O
último grande encontro do Papa Francisco na América Latina foi com
os jovens do Paraguai neste domingo dia 12 de Julho
O
Santo Padre ouviu os testemunhos de Liz, uma rapariga, e de um rapaz,
o Manuel.
Liz
assiste a mãe e a avó gravemente doente, Manuel viveu na pobreza e
no abandono.
O
Papa Francisco falou aos jovens de improviso (pode
ver
o discurso emitido em directo)
e entregou aos bispos do Paraguai o texto que tinha preparado e que
publicamos abaixo:
No
final da sua intervenção o Papa Francisco propôs uma oração e
pediu que cada um dos presentes a meditasse no silêncio do seu
coração:
“Senhor
Jesus, dou-Te graças por estar aqui e porque me deste irmãos como
Liz, Manuel e Orlando, dou-Te graças porque nos deste tantos irmãos
como eles.”
“Jesus,
peço-Te pelos rapazes e raparigas que não sabem que sois a sua
fortaleza, e que têm medo de viver, medo de ser felizes, têm medo
de sonhar.”
“Senhor
Jesus, dá-nos fortaleza, dá-nos um coração livre dá-nos
esperança, dá-nos amor e ensina-nos a servir. Amen.”
Paraguai,
Asunción – Litoral Costeiro, 12 de Julho de 2015
Queridos
jovens!
Enche-me
de alegria poder encontrar-me convosco, neste clima de festa.
Poder
ouvir os vossos testemunhos e partilhar o vosso entusiasmo e amor a
Jesus.
Obrigado,
D. Ricardo Valenzuela, responsável da pastoral juvenil, pelas suas
palavras! Obrigado, Manuel e Liz, pela coragem de partilhardes as
vossas vidas, oferecendo o vosso testemunho neste encontro. Não é
fácil falar das nossas coisas pessoais, e menos ainda diante de
tantas pessoas. E vós partilhastes o tesouro maior que tendes: as
vossas vicissitudes, as vossas vidas e como Jesus, pouco a pouco,
entrou nelas.
Para
responder às vossas perguntas, gostaria de realçar algumas das
coisas que partilhastes.
Manuel,
falaste mais ou menos assim: «Hoje tenho desejos, de sobra, de
servir os outros; tenho vontade de me vencer». Passaste por momentos
muito difíceis, situações muito dolorosas, mas hoje tens grande
desejo de servir, de sair, de partilhar a tua vida com os outros.
Liz
não é nada fácil ser mãe dos próprios pais, sobretudo quando se
é jovem, mas que grande sabedoria e maturidade encerram as tuas
palavras, quando nos dizias: «Hoje jogo com ela, mudo-lhe as
fraldas… Coisas todas, que hoje ofereço a Deus; e estou apenas
compensando o que mãe fez por mim».
Vós,
jovens paraguaios, sois corajosos de verdade.
Partilhastes
também como conseguistes continuar; onde encontrastes forças. Na
paróquia – dissestes ambos –, nos amigos da paróquia e nos
retiros espirituais que lá se organizavam. Duas chaves muito
importantes: os amigos e os retiros espirituais.
Os
amigos.
A
amizade é um dos presentes maiores que uma pessoa, um jovem pode ter
e pode oferecer. É verdade! Como é difícil viver sem amigos. Vede
se esta não é uma das coisas mais belas que Jesus disse:
«Chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu
Pai» (Jo 15, 15). Um dos maiores segredos do cristão radica-se no
facto de ser amigo, amigo de Jesus. Quando uma pessoa ama alguém,
permanece ao seu lado, cuida dele, ajuda-o, diz-lhe o que pensa, mas
sem o deixar caído por terra. Assim faz Jesus connosco, nunca nos
deixa caídos por terra. Os amigos apoiam-se, fazem-se companhia,
protegem-se. Assim procede o Senhor connosco. Serve-nos de apoio.
Os
retiros espirituais.
Santo
Inácio tem uma meditação famosa, chamada das duas bandeiras.
Descreve, por um lado, a bandeira do demónio e, por outro, a
bandeira de Cristo. Seria como as camisas de duas equipes; e
pergunta-nos, em qual delas gostaríamos de jogar.
Com
aquela meditação, leva-nos a imaginar como seria pertencer a uma ou
a outra equipe. Seria como perguntar: Com quem queres jogar na vida?
E
Santo Inácio diz que o demónio, para recrutar jogadores, promete
àqueles que jogam com ele riqueza, honras, glória e poder. Serão
famosos. Serão endeusados por todos.
No
lado oposto, apresenta-nos o jogo de Jesus. Não como algo
fantástico. Jesus não nos apresenta uma vida de “estrelas”,
famosos; pelo contrário, jogar com Ele é um convite à humildade,
ao amor, ao serviço aos outros. Jesus não nos mente. Toma-nos a
sério.
