Comunicar
esperança e confiança no nosso tempo
A
mensagem do Papa no 51.º Dia Mundial das Comunicações Sociais que
a Igreja Católica celebra hoje
O
Dia Mundial das Comunicações Sociais, única celebração do género
estabelecida pelo Concílio Vaticano II (decreto ‘Inter
Mirifica’, 1963), é celebrado no domingo que antecede o
Pentecostes.
O
Papa Francisco, depois da oração do Regina Coeli desta manhã,
recordou que hoje se celebra o Dia Mundial das Comunicações Sociais
sobre o tema “Não temas porque eu estou contigo” e
afirmou:
“Os
meios de comunicação social dão a possibilidade de partilhar e
difundir instantaneamente a notícia de forma capilar.
Essas
notícias podem ser belas ou tristes, verdadeiras ou falsas; rezemos
para que a comunicação, em todas as formas, seja efectivamente
construtiva, ao serviço da verdade, recusando os preconceitos, e
difunda a esperança e a confiança no nosso tempo”.
MENSAGEM
DO PAPA FRANCISCO
PARA
O 51ª DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS
[28
de maio de 2017]
Tema:
«“Não
tenhas medo, que Eu estou contigo” (Is 43, 5).
Comunicar
esperança e confiança, no nosso tempo»
Graças
ao progresso tecnológico, o acesso aos meios de comunicação
possibilita a muitas pessoas ter conhecimento quase instantâneo das
notícias e divulgá-las de forma capilar.
Estas
notícias podem ser boas ou más, verdadeiras ou falsas.
Já
os nossos antigos pais na fé comparavam a mente humana à mó da
azenha que, movida pela água, não se pode parar.
Mas
o moleiro encarregado da azenha tem possibilidades de decidir se quer
moer, nela, trigo ou joio.
A
mente do homem está sempre em acção e não pode parar de «moer»
o que recebe, mas cabe a nós decidir o material que lhe fornecemos
(cf. Cassiano o Romano, Carta a Leôncio Igumeno).
Gostaria
que esta mensagem pudesse chegar como um encorajamento a todos
aqueles que diariamente, seja no âmbito profissional seja nas
relações pessoais, «moem» tantas informações para oferecer um
pão fragrante e bom a quantos se alimentam dos frutos da sua
comunicação.
A
todos quero exortar a uma comunicação construtiva, que, rejeitando
os preconceitos contra o outro, promova uma cultura do encontro por
meio da qual se possa aprender a olhar, com convicta confiança, a
realidade.
Creio
que há necessidade de romper o círculo vicioso da angústia e deter
a espiral do medo, resultante do hábito de se fixar a atenção nas
«notícias más» (guerras, terrorismo, escândalos e todo o tipo de
falimento nas vicissitudes humanas).
Não
se trata, naturalmente, de promover desinformação onde seja
ignorado o drama do sofrimento, nem de cair num optimismo ingénuo
que não se deixe tocar pelo escândalo do mal.
Antes,
pelo contrário, queria que todos procurássemos ultrapassar aquele
sentimento de mau-humor e resignação que muitas vezes se apodera de
nós, lançando-nos na apatia, gerando medos ou a impressão de não
ser possível pôr limites ao mal.
Aliás,
num sistema comunicador onde vigora a lógica de que uma notícia boa
não desperta a atenção, e por conseguinte não é uma notícia, e
onde o drama do sofrimento e o mistério do mal facilmente são
elevados a espectáculo, podemos ser tentados a anestesiar a
consciência ou cair no desespero.
Gostaria,
pois, de dar a minha contribuição para a busca dum estilo
comunicador aberto e criativo, que não se prontifique a conceder
papel de protagonista ao mal, mas procure evidenciar as possíveis
soluções, inspirando uma abordagem propositiva e responsável nas
pessoas a quem se comunica a notícia.
A
todos queria convidar a oferecer aos homens e mulheres do nosso tempo
relatos permeados pela lógica da «boa notícia».
A
boa notícia
A
vida do homem não se reduz a uma crónica asséptica de eventos, mas
é história, e uma história à espera de ser contada através da
escolha duma chave interpretativa capaz de seleccionar e reunir os
dados mais importantes.
Em
si mesma, a realidade não tem um significado unívoco.
Tudo
depende do olhar com que a enxergamos, dos «óculos» que decidimos
pôr para a ver: mudando as lentes, também a realidade aparece
diversa.
Então,
qual poderia ser o ponto de partida bom para ler a realidade com os
«óculos» certos?
Para
nós, cristãos, os óculos adequados para decifrar a realidade só
podem ser os da boa notícia: partir da Boa Notícia por excelência,
ou seja, o «Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus» (Mc 1, 1).
É
com estas palavras que o evangelista Marcos começa a sua narração:
com o anúncio da «boa notícia», que tem a ver com Jesus; mas,
mais do que uma informação sobre Jesus, a boa notícia é o
próprio Jesus.
Com
efeito, ao ler as páginas do Evangelho, descobre-se que o título da
obra corresponde ao seu conteúdo e, principalmente, que este
conteúdo é a própria pessoa de Jesus.
Esta
boa notícia, que é o próprio Jesus, não se diz boa porque nela
não se encontra sofrimento, mas porque o próprio sofrimento é
vivido num quadro mais amplo, como parte integrante do seu amor ao
Pai e à humanidade.
