Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

domingo, 27 de outubro de 2024

16ª ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS

 


A segunda sessão

decorreu de 2 a 27

de Outubro de 2024

   


O Documento Final do Sínodo da segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo foi aprovado este Sábado – “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. A Conferência de Imprensa ilustrou alguns pontos do texto produzido pela Assembleia Geral no Vaticano, o convite a mudar a linguagem e perspectiva: não se fala mais de Igreja universal, como uma multinacional com várias filiais, como se fosse um centro comercial com várias ramificações periféricas. Existe uma "comunhão de Igrejas" que integra cada vez mais leigos e mulheres.

O Papa Francisco concluiu a Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos no Vaticano com uma missa celebrada hoje na Basílica de São Pedro. O Santo Padre convocou a Igreja a levantar-se, escutar e caminhar ao lado dos mais vulneráveis, inspirada pelo Evangelho e movida pelo serviço e pela missão: "Deixemos de lado o manto da resignação, confiemos ao Senhor a nossa cegueira, coloquemo-nos de pé e levemos a alegria do Evangelho pelos caminhos do mundo."

Não precisamos de uma Igreja sentada e desistente, mas de uma Igreja que acolhe o grito do mundo e suja as mãos para servir o Senhor.”

Não caminhemos sozinhos ou segundo os critérios do mundo, mas juntos, como discípulos do Senhor, reforçou o Santo Padre:

"Irmãos e irmãs: não uma Igreja sentada, mas uma Igreja em pé. Não uma Igreja muda, mas uma Igreja que acolhe o grito da humanidade. Não uma Igreja cega, mas uma Igreja iluminada por Cristo, que leva aos outros a luz do Evangelho. Não uma Igreja estática, mas uma Igreja missionária, que caminha com o Senhor pelas estradas do mundo."


D. José Ornelas, Presidente da Conferência Episcopal e um dos dois delegados da CEP, valoriza «busca de caminhos comuns» para o futuro, que devem questionar as comunidades e instituições - Assembleia gerou noção da Igreja como «convergência» de pessoas e «plataforma» de escuta, aberta ao mundo.



SEGUNDA SESSÃO DA 16ª ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS (2 a 27 de Outubro de 2024) - 17ª CONGREGAÇÃO GERAL

SAUDAÇÃO FINAL DO PAPA FRANCISCO

Sala Paulo VI, Sábado, 26 de Outubro de 2024

Queridos irmãos e irmãs,

Com o Documento Final recolhemos o fruto de anos, pelo menos três, nos quais nos colocámos à escuta do Povo de Deus para compreender melhor como ser “Igreja sinodal”, à escuta do Espírito Santo, neste tempo. As referências bíblicas que abrem cada capítulo, organizam a mensagem cruzando-a com os gestos e as palavras do Senhor Ressuscitado, que nos chama a ser testemunhas do seu Evangelho mais com a vida do que com as palavras.


O Documento que votámos é um tríplice dom:

1. Para mim, Bispo de Roma (ao convocar a Igreja de Deus em Sínodo, estava consciente de que precisava de vós, Bispos e testemunhas do caminho sinodal: obrigado!).

Também o bispo de Roma, recordo-me a mim mesmo com frequência e a vós, precisa de praticar a escuta, ou melhor, quer praticar a escuta, para poder responder à Palavra que lhe repete todos os dias: «Confirma os teus irmãos e irmãs… Apascenta as minhas ovelhas».

