Transcrevemos
a homilia do Senhor D. António na Missa Crismal de hoje
Irmãos
e irmãs,
1.
«O Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova»
(Is 61, 1-9 e Luc 4, 16-21)
Em
cada ano, a celebração da Missa Crismal, na manhã da Quinta-Feira
Santa, convoca-nos e reúne-nos para avivar a alegria da nossa fé,
para fortalecer o espírito da nossa comunhão e para consolidar o
caminho pastoral de cada Igreja particular.
A
fé cristã nasce da graça pela qual Deus nos faz conhecer o
testemunho apostólico sobre Jesus de Nazaré, a sua vida e a sua
missão. Esta é a graça apostólica que nós devemos à Igreja.
Esta é a fonte da nossa alegria e a raiz da nossa fortaleza. O
«hoje» da Sinagoga de Nazaré que Jesus assumiu para si,
interpretando o texto de Isaías, é, também, o hoje da Igreja. É
este dia que vivemos. É o agora e o aqui da vida da Igreja do Porto.
Sabemos
que são abundantes os frutos deste longo e belo caminho da Igreja do
Porto. Tocamos de perto muitas alegrias vividas pelas pessoas, pelas
famílias, pelos movimentos apostólicos e pelas comunidades.
Sentimos que o horizonte da missão se deve abrir a espaços novos de
diálogo com o mundo, onde se espelhe o rosto missionário da Igreja.
O
mistério da paixão, da morte e da ressurreição de Jesus é lugar
do encontro definitivo e redentor da Humanidade com Deus e certeza do
encontro de Deus com quantos habitam a nossa Terra.
2.
Ungidos com o óleo da bondade, da misericórdia e da alegria
A
Missa Crismal revela aos nossos olhos a beleza de todo o Povo de
Deus, povo consagrado e reino de sacerdotes, na variedade dos seus
dons, na pluralidade dos seus carismas, na diversidade dos seus
ministérios e na raiz comum de um só baptismo.
A
liturgia de hoje recorda-nos, ao mesmo tempo, a nós sacerdotes, que
vivemos em estreita relação com todo o povo de baptizados, porque
somos cristãos com eles, e fomos constituídos em benefício de todo
o povo de Deus, porque somos sacerdotes para eles. E isto
compromete-nos a seguir Cristo mais de perto, na fidelidade aos
compromissos sacerdotais e no gosto de vivermos plenamente a beleza e
a bondade do nosso ministério.
A
bênção e a consagração dos Santos Óleos falam-nos desta
dimensão sacramental da Igreja que nos comunica a graça pascal de
Cristo e nos inicia na vida da comunidade cristã. Através dos
óleos, benzidos e consagrados nesta celebração, a graça divina
fluirá nas almas, como portadora de luz, de sustento e de força.
Baptizados, crismados e ordenados, catecúmenos ou doentes, os óleos
santos conformam-nos e configuram-nos com Cristo, nosso Salvador.
Na
Missa Crismal, os santos óleos estão no centro da acção
litúrgica. São abençoados e consagrados na Igreja Catedral para o
ano inteiro da vida das nossas Comunidades diocesanas. Assim,
exprimem também a unidade da Igreja e imprimem em nós a marca de
Cristo.
A
Missa Crismal, na qual o óleo nos é apresentado como linguagem da
criação de Deus, fala-nos particularmente a nós sacerdotes.
Fala-nos de Cristo que Deus ungiu como Rei e Sacerdote e que nos
torna participantes do seu sacerdócio, da sua unção, na nossa
ordenação sacerdotal. Por isso, a unção significa sempre para o
sacerdote a missão de levar a misericórdia de Deus aos homens. «Na
lâmpada da nossa vida não devia faltar nunca o óleo da
misericórdia e da alegria» (Bento XVI, Missa Crismal 2010).
Não
podemos ser cristãos nem sacerdotes sem Igreja, sem esta Igreja
conciliar, renovada e missionária. Percebemos, igualmente, que não
podemos ser sacerdotes nem cristãos sozinhos e fora do mundo que
Deus ama.
