D. Rui Valério
sucede ao cardeal Manuel Clemente
O Papa Francisco aceitou a renúncia ao governo pastoral do Patriarcado de Lisboa, apresentada pelo cardeal D. Manuel José Macário do Nascimento Clemente, por motivo de idade, e nomeou novo patriarca de Lisboa, D. Rui Manuel Sousa Valério, S.M.M., actual Bispo Ordinário Militar de Portugal.
A nomeação foi tornada pública esta manhã, dia 10 de Agosto, pela Sala de Imprensa da Santa Sé. Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança desde 2018, D. Rui Valério, de 58 anos, sucede a D. Manuel Clemente, tornando-se, assim, o 18.º Patriarca de Lisboa.
D. Rui Valério vai tomar posse da diocese no dia 2 de Setembro, sábado, às 11 horas, na Sé Patriarcal, diante do Cabido. A entrada solene tem lugar no dia seguinte, Domingo, dia 3 de Setembro, às 16 horas, na Igreja de Santa Maria de Belém (Jerónimos).
D. Rui Manuel Sousa Valério nasceu a 24 de Dezembro de 1964, em Urqueira, no concelho de Ourém.
Ingressou no Noviciado na Congregação dos Padres Monfortinos, no ano de 1984, em Santaeramo-in-Colle, Itália, e, um ano depois, transferiu-se para Roma onde frequentou o curso de curso de Filosofia e, em 1987, o de Teologia.
Realizou a sua profissão perpétua em Outubro de 1990, tendo sido ordenado sacerdote em 23 de Março de 1991.
No ano de 1995, ingressou no curso de Espiritualidade, no Centre International Montfortain. De regresso a Portugal, inscreveu-se na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa.
Do ponto de vista pastoral, desenvolveu a sua a sua acção sobretudo a nível paroquial. Esteve, por duas, vezes em Castro Verde, na Diocese de Beja, no Baixo Alentejo. E, por duas ocasiões, foi colaborador na Paróquia da Póvoa de Santo Adrião, na Vigararia de Loures-Odivelas, no Patriarcado de Lisboa.
Entre 2008 e 2011, foi Capelão Militar na Marinha, na Escola Naval.
A 25 de Setembro de 2011, tomou posse da Paróquia da Póvoa de Santo Adrião e, em 2016, no Ano da Misericórdia, foi um dos 1071 sacerdotes que o Papa enviou como ‘Missionários da Misericórdia’, durante o Jubileu extraordinário.
Em 27 de Outubro de 2018, D. Rui Valério foi nomeado, pelo Papa Francisco, Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança de Portugal e recebeu a Ordenação Episcopal a 25 de Novembro de 2018, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, numa celebração presidida pelo então Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. A partir dessa data, terminou as funções de pároco da Póvoa de Santo Adrião.
No dia 3 de Dezembro de 2018, tomou posse como capelão-chefe da Igreja Católica. Por diversas vezes acompanhou as missões internacionais das Forças Armadas e de Segurança Portuguesas destacada em países como São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, República Centro-Africana, Roménia e Lituânia.
A 3 de Dezembro de 2021, D. Rui Valério foi condecorado pelo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas com a Medalha Cruz de São Jorge, de 1.ª Classe. Já antes, a 26 de Junho de 2020, o novo Patriarca de Lisboa tinha recebido a mais alta condecoração da Guarda Nacional Republicana (GNR), a Medalha de D. Nuno Álvares Pereira, de 1.ª Classe.
D. Rui Valério é ainda delegado da Conferência Episcopal Portuguesa para as Relações Bispos/Vida Consagrada e membro da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização.
Numa mensagem vídeo, o novo Patriarca de Lisboa assegura “disponibilidade total” para a nova missão. D. Rui Valério deixa ainda um agradecimento pelas felicitações que recebeu.
D. Rui Valério
Mensagem à amada Igreja de Lisboa
1. Obrigado, Lisboa, capital da juventude e cidade da esperança, por teres iluminado de alegria o céu do mundo e fortalecido de amor o coração de todos os que acreditam na Vida. Para sempre os teus dias serão Jornadas de encontro e a tua história de horizontes onde todos têm lugar.
