantes de esperança!
Cultivemos
utopias sadias: Deus quer que sejamos capazes de sonhar como Ele e
com Ele, enquanto caminhamos muito atentos à realidade.
Sonhar
um mundo diferente.
E
se um sonho se apaga, voltar a sonhá-lo de novo, sorvendo com
esperança da memória das origens, aquelas brasas, que talvez depois
de uma vida não tão boa, se esconderam sob as cinzas do primeiro
encontro com Jesus.
Portanto,
eis uma dinâmica fundamental da vida cristã: recordar-se de Jesus.
Paulo
dizia ao seu discípulo: «Recorda-te de Jesus Cristo» (2 Tm 2, 8);
este é o conselho do grande São Paulo: «Recorda-te de Jesus
Cristo».
Recordar-se
de Jesus, do fogo de amor com o qual um dia concebemos a nossa vida
como um projecto de bem, e com esta chama reavivar a nossa esperança.
Fontes:
Santa Sé; Rádio Vaticano
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