Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

quarta-feira, 1 de junho de 2022

NÃO ESCONDAMOS A VELHICE

 



Nem as suas fragilidades

- o Papa Francisco na catequese de hoje

   


Na Audiência Geral desta Quarta-feira, falando sobre os idosos, o Papa Francisco disse que "a sociedade como um todo deve apressar-se a cuidar dos seus idosos cada vez mais numerosos, e com frequência também mais abandonados”, até mesmo pelas famílias.

Não faltam os que se aproveitam da idade do idoso.

Com efeito, não faltam aqueles que se aproveitam da idade do idoso para o enganar, para o intimidar de mil maneiras. Lemos frequentemente nos jornais ou ouvimos notícias de pessoas idosas que são enganadas sem escrúpulos, a fim de se apoderar das suas poupanças; ou que são deixadas desprotegidas e abandonadas sem cuidados; ou que são ofendidas por formas de desprezo e intimidadas a renunciar aos seus direitos. Tais crueldades também acontecem nas famílias – e isto é grave, mas acontece inclusive nas famílias. Os idosos descartados, abandonados nas casas de repouso, sem que os filhos os visitem, ou quando vão, fazem-no poucas vezes por ano. O idoso posto precisamente num canto da existência. E isto acontece: acontece hoje, acontece nas famílias, acontece sempre. Devemos reflectir sobre isto.”


No final da Audiência Geral, o Papa Francisco apelou à comunidade internacional para desbloquear a questão dos cereais retidos, devido à guerra em curso, nos portos da Ucrânia.



PAPA FRANCISCO

AUDIÊNCIA GERAL

Praça São Pedro, Quarta-feira, 1 de Junho de 2022

Catequese sobre a Velhice 12. "Não me abandones quando meu vigor se extingue!" (Sal 71,9)

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

A bonita prece do idoso que encontramos no Salmo 71 (70), que acabamos de ouvir, encoraja-nos a meditar sobre a forte tensão que habita a condição da velhice, quando a memória das dificuldades superadas e das bênçãos recebidas é posta à prova da fé e da esperança.

A provação apresenta-se com a fraqueza que acompanha a passagem através da fragilidade e da vulnerabilidade da idade avançada. E o salmista – um idoso que se dirige ao Senhor – menciona explicitamente que este processo se torna ocasião de abandono, engano, prevaricação e arrogância, que às vezes recaem sobre os idosos. Uma forma de mesquinhez em que estamos a especializar-nos nesta nossa sociedade. É verdade! Nesta sociedade do descarte, nesta cultura do descarte, os idosos são postos de lado e sofrem estas situações. Com efeito, não faltam aqueles que se aproveitam da idade do idoso para o enganar, para o intimidar de mil maneiras. Lemos frequentemente nos jornais ou ouvimos notícias de pessoas idosas que são enganadas sem escrúpulos, a fim de se apoderar das suas poupanças; ou que são deixadas desprotegidas e abandonadas sem cuidados; ou que são ofendidas por formas de desprezo e intimidadas a renunciar aos seus direitos. Tais crueldades também acontecem nas famílias – e isto é grave, mas acontece inclusive nas famílias. Os idosos descartados, abandonados nas casas de repouso, sem que os filhos os visitem, ou quando vão, fazem-no poucas vezes por ano. O idoso posto precisamente num canto da existência. E isto acontece: acontece hoje, acontece nas famílias, acontece sempre. Devemos reflectir sobre isto.

A sociedade como um todo deve apressar-se a cuidar dos seus idosos – são o tesouro! – cada vez mais numerosos, e com frequência também mais abandonados. Quando ouvimos dizer que os idosos são despojados da própria autonomia, da sua segurança, até das suas casas, compreendemos que a ambivalência da sociedade actual em relação aos idosos não é um problema de emergências ocasionais, mas um traço da cultura do descarte que envenena o mundo em que vivemos. O idoso do salmo confia o seu desânimo a Deus: «Os meus inimigos já dizem de mim, e os que espiam a minha vida conspiram dizendo: “Deus abandonou-o”. Persegui-o, prendei-o porque não há ninguém para o salvar» (vv. 10-11). As consequências são fatais. A velhice não só perde a sua dignidade, como até se duvida que mereça continuar. Assim, todos somos tentados a esconder a nossa vulnerabilidade, a esconder a nossa doença, a nossa idade, a nossa velhice, porque tememos que sejam a antecâmara da nossa perda de dignidade. Perguntemo-nos: é humano induzir a este sentimento? Como pode a civilização moderna, tão avançada e eficiente, sentir tanta dificuldade diante da doença e da velhice, esconder a doença, esconder a velhice? E como pode a política, que se mostra tão empenhada em definir os limites de uma sobrevivência digna, ser ao mesmo tempo insensível à dignidade de uma convivência amorosa com os velhos e os doentes?

