A
pessoa que sofre deve ser «respeitada na sua dignidade e sempre
colocada no centro do processo de tratamento»
Recordou
o Papa Francisco na mensagem para o XXVI Dia Mundial do Doente que se celebra hoje, 11 de Fevereiro de 2018, festa litúrgica de Nossa Senhora de
Lurdes.
O
Papa também frisou o trabalho das estruturas de saúde católicas e
pediu para não penalizar os pobres.
Tenhamos
presente o apelo do Santo Padre:
“Unamo-nos
todos numa súplica insistente elevada à Mãe do Senhor, para que
cada membro da Igreja viva com amor a vocação ao serviço da vida e
da saúde.”
Na
nossa Diocese, ontem, pelas 21H30, na Igreja de Santo António das
Antas, realizou-se uma Vigília de Oração, presidida por D. António
Taipa, para celebrar o Dia Mundial do Doente.
“A
vocação materna da Igreja - como Maria, cuidar os feridos pela
vida”, foi tema deste momento de oração.
MENSAGEM
DE SUA SANTIDADE FRANCISCO
PARA
O XXVI DIA MUNDIAL DO DOENTE
(11
DE FEVEREIRO DE 2018)
Mater
Ecclesiae: «“Eis o teu filho! (…) Eis a tua mãe!”
E,
desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua»
(Jo
19, 26-27)
Queridos
irmãos e irmãs!
O
serviço da Igreja aos doentes e a quantos cuidam deles deve
continuar, com vigor sempre renovado, por fidelidade ao mandato do
Senhor (cf. Lc 9, 2-6, Mt 10, 1-8; Mc 6, 7-13) e seguindo o exemplo
muito eloquente do seu Fundador e Mestre.
Este
ano, o tema do Dia do Doente é tomado das palavras que Jesus, do
alto da cruz, dirige a Maria, sua mãe, e a João: «“Eis o teu
filho! (…) Eis a tua mãe!” E, desde aquela hora, o discípulo
acolheu-A como sua» (Jo 19, 26-27).
1.
Estas palavras do Senhor iluminam profundamente o mistério da Cruz.
Esta
não representa uma tragédia sem esperança, mas o lugar onde Jesus
mostra a sua glória e deixa amorosamente as suas últimas vontades,
que se tornam regras constitutivas da comunidade cristã e da vida de
cada discípulo.
Em
primeiro lugar, as palavras de Jesus dão origem à vocação
materna de Maria em relação a toda a humanidade.
Será,
de uma forma particular, a mãe dos discípulos do seu Filho e
cuidará deles e do seu caminho.
E,
como sabemos, o cuidado materno dum filho ou duma filha engloba tanto
os aspectos materiais como os espirituais da sua educação.
O
sofrimento indescritível da cruz trespassa a alma de Maria (cf. Lc
2, 35), mas não a paralisa.
Pelo
contrário, lá começa para Ela um novo caminho de doação, como
Mãe do Senhor.
Na
cruz, Jesus preocupa-Se com a Igreja e toda a humanidade, e Maria é
chamada a partilhar esta mesma preocupação.
Os
Actos dos Apóstolos, ao descrever a grande efusão do Espírito
Santo no Pentecostes, mostram-nos que Maria começou a desempenhar a
sua tarefa na primeira comunidade da Igreja.
Uma
tarefa que não mais terá fim.
2.
O discípulo João, o amado, representa a Igreja, povo messiânico.
Ele
deve reconhecer Maria como sua própria mãe.
E,
neste reconhecimento, é chamado a recebê-La, contemplar n’Ela o
modelo do discipulado e também a vocação materna que Jesus Lhe
confiou incluindo as preocupações e os projectos que isso implica:
a Mãe que ama e gera filhos capazes de amar segundo o mandamento de
Jesus.
Por
isso a vocação materna de Maria, a vocação de cuidar dos seus
filhos, passa para João e toda a Igreja.
Toda
a comunidade dos discípulos fica envolvida na vocação materna de
Maria.
3.
João, como discípulo que partilhou tudo com Jesus, sabe que o
Mestre quer conduzir todos os homens ao encontro do Pai.
Pode
testemunhar que Jesus encontrou muitas pessoas doentes no espírito,
porque cheias de orgulho (cf. Jo 8, 31-39), e doentes no corpo (cf.
Jo 5, 6).
A
todos, concedeu misericórdia e perdão e, aos doentes, também a
cura física, sinal da vida abundante do Reino, onde se enxugam todas
as lágrimas.
Como
Maria, os discípulos são chamados a cuidar uns dos outros; mas não
só: eles sabem que o Coração de Jesus está aberto a todos, sem
exclusão.
A
todos deve ser anunciado o Evangelho do Reino, e a caridade dos
cristãos deve estender-se a todos quantos passam necessidade,
simplesmente porque são pessoas, filhos de Deus.
4.