Os
seminaristas, os diáconos, as comunidades religiosas e os
consagrados(as) da nossa Diocese vivem este dia connosco sacerdotes,
com particular e sentida comunhão e com renovado compromisso de
missão.
3.
“Estavam fixos em Jesus os olhos de todos” (
Luc 4, 20)
A
Igreja pede-nos, a nós sacerdotes, que fixemos em Jesus o nosso
olhar e renovemos as nossas promessas sacerdotais, que nos recordam o
dia em que fomos constituídos pastores da Igreja ao serviço dos
nossos irmãos. Com alegria e vontade determinada, queremos renovar a
nossa fidelidade sacerdotal e desejamos perseverar com coerência e
dedicação no serviço pastoral dos ministros de Cristo.
Saboreemos
este momento com a alegria reencontrada do dia da nossa ordenação,
com o entusiasmo renovado do nosso amor à causa de Jesus e com o
ardor da nossa paixão pela missão da Igreja.
Sinto
no olhar das comunidades cristãs e do mundo que nos rodeia, nestes
tempos difíceis que vivemos, o desejo de ver na Igreja o sinal de
esperança que procuram naqueles que a servem. Todas as pessoas,
sobretudo as que mais sofrem precisam de encontrar em nós o
testemunho vivo do amor redentor de Jesus Cristo.
Todos
devemos muito aos Seminários que nos formaram, às famílias donde
vimos, às comunidades que nos acompanharam no decurso do tempo.
Aprendemos
a ser pastores no exercício do próprio ministério, mas também e
muito a partir da nossa fraternidade presbiteral. A fraternidade
presbiteral é uma exigência da caridade pastoral. E a caridade
pastoral alimenta-se do nosso encontro com Cristo, da nossa entrega
ao ministério, porque é um amor cujo destinatário imediato é a
comunidade eclesial. Por seu lado, a comunidade que servimos
constitui outro elemento fundamental da nossa espiritualidade.
Sabemo-nos discípulos de Jesus e missionários em Seu nome, para que
as nossas comunidades tenham vida e a tenham em abundância.
4.
“A graça e a paz vos sejam dadas por Jesus Cristo” (Apoc
1, 5)
Esta
é a hora abençoada para vos dizer a vós, irmãos sacerdotes, todo
o meu afecto. Ao longo do tempo, que agora começa, vamos
encontrar-nos, rezar juntos, partilhar alegrias, experiências,
preocupações, sonhos, esperanças e projectos. Viveremos
conjuntamente decisões e caminhos de vida sacerdotal e planos e
programas de acção pastoral ao serviço da Igreja no Porto e para
bem de toda a Comunidade portucalense.
Sinto
que a santidade de bispos e sacerdotes que nos precederam, ao longo
de muitos séculos de vida como Diocese, é para nós uma bênção
que nos fortalece no ministério e nos estimula na responsabilidade.
Penso
com mais afecto naqueles de entre vós que estão fragilizados pela
idade, pela doença ou por provações dolorosas. Que eles sintam que
estão presentes no nosso coração e que estamos decididos a cuidar
deles e a viver com eles numa proximidade fraterna. Na
impossibilidade de a todos visitar e de me encontrar com cada um, de
imediato, quis iniciar o meu caminho na Diocese pela visita à Casa
Sacerdotal que tem como missão ser santuário de gratidão para
acolher e envolver de dedicação os nossos sacerdotes e pessoas que
a eles se dedicaram.
Lembro
os sacerdotes do nosso presbitério que estão em missão pastoral ou
vivem fora do nosso espaço diocesano. Que sintam todos a nossa
presença fraterna!
Louvo
o Senhor, nosso Deus pela dedicação, generosidade e constância com
que assumis a vossa missão, em tempos exigentes, em circunstâncias
muitas vezes complexas, em esforço acrescido, dado o nosso reduzido
número diante de uma comunidade que aumenta em apelo à nossa
presença e ministério. Devemos dar resposta à procura da formação
cristã das comunidades, à celebração digna dos mistérios da fé
e às urgências sociais e imperativos culturais que temos diante de
nós.
