Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

DESAFIOS ECLESIAIS DA PANDEMIA

 



Prof. Jorge Teixeira da Cunha


A pandemia é uma ocasião de aprofundar a nossa fé em Deus criador e redentor

   


A Conferência Episcopal Portuguesa publicou no passado dia 1 de Janeiro um documento intitulado: “Desafios pastorais da pandemia à Igreja em Portugal”. É um texto muito sofrido dos nossos pastores que queremos aqui apresentar como forma de prolongar o seu efeito nas nossas comunidades. A situação de ameaça à vida humana que nos afecta nos últimos meses é ocasião de grande perplexidade para todos, especialmente para o olhar crente, que não pode deixar de envolver Deus no assunto, e para o funcionamento das instituições que se vêm a braços com dificuldades de que ainda não podemos fazer o balanço.

A primeira palavra deste texto é para todos os que, de um modo ou de outro, estão envolvidos na ajuda às pessoas atingidas pela doença: serviços de saúde, instituições de solidariedade, investigadores que, abnegadamente, têm estado na linha da frente do combate à pandemia. Não são esquecidos os políticos que estão confrontados com a tomada de decisões difíceis para conduzir a sociedade neste tempo difícil. A Igreja, juntamente com as outras instituições religiosas, tem tomado a palavra por diversas vezes, sendo mesmo este texto a continuação de outro publicado há cerca de meio ano.

Os nossos Bispos falam da pandemia no contexto de uma agonia da terra. “A destruição acelerada de espécies animais e vegetais, a poluição e tantos outros pecados graves contra a natureza ameaçam a própria sobrevivência da Humanidade” (n. 4). É uma advertência muito pertinente, na linha de algumas palavras do papa Francisco. Mas é necessário não esquecer que essa expressão é usada especialmente por cientistas, cujo modo de ver as coisas é parcelar. Para a ciência, a pandemia é uma derrota. Para a fé, a pandemia é mais um episódio da luta da vida com os seus adversários de sempre. Em Cristo, Deus triunfou sobre o mal, mas a vitória só será efectiva no “fim dos tempos”. Por isso, a pandemia é uma ocasião de aprofundar a nossa fé em Deus criador e redentor, que não tem outra preocupação que não seja salvar a terra e salvar os viventes, sobretudo humanos, chamando-os à fé que é uma participação no triunfo pascal de Jesus. Este ponto é especialmente importante para os que adoecem e para os que morrem na doença.

O precioso documento dos nossos Bispos chama a atenção para as ameaças e para as possibilidades que são ocasionadas pela pandemia. De facto, a viabilidade de muitas das nossas paróquias vai ficar comprometida se a pandemia durar muito mais tempo. Desde logo, a viabilidade económica. Mas igualmente a iniciação cristã, a catequese, a celebração dos sacramentos. É certo que novas possibilidades emergiram, como o uso das tecnologias de comunicação à distância. Isso, porém, torna-se difícil de usar pelo maioria dos sacerdotes cujo nível etário os torna menos competentes nessas áreas. Para o texto, é decisivo o papel da “igreja doméstica”, o desenvolvimento de novas formas de proximidade com as vítimas e de viver a fé desde as periferias. Pensar a Igreja desde a margem, iniciá-la como “tenda de campanha” é mais urgente que nunca, como nos lembram, na linha do Papa Francisco.

O povo de Deus confia nos seus Bispos e agradece-lhes que estejam na linha da frente. Permitam-me duas observações finais, filiais: um apelo e uma pequena nota sobre o n. 34 do documento. O apelo é que, na medida do possível, evitam o fechamento das igrejas, num novo confinamento. A oração comunitária não tem sido nociva para o agravamento da doença. Pelo contrário, o seu exercício é decisivo para o robustecimento espiritual contra a ameaça da doença. A nota é sobre a expressão: “Grande parte dos cristãos não está a par da “gramática” utilizada na Igreja, e muitas vezes não conhecem os documentos da Igreja, porque não houve o devido estudo, nem estão por dentro do que realmente se celebra na liturgia”. Algum fiel leigo, que leu o documento, manifestou-me a sua tristeza por esta expressão. Pode haver aqui alguma verdade. Mas os cristãos que celebram a fé são movidos por Cristo mais do que pelo seu conhecimento da doutrina.

Jorge Teixeira da Cunha



Fonte: Editorial da Voz Portucalense, 14Jan2021


Sem comentários:

Enviar um comentário