Esta vocação materna da Igreja para com as pessoas necessitadas
e os doentes concretizou-se, ao longo da sua história
bimilenária, numa série riquíssima de iniciativas a favor dos
enfermos.
Esta
história de dedicação não deve ser esquecida.
Continua
ainda hoje, em todo o mundo.
Nos
países onde existem sistemas de saúde pública suficientes, o
trabalho das congregações católicas, das dioceses e dos seus
hospitais, além de fornecer cuidados médicos de qualidade, procura
colocar a pessoa humana no centro do processo terapêutico e
desenvolve a pesquisa científica no respeito da vida e dos valores
morais cristãos.
Nos
países onde os sistemas de saúde são insuficientes ou
inexistentes, a Igreja esforça-se por oferecer às pessoas o máximo
possível de cuidados da saúde, por eliminar a mortalidade infantil
e debelar algumas pandemias.
Em
todo o lado, ela procura cuidar, mesmo quando não é capaz de curar.
A
imagem da Igreja como «hospital de campo», acolhedora de todos os
que são feridos pela vida, é uma realidade muito concreta, porque,
nalgumas partes do mundo, os hospitais dos missionários e das
dioceses são os únicos que fornecem os cuidados necessários à
população.
5.
A memória da longa história de serviço aos doentes é motivo de
alegria para a comunidade cristã e, de modo particular, para aqueles
que actualmente desempenham esse serviço.
Mas
é preciso olhar o passado sobretudo para com ele nos enriquecermos.
Dele
devemos aprender: a generosidade até ao sacrifício total de muitos
fundadores de institutos ao serviço dos enfermos; a criatividade,
sugerida pela caridade, de muitas iniciativas empreendidas ao longo
dos séculos; o empenho na pesquisa científica, para oferecer aos
doentes cuidados inovadores e fiáveis.
Esta
herança do passado ajuda a projectar bem o futuro.
Por
exemplo, a preservar os hospitais católicos do risco duma
mentalidade empresarial, que em todo o mundo quer colocar o
tratamento da saúde no contexto do mercado, acabando por descartar
os pobres.
Ao
contrário, a inteligência organizativa e a caridade exigem que a
pessoa do doente seja respeitada na sua dignidade e sempre colocada
no centro do processo de tratamento.
Estas
orientações devem ser assumidas também pelos cristãos que
trabalham nas estruturas públicas, onde são chamados a dar, através
do seu serviço, bom testemunho do Evangelho.
6.
Jesus deixou, como dom à Igreja, o seu poder de curar: «Estes
sinais acompanharão aqueles que acreditarem: (...) hão de impor as
mãos aos doentes e eles ficarão curados» (Mc 16, 17.18).
Nos
Actos dos Apóstolos, lemos a descrição das curas realizadas por
Pedro (cf. Act 3, 4-8) e por Paulo (cf. Act 14, 8-11).
Ao
dom de Jesus corresponde o dever da Igreja, bem ciente de que deve
pousar, sobre os doentes, o mesmo olhar rico de ternura e compaixão
do seu Senhor.
A
pastoral da saúde permanece e sempre permanecerá um dever
necessário e essencial, que se há de viver com um ímpeto renovado
começando pelas comunidades paroquiais até aos centros de
tratamento de excelência.
Não
podemos esquecer aqui a ternura e a perseverança com que muitas
famílias acompanham os seus filhos, pais e parentes, doentes
crónicos ou gravemente incapacitados.
Os
cuidados prestados em família são um testemunho extraordinário de
amor pela pessoa humana e devem ser apoiados com o reconhecimento
devido e políticas adequadas.
Portanto,
médicos e enfermeiros, sacerdotes, consagrados e voluntários,
familiares e todos aqueles que se empenham no cuidado dos doentes,
participam nesta missão eclesial.
É
uma responsabilidade compartilhada, que enriquece o valor do serviço
diário de cada um.
7.
A Maria, Mãe da ternura, queremos confiar todos os doentes no corpo
e no espírito, para que os sustente na esperança.
A
Ela pedimos também que nos ajude a ser acolhedores para com os
irmãos enfermos.
A
Igreja sabe que precisa duma graça especial para conseguir fazer
frente ao seu serviço evangélico de cuidar dos doentes.
Por
isso, unamo-nos todos numa súplica insistente elevada à Mãe do
Senhor, para que cada membro da Igreja viva com amor a vocação ao
serviço da vida e da saúde.
A
Virgem Maria interceda por este XXVI Dia Mundial do Doente, ajude as
pessoas doentes a viverem o seu sofrimento em comunhão com o Senhor
Jesus, e ampare aqueles que cuidam delas.
A
todos, doentes, agentes de saúde e voluntários, concedo de coração
a Bênção Apostólica.
Vaticano,
26 de Novembro – Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do
Universo – de 2017.
Franciscus
Fontes:
Santa Sé; Noticias do Vaticano; L’Osservatore Romano; Diocese
do Porto
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