Em
Cristo, Deus fez-Se solidário com toda a situação humana,
revelando-nos que não estamos sozinhos, porque temos um Pai que
nunca pode esquecer os seus filhos.
«Não
tenhas medo, que Eu estou contigo» (Is 43, 5): é a palavra
consoladora de um Deus desde sempre envolvido na história do seu
povo.
No
seu Filho amado, esta promessa de Deus – «Eu estou contigo» –
assume toda a nossa fraqueza, chegando ao ponto de sofrer a nossa
morte.
N’Ele,
as próprias trevas e a morte tornam-se lugar de comunhão com a Luz
e a Vida.
Nasce,
assim, uma esperança acessível a todos, precisamente no lugar onde
a vida conhece a amargura do falimento.
Trata-se
duma esperança que não dececiona, porque o amor de Deus foi
derramado nos nossos corações (cf. Rm 5, 5) e faz germinar a vida
nova, como a planta cresce da semente caída na terra.
Visto
sob esta luz, qualquer novo drama que aconteça na história do mundo
torna-se cenário possível também duma boa notícia, uma vez que o
amor consegue sempre encontrar o caminho da proximidade e suscitar
corações capazes de se comover, rostos capazes de não se abater,
mãos prontas a construir.
A
confiança na semente do Reino
Para
introduzir os seus discípulos e as multidões nesta mentalidade
evangélica e entregar-lhes os «óculos» adequados para se
aproximar da lógica do amor que morre e ressuscita, Jesus recorria
às parábolas, nas quais muitas vezes se compara o Reino de Deus com
a semente, cuja força vital irrompe precisamente quando morre na
terra (cf. Mc 4, 1-34).
O
recurso a imagens e metáforas para comunicar a força humilde do
Reino não é um modo de reduzir a sua importância e urgência, mas
a forma misericordiosa que deixa, ao ouvinte, o «espaço» de
liberdade para a acolher e aplicar também a si mesmo.
Além
disso, é o caminho privilegiado para expressar a dignidade imensa do
mistério pascal, deixando que sejam as imagens – mais do que os
conceitos – a comunicar a beleza paradoxal da vida nova em Cristo,
onde as hostilidades e a cruz não anulam, mas realizam a salvação
de Deus, onde a fraqueza é mais forte do que qualquer poder humano,
onde o falimento pode ser o prelúdio da maior realização de tudo
no amor.
Na
verdade, é precisamente assim que amadurece e se entranha a
esperança do Reino de Deus, ou seja, «como um homem que lançou a
semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e
de dia, a semente germina e cresce» (Mc 4, 26-27).
O
Reino de Deus já está no meio de nós, como uma semente escondida a
um olhar superficial e cujo crescimento acontece no silêncio.
Mas
quem tem olhos, tornados limpos pelo Espírito Santo, consegue vê-lo
germinar e não se deixa roubar a alegria do Reino por causa do joio
sempre presente.
Os
horizontes do Espírito
A
esperança fundada na boa notícia que é Jesus faz-nos erguer os
olhos e impele-nos a contemplá-Lo no quadro litúrgico da Festa da
Ascensão.
Aparentemente
o Senhor afasta-Se de nós, quando na realidade são os horizontes da
esperança que se alargam.
Pois
em Cristo, que eleva a nossa humanidade até ao Céu, cada homem e
cada mulher consegue ter «plena liberdade para a entrada no
santuário por meio do sangue de Jesus.
Ele
abriu para nós um caminho novo e vivo através do véu, isto é, da
sua humanidade» (Heb 10, 19-20).
Através
«da força do Espírito Santo»,podemos ser «testemunhas»e
comunicadores duma humanidade nova, redimida, «até aos confins da
terra»(cf. At 1, 7-8).
A
confiança na semente do Reino de Deus e na lógica da Páscoa não
pode deixar de moldar também o nosso modo de comunicar.
Tal
confiança que nos torna capazes de actuar – nas mais variadas
formas em que acontece hoje a comunicação – com a persuasão de
que é possível enxergar e iluminar a boa notícia presente na
realidade de cada história e no rosto de cada pessoa.
Quem,
com fé, se deixa guiar pelo Espírito Santo, torna-se capaz de
discernir em cada evento o que acontece entre Deus e a humanidade,
reconhecendo como Ele mesmo, no cenário dramático deste mundo,
esteja compondo a trama duma história de salvação.
O
fio, com que se tece esta história sagrada, é a esperança, e o seu
tecedor só pode ser o Espírito Consolador.
A
esperança é a mais humilde das virtudes, porque permanece escondida
nas pregas da vida, mas é semelhante ao fermento que faz levedar
toda a massa.
Alimentamo-la
lendo sem cessar a Boa Notícia, aquele Evangelho que foi
«reimpresso» em tantas edições nas vidas dos Santos, homens e
mulheres que se tornaram ícones do amor de Deus.
Também
hoje é o Espírito que semeia em nós o desejo do Reino, através de
muitos «canais» vivos, através das pessoas que se deixam conduzir
pela Boa Notícia no meio do drama da história, tornando-se como que
faróis na escuridão deste mundo, que iluminam a rota e abrem novas
sendas de confiança e esperança.
Vaticano,
24 de Janeiro – Memória de São Francisco de Sales – do ano de
2017.
Franciscus
Fontes:Santa
Sé; Rádio Vaticano; Agência Ecclesia; Secretariado Nacional das
Comunicações Sociais
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