Na
Bíblia, o demónio é chamado o pai da mentira. Ele prometia ou,
melhor, fazia-te crer que, se fizesses certas coisas, serias feliz;
mas depois dás-te conta de que não és nada feliz; foste atrás de
algo que, longe de te dar a felicidade, fez-te sentir mais vazio,
mais triste. Amigos, o diabo, é um «vende fumaça». Promete-te,
promete-te, mas não te dá nada, nunca cumpre nada do que diz. É um
mau pagador. Faz-te desejar coisas que não depende dele que tu as
obtenhas ou não. Faz-te depositar a esperança em algo, que nunca te
fará feliz. Este é o seu jogo, esta é a sua estratégia: falar
muito, oferecer muito e não fazer nada. É um grande «vende
fumaça», porque tudo o que nos propõe é fruto da divisão, de nos
compararmos com os outros, de pisar a cabeça aos outros para
conseguirmos as nossas coisas. É um «vende fumaça», porque o
único caminho para alcançar tudo isto é pôr de lado os teus
amigos, não dar apoio a ninguém. Porque tudo se baseia na
aparência. Faz-te crer que o teu valor depende de quanto possuis.
Do
lado contrário, temos Jesus que nos oferece o seu jogo. Não nos
vende fumaça; não nos promete, aparentemente, grandes coisas. Não
nos diz que a felicidade está na riqueza, no poder, no orgulho.
Antes pelo contrário, mostra-nos que o caminho é outro. Este
Treinador diz aos seus jogadores: bem-aventurados, felizes os pobres
em espírito, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de
justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que trabalham
pela paz, os perseguidos por causa da justiça. E conclui dizendo:
Alegrai-vos com tudo isto.
Por
que motivo?
Porque
Jesus não nos mente. Mostra-nos um caminho que é vida, que é
verdade. Ele mesmo é a grande prova disso. É o seu estilo, a sua
maneira de viver a existência, a amizade, a relação com o seu Pai.
E a isto nos convida: a sentirmo-nos filhos, filhos amados.
Jesus
não te vende fumaça. Porque sabe que a felicidade verdadeira, a
felicidade que enche o coração não está nos trapos que vestimos,
nos sapatos que calçamos, na etiqueta de determinada marca. Ele sabe
que a verdadeira felicidade encontra-se em sermos sensíveis, em
aprender a chorar com os que choram, em aproximar-se de quem está
triste, em deixar chorar sobre o próprio ombro, dar um abraço. Quem
não sabe chorar, não sabe rir e, consequentemente, não sabe viver.
Jesus sabe que, neste mundo de tanta concorrência, inveja e
agressividade, a verdadeira felicidade passa por aprender a ser
pacientes, a respeitar os outros, a não condenar nem julgar ninguém.
Quem se irrita já perdeu: diz o ditado. Não abandoneis o vosso
coração à ira, ao rancor. Felizes os que têm misericórdia.
Felizes os que sabem colocar-se no lugar de outro, os que têm a
capacidade de abraçar, de perdoar. Todos experimentámos isto alguma
vez. Todos, em determinados momentos, nos sentimos perdoados: como é
bom! É como reaver a vida, ter uma nova oportunidade. Não há nada
mais belo do que ter nova oportunidade. É como se a vida voltasse a
começar. Por isso, felizes aqueles que são portadores de nova vida,
de novas oportunidades. Felizes quantos trabalham para isso, aqueles
que lutam para isso. Erros, todos cometemos; as equivocações, não
têm conta. Por isso, felizes aqueles que são capazes de ajudar os
outros a sair dos seus erros, das suas equivocações. São
verdadeiros amigos e não deixam ninguém caído por terra. Estes são
os puros de coração, aqueles que, conseguindo ver mais além da
simples nódoa, superam as dificuldades. Felizes aqueles que se fixam
especialmente na parte boa dos outros.
Liz,
tu nomeaste Chikitunga, uma Serva de Deus paraguaia. Disseste que era
como tua irmã, tua amiga, teu modelo. Ela, como muitos outros,
mostra-nos que o caminho das Bem-aventuranças é um caminho de
plenitude, um caminho possível, real; que enche o coração. Os
Santos são nossos amigos e modelos que já deixaram de jogar neste
campo, mas transformaram-se naqueles jogadores indispensáveis para
quem sempre se olha a fim de darmos o melhor de nós mesmos. Eles são
a prova de que Jesus não é um «vende fumaça», mas que a sua
proposta é mesmo de plenitude. Acima de tudo, é uma proposta de
amizade: amizade verdadeira, amizade de que todos precisamos. Amigos,
segundo o estilo de Jesus. Não para ficarmos entre nós, mas sair
pelo campo, ir fazer mais amigos. Para contagiar com a amizade de
Jesus toda a gente, onde quer que esteja, no trabalho, no estudo, na
noitada, por whastapp, no facebook ou no twitter. Quando saem para
dançar, ou estão a tomar um bom tereré. Na praça ou jogando uma
partida no campo do bairro. É aí que estão os amigos de Jesus. Não
vendendo fumaça, mas dando apoio; o apoio de saber que somos
felizes, porque temos um Pai que está no Céu.
Fonte:
Rádio Vaticano
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