Os
tempos que vivemos são simultaneamente exigentes e apaixonantes, na
preciosa tarefa de anunciar a alegria do Evangelho, como nos propõe
o Papa Francisco. A nossa alegria de ser padre é elemento essencial
da alegria do Evangelho. As bem-aventuranças do Evangelho são
inesgotáveis. A cada leitura sentimos vontade de saber mais e de as
vivermos melhor. Elas estão habitadas por uma mensagem divina que
ilumina e faz feliz a vida humana, que é luz do mundo e sal da
terra. Nelas encontramos horizonte de sentido para a vida, caminho
para a missão e força contínua nas horas mais duras e nos momentos
mais difíceis. Elas constituem um dos mais belos textos da
Humanidade. É necessário reinventar as bem-aventuranças e
aplicá-las, também, a nós, caríssimos sacerdotes.
Dou
graças a Deus pelo dom dos novos sacerdotes concedidos à Igreja do
Porto no ano passado: Jorge Manuel da Rocha Nunes e Ricardo Álvaro
Aguiar Ribeiro que, pela primeira vez participam nesta Missa Crismal,
como presbíteros. Acolhemos com alegria no nosso presbitério os
Padres que este ano vieram viver e trabalhar na nossa Diocese,
membros de congregações ou institutos religiosos. Que Deus a todos
recompense!
Este
é também o dia jubilar em que a Igreja diocesana saúda com
fraterna alegria os sacerdotes Benjamim de Sousa e Silva, Francisco
Andrade Moreira da Costa, José Nuno Ferreira da Silva, Luciano
Alberto da Silva Lagoa, Vicente António Nunes da Silva, que neste
ano celebram 25 anos de ordenação, e os Padres Amadeu Ferreira da
Silva, Domingos de Lima Milheiro Leite, Joaquim Maia Moreira de
Sousa, José de Almeida Campos, Manuel Dias da Silva, Marílio da
Costa Faria e Rui Osório de Castro Alves que celebram 50 anos.
Louvamos o Senhor pela sua vida, ministério e generosa doação!
Recordamos
todos com permanente saudade e gratidão os nossos Bispos D.
António Ferreira Gomes, de cuja morte celebramos no passado domingo
vinte e cinco anos, D. Júlio Tavares Rebimbas e D. Armindo Lopes
Coelho assim como os sacerdotes, Luis Manuel Brenlha Lopes, Aníbal
Duarte Pereira, Augusto Teixeira de Sousa, Ramiro Ferreira Pinto,
António da Fonseca Soares, Armindo da Silva Gomes, Joaquim Azemiro
de Sousa Oliveira, Adolfo Fânzeres Martins, Fernando Cardoso Lemos,
Manuel Gameiro e o Diácono Fernando Alberto Alves da Silva, a quem
o Senhor chamou ao longo do último ano.
Saúdo-vos,
caríssimos seminaristas. A vossa presença aqui diz-nos do vosso
desejo de avançardes no caminho que vos conduz ao sacerdócio e da
alegria, da comunhão e do testemunho que encontrais em nós
sacerdotes. Queremos ser para vós um estímulo e uma bênção. Vós,
seminaristas, incentivais com a vossa alegria e generosidade outros
jovens a ouvir a voz do Senhor e a ver mais longe no tempo e na
esperança de novas vocações. Obrigado pela vossa presença e pelo
vosso testemunho.
5.
Uma prece confiante
Rezai,
irmãos e irmãs, pelos nossos presbíteros e diáconos e por nós
bispos. Perdoai as nossas fragilidades, compreendei os nossos limites
e alavancai o meu louvor a Deus e o meu serviço humilde a esta
Igreja a quem fui dado para amar e servir. Fazei vossa, também, a
minha gratidão pelo bem realizado pelos sacerdotes ao serviço desta
amada Igreja do Porto.
Que
a Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, nos abençoe, ilumine e proteja
neste nosso caminho de alegria, generosidade e doação, e que o Papa
João XXIII e o Papa João Paulo II, que vão ser proximamente
canonizados e nos deram tão belos exemplos de ministério e tão
oportunos ensinamentos de vida, nos ajudem com a sua intercessão.
Igreja
Catedral do Porto, 17 de Abril de 2014
António,
Bispo do Porto
Fonte:
Diocese do Porto
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