A minha tarefa, bem o sabeis, é guardar e promover – como nos ensina São Basílio – a harmonia que o Espírito continua a difundir na Igreja de Deus, nas relações entre as Igrejas, apesar de todos os cansaços, tensões e divisões que marcam o seu caminho rumo à plena manifestação do Reino de Deus, que a visão do Profeta Isaías nos convida a imaginar como um banquete preparado por Deus para todos os povos. Todos, na esperança de que não falte ninguém. Todos! Ninguém fique de fora! Todos! E a palavra-chave é esta: a harmonia, que é obra do Espírito; a Sua primeira manifestação forte, na manhã de Pentecostes, é harmonizar todas aquelas diferenças, todas aquelas línguas, todas aquelas coisas… Harmonia! E é isso que o Concílio Vaticano II ensina quando diz que a Igreja é “como sacramento”: ela é sinal e instrumento da espera de Deus, que já preparou a mesa e está a aguardar. A sua Graça, por meio de seu Espírito, sussurra palavras de amor no coração de cada um. A nós, cabe-nos amplificar a voz desse sussurro, sem obstruí-la; abrir portas, sem erguer muros. Quanto mal causam os homens e mulheres da Igreja quando erguem muros! Não nos devemos comportar como “dispensadores da Graça” que se apropriam do tesouro, amarrando as mãos do Deus misericordioso. Lembrai-vos de que começamos esta Assembleia sinodal pedindo perdão, sentindo vergonha, reconhecendo que somos todos misericordiados.

Há um poema de Madeleine Delbrêl, a mística das periferias, que exortava: «acima de tudo, não sejas rígido» (a rigidez é um pecado que tantas vezes afecta clérigos, consagrados e consagradas); leio-vos alguns de seus versos que são uma oração. Ela diz assim:

Porque penso que talvez já te tenhas cansado

de pessoas que falam, sempre, sobre servir-te com ar de líder,

conhecer-te com ar de professor,

alcançar-te com regras desportivas,

amar-te como se ama num casamento envelhecido

Faz-nos viver a nossa vida,

não como um jogo de xadrez, em que todos os movimentos são calculados,

não como uma partida em que tudo é difícil,

não como um teorema que nos faz quebrar a cabeça,

mas como uma festa sem fim em que se renove o encontro contigo,

como um baile,

como uma dança,

entre os braços da tua graça,

na música que enche o universo de amor

Esses versos podem tornar-se a música de fundo com a qual podemos acolher o Documento Final. E agora, à luz do que emergiu a partir do caminho sinodal, há e haverá decisões a serem tomadas.

Neste tempo de guerras, devemos ser testemunhas da paz, aprendendo também a dar forma real ao convívio das diferenças.

Por isso, não tenho intenção de publicar uma “exortação apostólica”. É suficiente aquilo que aprovámos. No Documento há já indicações muito concretas que podem servir de guia para a missão das igrejas, nos diversos continentes, nos diversos contextos: por isso, coloco-o imediatamente à disposição de todos. Por isto, disse que seja publicado. Quero, deste modo, reconhecer o valor do caminho sinodal realizado, que através deste Documento entrego ao santo povo fiel de Deus.

Sobre alguns aspectos da vida da Igreja indicados no Documento, bem como sobre os temas confiados aos dez “Grupos de Estudo”, que devem trabalhar com liberdade para me apresentarem propostas, é necessário tempo para chegar a escolhas que envolvam toda a Igreja. Por isso, continuarei a escutar os Bispos e as Igrejas que lhes estão confiadas.

Não se trata de adiar indefinidamente as decisões. É o que corresponde ao estilo sinodal com que deve ser exercido também o ministério petrino: escutar, convocar, discernir, decidir e avaliar. E nestes passos, são necessárias as pausas, os silêncios e a oração. É um estilo que estamos a aprender juntos, um pouco de cada vez. O Espírito Santo chama-nos e sustenta-nos nesta aprendizagem, que devemos compreender como um processo de conversão.

A Secretaria Geral do Sínodo e todos os Dicastérios da Cúria ajudar-me-ão nesta tarefa.

2. O Documento é um dom para todo o Povo fiel de Deus, na variedade das suas expressões. É evidente que nem todos o lerão: sereis sobretudo vós, juntamente com muitos outros, que tornareis acessível o seu conteúdo nas Igrejas locais. O texto, sem o testemunho da experiência vivida, perderia muito do seu valor.

