Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

JMJ Lisboa2023 – O PAPA NO CENTRO PAROQUIAL DE SERAFINA

 



Encontro com os Representantes de

Centros de Assistência Sócio-Caritativa

   


Esta manhã, o Papa Francisco, depois de uma passagem pelo "Parque do Perdão" onde confessou três jovens, seguiu para o Bairro da Serafina, uma zona muito pobre da cidade de Lisboa. No Centro Paroquial da Serafina o Santo Padre encontrou-se com representantes de alguns centros de assistência sócio-caritativa.


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A PORTUGAL POR OCASIÃO DA XXXVII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

[2 - 6 de Agosto de 2023]

ENCONTRO COM OS REPRESENTANTES DE ALGUNS CENTROS DE ASSISTÊNCIA E DE CARIDADE

DISCURSO DO SANTO PADRE

Centro Paroquial de Serafina, Lisboa, Sexta-feira, 4 de Agosto 2023


Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Agradeço ao pároco as suas palavras, e saúdo a todos os presentes, em particular aos amigos do Centro Paroquial da Serafina, da Casa Família Ajuda de Berço e da Associação Acreditar. E agradeço as vossas palavras que ilustraram o trabalho que aqui se faz. Obrigado! É bom estarmos aqui juntos no contexto da Jornada Mundial da Juventude, enquanto olhamos para a Virgem que Se levanta para ir ajudar. De facto, a caridade é a origem e a meta do caminho cristão, e a vossa presença, realidade concreta de «amor em acção», ajuda-nos a não esquecer a rota, o sentido daquilo que sempre estamos a fazer. Obrigado pelos vossos testemunhos, dos quais quero destacar três aspectos: fazer juntos o bem, agir no concreto e estar próximo dos mais frágeis. Por outras palavras, fazer o bem juntos, agir concretamente, isto é, não só com ideias mas concretamente, estar perto dos mais frágeis.

Primeiro, fazer juntos o bem. «Juntos» é a palavra-chave, que foi repetida muitas vezes nas intervenções. Viver, ajudar e amar juntos: jovens e adultos, sãos e doentes… juntos. O João disse-nos uma coisa importante: é preciso não se deixar «definir» pela doença, mas fazer dela parte viva do contributo que prestamos ao conjunto da comunidade. É verdade! Não devemos deixar-nos «definir» pela doença ou pelos problemas, porque não somos uma doença, não somos um problema. Cada um de nós é um presente, é um dom único, com os seus limites mas um dom precioso e sagrado para Deus, para a comunidade cristã e para a comunidade humana. E, assim como somos, enriquecemos o conjunto e deixamo-nos enriquecer pelo conjunto!

Segundo, agir no concreto. Também isto é importante. Como nos recordou o padre Francisco, inspirando-se em São João XXIII, a Igreja «não é um museu de arqueologia – alguns imaginam-na assim, mas não o é –; a Igreja é o antigo fontanário da aldeia que fornece água à geração de hoje» (São João XXIII, Homilia depois da Missa eslavo-bizantina, 13/XI/1960) como às futuras gerações. O fontanário serve para matar a sede das pessoas que chegam com o peso da viagem ou da vida, na sua dimensão concreta. Por conseguinte é necessária concretização, atenção ao «aqui e agora», como aliás já fazeis com o cuidado dos pormenores e sentido prático, belas virtudes típicas do povo português.

Quando não se perde tempo a lamentar-se da realidade, mas se tem a preocupação de ir ao encontro das carências concretas, com alegria e confiança na Providência, acontecem coisas maravilhosas. Assim o testemunha a vossa história: do encontro com o olhar de um idoso na rua, nasce um centro de caridade «de todo o respeito», como este em que nos encontramos; de um desafio moral e social qual é a «campanha pela vida», nasce uma associação que ajuda grávidas e sua família, crianças, adolescentes e jovens em dificuldade, para encontrarem um projecto de vida seguro, como nos contou Sandra; da experiência da doença nasce uma comunidade de apoio a quem luta contra o cancro, especialmente crianças, de modo que «os progressos no tratamento e a melhor qualidade de vida se tornem realidade para eles», como nos disse o João. Obrigado pelo que fazeis! Continuai com mansidão e gentileza a deixar-vos interpelar pela realidade, com as suas pobrezas antigas e novas, e a responder de forma concreta, com criatividade e coragem.

O terceiro aspecto: estar próximo dos mais frágeis. Todos somos frágeis e necessitados, mas o olhar feito de compaixão, próprio do Evangelho, leva-nos a ver as necessidades de quem mais precisa. Leva-nos a servir os pobres, os predilectos de Deus que Se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9): os excluídos, os marginalizados, os descartados, os humildes, os indefesos. São eles o tesouro da Igreja, são os preferidos de Deus! E recordemo-nos sempre de não estabelecer diferenças entre eles; de facto, para um cristão, não há preferências face a quem, necessitado, bate à nossa porta: compatriotas ou estrangeiros, pertencentes a este ou àquele grupo, jovens ou idosos, simpáticos ou antipáticos...

