Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

sábado, 24 de novembro de 2018

O ÂNGELUS NA SOLENIDADE DE CRISTO REI DO UNIVERSO


Por dois Papas vivos
o Papa emérito Bento XVI em 2009
o Papa Francisco em 2015
   
   

PAPA BENTO XVI
ÂNGELUS
Praça de São Pedro
Domingo, 22 de Novembro de 2009

Queridos irmãos e irmãs!

Neste último domingo do Ano litúrgico celebramos a solenidade de Jesus Cristo Rei do universo, uma festa instituída recentemente, mas que tem contudo profundas raízes bíblicas e teológicas.
O título "rei", referido a Jesus, é muito importante nos Evangelhos e permite fazer uma leitura completa da sua figura e da sua missão de salvação.
Pode-se observar a este propósito uma progressão: parte-se da expressão "rei de Israel" e chega-se à de rei universal, Senhor da criação e da história, portanto muito além das expectativas do próprio povo judeu.
No centro deste percurso de revelação da realeza de Jesus Cristo está mais uma vez o mistério da sua morte e ressurreição.
Quando Jesus é crucificado, os sacerdotes, os escribas e os idosos escarnecem-no dizendo: "Se é o rei de Israel, desça da cruz, e acreditaremos n'Ele" (Mt 27, 42).
Na realidade, precisamente porque é o Filho de Deus Jesus entregou-se livremente à sua paixão, e a cruz é o sinal paradoxal da sua realeza, que consiste na vontade do amor de Deus Pai sobre a desobediência do pecado.
É precisamente oferecendo-se a si mesmo no sacrifício de expiação que Jesus se torna o Rei universal, como Ele mesmo declarará ao aparecer aos Apóstolos depois da ressurreição: "Foi-Me dado todo o poder no céu e na terra" (Mt 28, 18).

Mas em que consiste o "poder" de Jesus Cristo Rei?
Não é o dos reis e dos grandes deste mundo; é o poder divino de dar a vida eterna, de libertar do mal, de derrotar o domínio da morte.
É o poder do Amor, que do mal sabe obter o bem, enternecer um coração endurecido, levar paz ao conflito mais áspero, acender a esperança na escuridão mais cerrada.
Este Reino da Graça nunca se impõe, e respeita sempre a nossa liberdade.
Cristo veio para "dar testemunho da verdade" (Jo 18, 37) – como declarou diante de Pilatos –: quem acolhe o seu testemunho, coloca-se sob a sua "bandeira", segundo a imagem querida a Santo Inácio de Loyola.
Portanto, torna-se necessária – sem dúvida – para cada consciência uma opção: quem quero seguir? Deus ou o maligno? A verdade ou a mentira?
Escolher Cristo não garante o sucesso segundo os critérios do mundo, mas assegura aquela paz e alegria que só Ele pode dar.
Demonstra isto, em todas as épocas, a experiência de tantos homens e mulheres que, em nome de Cristo, em nome da verdade e da justiça, souberam opor-se às lisonjas dos poderes terrenos com as suas diversas máscaras, até selar com o martírio esta sua fidelidade.

Queridos irmãos e irmãs, quando o Anjo Gabriel levou o anúncio a Maria, prenunciou-lhe que o seu Filho teria herdado o trono de David e reinado para sempre (cf. Lc 1, 32-33).
E a Virgem Santa acreditou ainda antes de O dar ao mundo.
Depois, sem dúvida, teve que se interrogar sobre qual novo género de realeza era a de Jesus, e compreendeu-o ouvindo as suas palavras e sobretudo participando intimamente do mistério da sua morte e ressurreição.
Peçamos a Maria que nos ajude também a nós a seguir Jesus, nosso Rei, como ela fez, e a dar testemunho dele com toda a nossa existência.