3. Queridos irmãos e irmãs, aquilo que vivenciamos é um dom que não podemos guardar para nós mesmos. O impulso que vem desta experiência, da qual o Documento é um reflexo, dá-nos a coragem de testemunhar que é possível caminhar juntos na diversidade, sem condenar-nos uns aos outros.

Vimos de todas as partes do mundo, marcados pela violência, pela pobreza, pela indiferença. Juntos, com a esperança que não desilude, unidos no amor de Deus difundido nos nossos corações, podemos não só sonhar com a paz, mas empenharmo-nos com todas as nossas forças para que, mesmo sem falar muito de sinodalidade, a paz se realize através de processos de escuta, de diálogo e de reconciliação. A igreja sinodal para a missão precisa, agora, que as palavras partilhadas sejam acompanhadas de actos. Este é o caminho!

Tudo isto é um dom do Espírito Santo: é Ele que faz harmonia; é Ele que é harmonia. São Basílio tem uma teologia muito bela sobre isso. Se podeis, lede o tratado de São Basílio sobre o Espírito Santo, que é a harmonia. Irmãos e irmãs, que a harmonia continue mesmo quando sairmos desta sala, e que o Sopro do Ressuscitado nos ajude a partilhar os dons que recebemos.

E lembrem-se – são novamente as palavras de Madeleine Delbrêl – que “há lugares onde o Espírito sopra, mas há um Espírito que sopra em todos os lugares”.

Obrigado a todos vós, agradecemo-nos uns aos outros. Agradeço o Cardeal Grech, Secretário (do Sínodo); o Cardeal Hollerich, pelo trabalho feito; os dois secretários, Ir. Nathalie e D. San Martín, que fizestes bem; e os dois “rapazes caprichosos”, Pe. Costa e Pe. Battocchio, que nos ajudaram tanto; saúdo todos estes que trabalharam “nos bastidores”, que ficam por detrás, e que sem eles não poderíamos ter feito tudo isto.

Muito obrigado! Que o Senhor vos abençoe! E rezemos uns pelos outros. Obrigado!



CONCLUSÃO DA ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS

SANTA MISSA - CAPELA PAPAL

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Basílica de São Pedro, XXX Domingo do Tempo Comum, 27 de Outubro de 2024

O Evangelho apresenta-nos Bartimeu, um cego que é obrigado a mendigar à beira do caminho, um rejeitado sem esperança que, no entanto, quando ouve Jesus passar, começa a gritar-Lhe. Só lhe resta isto: gritar a própria dor e levar a Jesus o seu desejo de recuperar a vista. E enquanto todos o repreendem por se sentirem incomodados com a sua voz, Jesus pára. Porque Deus escuta sempre o grito dos pobres e nenhum grito de dor passa despercebido diante d’Ele.

Hoje, no final da Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, trazendo no coração tanta gratidão por aquilo que pudemos partilhar, detenhamo-nos no que acontece a este homem: inicialmente, «estava sentado à beira do caminho» (Mc 10, 46) a pedir esmola, enquanto que no final, depois de ter sido chamado e de ter recuperado a vista, «seguiu Jesus pelo caminho» (v. 52).

A primeira coisa que o Evangelho nos diz sobre Bartimeu é esta: está sentado a mendigar. A sua postura é típica de uma pessoa fechada na sua própria dor, sentada à beira do caminho, como se não houvesse mais nada a fazer senão receber alguma coisa dos muitos peregrinos que, na Páscoa, passavam pela cidade de Jericó. Mas, como sabemos, para viver verdadeiramente não se pode permanecer sentado: viver é estar sempre em movimento, meter-se a caminho, sonhar, projectar, abrir-se ao futuro. Por conseguinte, o cego Bartimeu representa também essa cegueira interior que nos bloqueia, nos faz permanecer sentados, nos imobiliza à margem da vida, sem esperança.