A propósito de caridade, quero agora contar-vos uma história, especialmente a vós, crianças, que talvez não conheçais. É a história real dum jovem português que viveu há muito tempo. Chamava-se João Cidade e habitava em Montemor-o-Novo. Sonhava com uma vida aventureira; por isso, adolescente ainda, partiu de casa à procura da felicidade. Achou-a depois de vários anos e muitas aventuras, quando encontrou Jesus. E ficou tão contente com a descoberta que até decidiu mudar o nome, chamando-se a partir de então, não João Cidade, mas João de Deus. E fez uma coisa ousada: foi pela cidade e começou a pedir esmola pelas ruas, dizendo às pessoas: «Fazei bem, irmãos, a vós mesmos!» Compreendeis? Pedia a esmola, mas dizia a quantos lha davam que, ajudando-o a ele, na realidade estavam a ajudar primariamente a si próprios! Ou seja, explicava que os gestos de amor são um dom primariamente para quem os cumpre, antes mesmo de o serem para quem os recebe; porque tudo o que se acumula para si mesmo perder-se-á, enquanto aquilo que se dá por amor nunca se desperdiça, mas será o nosso tesouro no céu.

Por isso dizia: «Fazei bem, irmãos, a vós mesmos!» Porém o amor não torna felizes só no céu, mas já aqui na terra, porque dilata o coração e permite abraçar o sentido da vida. Se queremos ser verdadeiramente felizes, aprendamos a transformar tudo em amor, oferecendo aos outros o nosso trabalho e o nosso tempo, dizendo palavras edificantes e realizando boas ações, mesmo com um sorriso, com um abraço, com a escuta, com o olhar. Queridos adolescentes, irmãos e irmãs, vivamos assim! Todos podemos fazê-lo e disto mesmo todos precisamos, aqui e em qualquer lugar do mundo.

Sabeis o que aconteceu depois a João? Não o entenderam! Pensavam que estava maluco e fecharam-no num manicómio. Mas ele não se desmoralizou, porque o amor não se arrende e quem segue Jesus não perde a paz nem se põe a lamentar a sua sorte. E foi precisamente lá, no manicómio, carregando a cruz, que chegou a inspiração de Deus. João deu-se conta de quanto aqueles doentes precisavam de ajuda e, quando finalmente o deixaram sair, depois de alguns meses, começou a cuidar deles com outros companheiros, fundando uma Ordem Religiosa: os Irmãos Hospitaleiros. Alguns, porém, começaram a designá-los doutro modo, ou seja, com as palavras «fazei bem, irmãos…» que aquele jovem ia repetindo a todos. Assim são chamados em Roma: Fatebenefratelli. É um belo nome, e um ensinamento importante! Ajudar os outros é um dom para si próprio e faz bem a todos. É verdade! Amar é um dom para todos! Recordemo-nos: o amor é um presente para todos! Vamos repetir juntos: «o amor é um presente para todos»!

Amemo-nos assim! Continuai a fazer da vida um presente de amor e de alegria. Fico-vos grato e recomendo a todos, mas especialmente às crianças: continuai a rezar por mim. Obrigado!


* * *


Palavras improvisadas


Há muitas coisas que gostaria de vos dizer agora, mas os meus «holofotes» [os olhos] – acontece – não estão a funcionar como deviam e não consigo ler bem. Por isso entrego-vos o discurso para o publicardes depois. Não se pode forçar a vista e ler mal.

Quero deter-me apenas em algo que não está escrito, mas está no espírito do encontro: a concretização. Não existe amor abstracto; não existe! O amor platónico vive em órbita, não está na realidade. Real é o amor concreto, aquele em que se sujam as mãos. Cada um de nós pode perguntar-se: o amor que sinto por todos aqueles que estão aqui, o amor que sinto pelos outros, é concreto ou abstracto? Depois de estenderes a mão a uma pessoa necessitada, a um doente, a um marginalizado… fazes logo assim [esfrega a mão na roupa] para não te contagiar? Enoja-me a pobreza, a pobreza dos outros? Procuro sempre a vida «destilada», a vida que existe na minha fantasia, não na realidade? Quantas vidas destiladas, inúteis que passam sem deixar uma marca, porque tais vidas não têm peso!

E aqui temos uma realidade que deixa uma marca, uma realidade de muitos anos, tantos anos, que vai deixando uma marca que serve de inspiração para os outros. Não poderia haver uma Jornada Mundial da Juventude sem ter em conta esta realidade. Porque também isto é juventude, no sentido de que vós gerais continuamente vida nova. Com a vossa conduta, o vosso empenho, as vossas mãos sujas por tocarem a realidade da miséria dos outros, estais a gerar inspiração, estais a gerar vida. Obrigado por isso! Agradeço-vos de todo o coração. Continuai para diante e não desanimeis! E se desanimardes, bebei um copo de água e segui para a frente!



Fonte: JMJ Lisboa 2023; Santa Sé; Notícias do Vaticano

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