PAPA FRANCISCO
ÂNGELUS
Praça São Pedro
Domingo, 22 de Novembro de 2015

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Neste último domingo do ano litúrgico, celebramos a solenidade de Cristo Rei do universo.
E o Evangelho de hoje leva-nos a contemplar Jesus que se apresenta a Pilatos como Rei de um reino que «não é deste mundo» (Jo 18, 36).
Isto não significa que Cristo é Rei de outro mundo, mas que é Rei de outro modo, e no entanto é Rei neste mundo.
Trata-se de um contraste entre duas lógicas.
A lógica mundana está assente sobre a ambição, sobre a competição, combate com as armas do medo, da chantagem e da manipulação das consciências.
A lógica do Evangelho, ou seja a lógica de Jesus, ao contrário, exprime-se na humildade e na gratuitidade, afirma-se silenciosa mas eficazmente, com a força da verdade.
Às vezes, os reinos deste mundo baseiam-se em prepotências, rivalidades e opressões; o reino de Cristo é um «reino de justiça, de amor e de paz» (Prefácio).

Quando se revelou Jesus como Rei?
No evento da Cruz!
Quem contempla a Cruz de Cristo não pode deixar de ver a surpreendente gratuitidade do amor.
Um de vós pode dizer: «Mas Padre, isto foi um fracasso!».
É precisamente na falência do pecado — o pecado é um fracasso — na falência das ambições humanas que há o triunfo da Cruz, a gratuitidade do amor.
No fracasso da Cruz vê-se o amor, o amor que é gratuito, que Jesus nos oferece.
Para o cristão, falar de poder e de força significa fazer referência ao poder da Cruz e à força do amor de Jesus: um amor que permanece firme e íntegro, inclusive diante da rejeição, e que se manifesta como o cumprimento de uma vida dedicada na oferta total de si a favor da humanidade.
No Calvário, os transeuntes e os chefes zombam de Jesus crucificado, e lançam-lhe o desafio: «Salva-te a ti mesmo, desce da Cruz!» (Mc 15, 30).
«Salva-te a ti mesmo!».
No entanto, paradoxalmente, a verdade de Jesus é aquela que, em tom de escárnio, lhe lançam os seus adversários: «Não consegue salvar-se a si mesmo!» (v. 31).
Se Jesus tivesse descido da Cruz, teria cedido à tentação do príncipe deste mundo; ao contrário, Ele não pode salvar-se a si mesmo precisamente para poder salvar os outros, porque entregou a sua vida por nós, por cada um de nós. Dizer: «Jesus deu a sua vida pelo mundo» é verdade, mas é mais bonito afirmar: «Jesus deu a sua vida por mim!».
E hoje, aqui na praça, cada um de nós diga no seu coração: «Ele deu a sua vida por mim!», para poder salvar cada um de nós dos nossos pecados.

E quem compreendeu isto?
Quem o entendeu bem foi um dos malfeitores crucificados juntamente com Ele, chamado o «bom ladrão», que o suplica: «Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino!» (Lc 23, 42).
Mas ele era um malfeitor, um corrupto e fora condenado à morte precisamente por todas as brutalidades que tinha cometido durante a sua vida.
No entanto, na atitude de Jesus, na mansidão de Jesus, ele viu o amor.
Esta é a força do reino de Cristo: é o amor.
Por isso, a realeza de Jesus não nos oprime, mas liberta-nos das nossas debilidades e misérias, encorajando-nos a percorrer os caminhos do bem, da reconciliação e do perdão.
Contemplemos a Cruz de Jesus, olhemos para o bom ladrão e repitamos todos juntos aquilo que o bom ladrão disse: «Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino!».
Todos juntos: «Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino!».
Quando nos sentirmos frágeis, pecadores e derrotados, peçamos a Jesus que olhe para nós, dizendo-lhe: «Tu estás ali. Não te esqueças de mim!».

Diante das numerosas lacerações no mundo e das demasiadas feridas na carne dos homens, peçamos à Virgem Maria que nos ampare no nosso compromisso de imitar Jesus, nosso Rei, tornando presente o seu reino com gestos de ternura, de compreensão e de misericórdia.


Fonte: Santa Sé


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