O ancião do salmo que ouvimos, o idoso que vê a sua velhice como uma derrota, redescobre a confiança no Senhor. Sente a necessidade de ser ajudado. E dirige-se a Deus. Comentando este salmo, Santo Agostinho exorta o idoso: «Não temas ser abandonado na tua velhice. [...] Por que temes que [o Senhor] te abandone, que Ele te rejeite na velhice, quando faltarem as tuas forças? Aliás, só então a sua força estará em ti, quando faltar a tua» (PL 36, 881-882). E o salmista idoso invoca: «Pela vossa justiça, livrai-me, libertai-me; inclinai para mim os vossos ouvidos e salvai-me. Sede para mim rocha protectora, cidadela forte para me salvar, sim, vós sois o meu rochedo e a minha fortaleza!» (vv. 2-3). A invocação testemunha a fidelidade de Deus e põe em questão a sua capacidade de despertar a consciência desviada pela insensibilidade à parábola da vida mortal, que deve ser preservada na sua integridade. Reza ainda assim: «Ó Deus, não vos afasteis de mim. Meu Deus, apressai-vos em me socorrer. Sejam confundidos e pereçam os que atentam contra a minha vida, sejam cobertos de vergonha e confusão os que procuram a minha desgraça» (vv. 12-13).

Com efeito, a vergonha deve recair sobre aqueles que se aproveitam da fraqueza da doença e da velhice. A oração renova no coração da pessoa idosa a promessa da fidelidade e bênção de Deus. O idoso redescobre a oração e dá testemunho da sua força. Nos Evangelhos, Jesus nunca rejeita a oração das pessoas que necessitam de ajuda. Devido à sua fraqueza, os idosos podem ensinar àqueles que se encontram noutras idades da vida que todos nós devemos abandonar-nos ao Senhor, para invocar a sua ajuda. Neste sentido, todos devemos aprender com a velhice: sim, há um dom em ser idoso, entendido como abandonar-se aos cuidados dos outros, a começar pelo próprio Deus.

Então, existe um “magistério da fragilidade”, não escondamos as fragilidades, não! São verdadeiras, há uma realidade e um magistério da fragilidade, que a velhice é capaz de nos lembrar de forma credível durante todo o período da vida humana. Não escondamos a velhice, não escondamos as fragilidades da velhice. Este é um ensinamento para todos nós. Este magistério abre um horizonte decisivo para a reforma da nossa civilização. Uma reforma indispensável para o benefício da convivência de todos. A marginalização dos idosos, quer conceitual quer prática, corrompe todas as fases da vida, e não apenas a da velhice. Cada um de nós pode pensar hoje nos idosos da família: como me relaciono com eles, recordo-me deles, visito-os? Procuro fazer com que nada lhes falte? Respeito-os? Os anciãos que fazem parte da minha família, mãe, pai, avô, avó, tios, amigos, cancelei-os da minha vida? Ou vou ter com eles para aprender a sabedoria, a sabedoria da vida? Lembra-te que também tu serás idoso ou idosa. A velhice chega para todos. E assim como gostarias de ser tratado ou tratada no momento da velhice, trata tu os idosos hoje. Eles são a memória da família, a memória da humanidade, a memória do país. Preservai os idosos, que são sabedoria. O Senhor conceda aos idosos que fazem parte da Igreja a generosidade desta invocação e desta provocação. Que esta confiança no Senhor nos contagie. E isto, para o bem de todos, deles, de nós e dos nossos filhos.


APELO

Desperta grande preocupação o bloqueio das exportações de cereais da Ucrânia, das quais depende a vida de milhões de pessoas, especialmente nos países mais pobres. Dirijo um veemente apelo a fim de que sejam feitos todos os esforços para resolver esta questão e para garantir o direito humano universal à alimentação. Por favor, não se use o trigo, alimento básico, como arma de guerra!


Fontes: Santa Sé; Notícias do Vaticano


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