Como a terra depois de arada permanece em silêncio para que a força transbordante das sementes nela lançadas fecunde e cresça, também este é, para nós, o tempo do silêncio para que os grãos de vida e esperança, que a Jornada Mundial da Juventude derramou em nossos corações, germinem e tragam fruto abundante de humildade, de santidade e de serviço missionário que sonha chegar a todos.
2. Por isso, apenas três sentimentos tomam conta do meu coração na circunstância do chamamento deste pobre e humilde servo do Senhor para Patriarca de Lisboa.
O primeiro está contido nas palavras temor e tremor: A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para este humilde servo e, embora conhecendo a dimensão e natureza dos seus limites, o chamou à grandiosa missão de servir a Igreja de Lisboa. Uma Barca imensa repleta de vida, de serviço, de santidade e de história missionária… uma grandiosidade a contrastar com a pequenez dos meus remos.
Enche-me de esperança, contudo, a certeza de que Cristo e o Espírito, com Maria, são os verdadeiros guias e protagonistas da Igreja; a graça e a força de Deus, a substância de toda a acção pastoral; o Evangelho de Jesus, a real matéria da missão. Por isso, confio que, através da minha fragilidade e pequenez, possam chegar a todos a força e a graça do Senhor. Nunca, como nesta hora, ressoam vigorosamente as palavras de São Paulo “quando sou fraco, então é que sou forte”.
Assim, com temor e tremor, ciente da minha fragilidade, mas por amor a Cristo e à sua Igreja, na mais estrita fidelidade ao Santo Padre e em espírito de obediência, na graça de Deus e na alegria do Espírito, digo com Nossa Senhora “Sim, faça-se segundo a Vossa Palavra”.
O segundo sentimento decorre da minha intenção de escutar: “Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho” (Hb 1, 1-3), na prontidão e alegria dos jovens, nos gestos e palavras do Papa Francisco, na disponibilidade e serviço de tanta instituição e na generosidade de muitas pessoas. Aqui, em Lisboa, Deus falou e tocou o coração e a vida da nossa amada Igreja, na qual estão todos e todos dela fazem parte. Estamos convocados a escutar-nos reciprocamente, permanecendo e caminhando juntos, ao bom jeito de sinodalidade, para escutar a voz de Deus na Palavra que Ele dirigiu a cada um de nós. Assim, a escuta é ponto estruturante do nosso programa, como o é o exemplo dos apóstolos pobres, despojados e desprendidos de tudo, mas cheios do Espírito Santo que os configurava a Cristo vivo e que, com Maria Santíssima, os capacitava para incendiarem de amor o coração da humanidade, escancarando o horizonte de vida de cada pessoa à luz da eternidade.
Assumiremos como prática o gesto próprio do Bom Pastor que deixou as noventa e nove ovelhas para ir à procura da que se perdera. Para Jesus Cristo, não é lícito deixar ninguém para trás. E um dos modos mais pertinentes para manter viva a chama e a mística da Jornada Mundial da Juventude é não deslocar o foco dos jovens. Assim, no horizonte de vida e acção da nossa Igreja está bem presente quanto afirmava São Paulo VI acerca da Igreja ter de ser missionária sob pena de não ser e, analogamente, o Papa Francisco, ainda mais concreto, que sem jovens a Igreja simplesmente morre. Para os jovens e com os jovens, somos chamados a ser Igreja missionária e em saída, levando no coração o ardor de chegar a todos.
O terceiro sentimento é de alegria no serviço. Na presença do Senhor, de quem recebeu o maravilhoso dom da esperança e da vida nova e o mandato missionário de o levar aos recantos mais escondidos da interioridade de cada um de nós, bem como aos quatro cantos do mundo inteiro, a Igreja de Lisboa estará à altura da confiança que Cristo Jesus uma vez mais lhe confiou.
