Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

ABERTURA DO ANO JUBILAR NA DIOCESE DO PORTO

 





Homilia de D. Manuel Linda


Na abertura do Ano Santo de 2025, celebrada no passado Domingo 29 de Dezembro, D. Manuel Linda anunciou uma peregrinação a Fátima da Diocese do Porto no próximo mês de Setembro.

O Jubileu “deve constituir como que o início de uma renovação da nossa existência vivida na responsabilidade, na doação, na generosidade, na esperança e na assunção das exigências da nossa fé”, disse o Bispo do Porto.



Homilia na Missa de Abertura do Ano Jubilar

Caminhar rumo à Plenitude


Acabamos de abrir solenemente este Ano Jubilar na nossa Diocese do Porto. Na oração que fiz, em nome de todo o povo de Deus, ainda na igreja de Santo Ildefonso, referiam-se elementos que o caracterizam: o tempo da graça; a cura das feridas dos corações dilacerados pela dor; a libertação das correntes que nos mantêm escravos do pecado e prisioneiros do ódio; a alegria do Espírito; e o caminhar, com renovada esperança, em direcção à grande meta, que é Jesus Cristo. Sim, estes são os grandes objectivos. E para os ter bem presentes no horizonte da nossa ânsia e vivência, começamos por uma pequena caminhada que nos conduziu a esta catedral, seguindo a cruz, termo último do amor de Deus, e o evangeliário, a Palavra feita vida.

A peregrinação é, de facto, um dos elementos mais poderosos para promover o desejo de superação e alimentar a espiritualidade. Sem negar que se possam fazer caminhadas por outros motivos, a peregrinação é um ato sobremaneira religioso: é sempre a saída da nossa zona de conforto e do nosso auto-isolamento para nos fazer penetrar no umbral do sagrado, no pórtico do acesso a Deus. Por isso, é um fenómeno antropológico presente em toda a história e civilizações e que, numa época de um certo afrouxamento religioso, como a nossa, ressurge como pequena semente que, mesmo com uma pedra por cima, teima em contornar o peso para que possa ver e ser acarinhada pelo sol. Pensemos no fenómeno das peregrinações a pé a Fátima e a Santiago de Compostela.

Ao longo do ano, muitos irão a Roma para atravessarem as várias portas santas. E isso é louvável. Nós também realizaremos uma grande peregrinação a Fátima, em Setembro de 2025. Mas, agora, o que nos interessa, é empreender a caminhada mais difícil e indispensável: aquela marcha de conversão interior que nos conduza à auto-posse de nós mesmos, à plena recuperação do valor família, à sadia convivência com os outros e ao encontro com Deus. Esta é a viagem mais árdua, mas a mais indispensável. A caminhada geográfica tem pleno sentido quando orienta e favorece a interior. O silêncio, a solidão, o sacrifício, a contemplação reclamam, de facto, algo de grandioso que corte com a monotonia dos dias sem voos.

As peregrinações são sempre amassadas em esperança. No mínimo, a de chegar são e salvo. Mas também a de cumprir o objectivo que levou a ela. Ora, a esperança constituirá a marca da nossa vida ao longo de todo este ano. A esperança é tipicamente cristã. Se, no dizer do Apóstolo, Cristo é a “nossa esperança” ou “a esperança da glória” (Cl 1, 27), o seguidor de Cristo não a pode negar. Cristo sonhou e implantou o Reino de Deus, não obstante a negrura da história daquele tempo, a oposição cerrada da maioria e a quase nenhuma força dos poucos discípulos. Agora, o seu seguidor fará o mesmo, não obstante as dificuldades. Quando as coisas não são fáceis, mais se exigem.

Neste ano, para não perdermos os objectivos nem a meta, que é Deus, precisamos de lançar mão de sinais que nos orientem. Em primeiro lugar, precisamos de fazer muitas vezes a Profissão de Fé ou recitação do Credo, para não trocarmos a fé da Igreja por outras espiritualidades inquinadas. Depois, o exercício da caridade, qual distintivo cristão que usa de misericórdia perante as necessidades dos outros, sejam de natureza corporal ou espiritual. Aproximar-nos-emos do Sacramento da Penitência para obter o perdão dos pecados e remover o que nos afasta de Deus. Valorizaremos a indulgência plenária, que é a remissão de todos os pecados, concedida durante o Jubileu. Enfim, recorreremos mais à oração, diálogo com Deus realizado em contexto de uma coração feliz pela sua proximidade e carícia.

Irmãs e irmãos, este ano tem de deixar marcas. Deve constituir como que o início de uma renovação da nossa existência vivida na responsabilidade, na doação, na generosidade, na esperança e na assunção das exigências da nossa fé. Tem de deixar marca na família, célula das células da Igreja e da sociedade, cuja celebração litúrgica marca este dia. O nosso mundo pode experimentar as novidades, modas, alternativas que quiser. Mas se, ao nível da família, não souber viver os valores da unidade, indissolubilidade, ternura, generosidade e altruísmo, como na família de Nazaré, ficará sem âncoras de futuro e sem o maior dos amortecedores dos choques pessoais, infelizmente tão presentes. E o resultado é a perda de sentido, o desinteresse social, as dependências, o individualismo, a agressividade, enfim, a desestruturação.

Que Jesus, Maria e José se constituam sempre como nosso modelo e nos obtenham a graça de uma inteligência esclarecida para ver o caminho da verdade e de uma consciência recta para o seguir, já que, como diz um provérbio inglês, onde existe uma vontade, existe um caminho. Bom e um frutuoso ano jubilar!

+ Manuel Linda

29 de Dezembro de 2024


Fonte: Diocese do Porto


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