3.Igreja abençoada por infinitas graças que, no decorrer dos séculos, mas sobretudo no dealbar de épocas, têm configurado o rosto de uma Igreja aberta, corajosa, que não vira costas a nenhum desafio e que faz do serviço a Cristo e ao Evangelho a fonte da sua alegria. Firme na fé e segura no caminho do amor, sabe que é barca guiada e protegida por Cristo, pela Santíssima Virgem, São Vicente e Santo António, com sacerdotes, diáconos, religiosos(as) e leigos(as) conscientes de que são hoje, como noutras eras, chamados a estar dentro e nos lugares de charneira.
Assim, a Igreja de Lisboa, missionária e evangelizadora, tem no Tejo e no mar que a banha essa faceta, cantada por Pessoa na obra Mensagem: “E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma / E faz a febre em mim de navegar / Só encontrará de Deus na eterna calma / O porto sempre por achar.”
4. Agradeço ao Senhor a sua confiança. Agradeço à Santa Igreja: o encorajamento do Santo Padre, o apoio do Senhor Núncio Apostólico e o estímulo e amizade do Senhor D. Manuel Clemente, a quem saúdo reconhecendo, grato, o exemplo de Bom Pastor que nos ensina a dar a vida pelo povo de Deus, para que esse mesmo povo tenha vida em abundância.
5. Saúdo os Senhores Bispos Auxiliares, D. Joaquim Mendes e D. Américo Aguiar, como irmão ao serviço do Senhor e da sua Igreja, disposto a um verdadeiro espírito de colaboração para fazer da acção pastoral um itinerário de configuração a Cristo. Toca-me, particularmente, a profundidade espiritual da vossa vida e o carácter eclesial da vossa missão.
Saúdo o Presbitério de Lisboa e todos os sacerdotes que aqui vivem e trabalham. Pronto a caminhar convosco, é com gratidão e alegria que vejo em vós o rosto da dedicação total a Cristo e à Igreja. A vossa vida de comunhão com o Senhor edifica-me e estimula-me a servir todos com coragem e generosidade pastoral.
Saúdo os diáconos permanentes, expressão viva do serviço e da caridade da Igreja que, no Patriarcado de Lisboa, são ainda o rosto actual do nosso amado Padroeiro, São Vicente: caminharemos juntos e juntos servimos o Senhor e os irmãos.
Saúdo os(as) religiosos(as) e consagrados(as), louvando o Senhor por ter feito de Lisboa um oásis para a vida de oração, contemplação e acção de tantas ordens, congregações, institutos e estilos de vida, cujo eixo está na dádiva total a Cristo.
Saúdo os leigos, na luz sinodal que nos impele a caminhar juntos para realizar a plenitude da vocação da Igreja, como Corpo de Cristo. Na mudança de época que vivemos, pertence-vos a vós a determinante responsabilidade da Evangelização do mundo e da cultura nas suas mais variadas vertentes, e de configurar o rosto sinodal do Povo de Deus.
Saúdo os jovens, agradecendo, desde já, o dom da comparência na Jornada Mundial da Juventude e a dádiva da alegria e do entusiasmo com que iluminaram de esperança o céu da humanidade. Agora sois os depositários de um dinamismo de vida e esperança que juntos iremos expandir para manter vivo.
Saúdo os irmãos e irmãs vítimas de abusos por membros da Igreja, meus irmãos; partilho da vossa dor e, juntos, vamos prosseguir, com esperança, no caminho da cura total do vosso e nosso sofrimento, da tolerância zero.
Saúdo todas as mulheres e homens de boa vontade, com afecto e disponibilidade para dialogar, ciente de que todos somos chamados a construir o bem e a servir a casa comum onde nos é dado coabitar pacífica e harmoniosamente.
Saúdo, enfim, as ilustres entidades oficiais, detentoras da honrosa vocação de servir a comunidade; em espírito de cooperação conjugaremos esforços para promover a dignidade de cada pessoa e responder a todos os desafios humanistas.
In Manibus Tuis
+ Rui Valério
Fontes: Notícias do Vaticano; Patriarcado de Lisboa
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