E isso pode levar-nos a reflectir não só sobre a nossa vida pessoal, mas também sobre o nosso ser Igreja do Senhor. Ao longo do caminho, muitas coisas podem deixar-nos cegos, incapazes de reconhecer a presença do Senhor, impreparados para enfrentar os desafios da realidade, inaptos por vezes para saber responder às muitas perguntas que com brados nos dirigem, como Bartimeu faz com Jesus. Todavia, perante as interrogações dos homens e mulheres de hoje, os desafios do nosso tempo, as urgências da evangelização e as muitas feridas que afligem a humanidade, irmãs e irmãos, não podemos ficar sentados. Uma Igreja sentada, que quase sem se aperceber se afasta da vida e se confina a si mesma à margem da realidade, é uma Igreja que corre o risco de continuar na cegueira e de se acomodar no seu próprio desconforto. E se permanecemos sentados na nossa cegueira, continuaremos a não ver as nossas urgências pastorais e os muitos problemas do mundo em que vivemos. Por favor, peçamos ao Senhor, que nos dê o Espírito Santo, para que não permaneçamos sentados na nossa cegueira; cegueira que pode ser chamada mundanidade, que pode ser chamada comodidade, que pode ser chamada “coração fechado”. Não permaneçamos sentados nas nossas cegueiras!

Mas, recordemos isto: o Senhor passa, o Senhor passa todos os dias, o Senhor passa sempre e detém-se para cuidar da nossa cegueira. E eu? Sinto-O passar? Tenho a capacidade de sentir os passos do Senhor? Tenho a capacidade de discernir quando o Senhor passa? E é bonito que o Sínodo nos impulsione a ser Igreja como Bartimeu: a comunidade dos discípulos que, ouvindo passar o Senhor, sente a emoção da salvação, deixa-se despertar pela força do Evangelho e começa a gritar-Lhe. E fá-lo acolhendo o grito de todas as mulheres e de todos os homens da terra: o grito dos que querem descobrir a alegria do Evangelho e dos que, pelo contrário, se afastaram; o grito silencioso dos indiferentes; o grito dos que sofrem, dos pobres e dos marginalizados, das crianças escravizadas pelo trabalho infantil em tantas partes do mundo; a voz quebrada – ouvir a voz quebrada! – dos que já nem sequer têm força para gritar a Deus, porque não têm voz ou porque se resignaram. Não precisamos duma Igreja sentada e desistente, mas duma Igreja que acolhe o grito do mundo e – quero dizê-lo e talvez alguém se escandalize – uma Igreja que suja as mãos para servir o Senhor.

E assim chegamos ao segundo aspecto: se inicialmente Bartimeu estava sentado, no final, em vez disso, vemos que O segue pelo caminho. É uma expressão típica do Evangelho e significa: tornou-se seu discípulo, seguiu-O. Com efeito, depois de Lhe ter gritado, Jesus pára e manda-o chamar. Bartimeu, que estava sentado, levantou-se de um salto e, logo a seguir, recuperou a vista. Agora, pode ver o Senhor, pode reconhecer a ação de Deus na própria vida e, finalmente, pode caminhar atrás d’Ele. Assim também nós, irmãos e irmãs: quando estivermos sentados e acomodados, quando mesmo como Igreja não encontrarmos a força, a coragem, a audácia e a ousadia necessárias para nos levantarmos e retomarmos o caminho, por favor, lembremo-nos sempre de voltar ao Senhor, de voltar ao seu Evangelho. Retornar ao Senhor e ao Evangelho! Quando Ele passa, devemos escutar, sempre de novo, o seu chamamento, que nos põe de pé e nos faz sair da cegueira. E depois segui-Lo novamente, caminhar com Ele pelo caminho.

Gostaria de repetir: o Evangelho diz de Bartimeu que «seguiu Jesus pelo caminho». Esta é uma imagem da Igreja sinodal: o Senhor chama-nos, levanta-nos quando estamos sentados ou caídos, faz-nos recuperar uma nova visão, para que, à luz do Evangelho, possamos ver as inquietações e os sofrimentos do mundo; e assim, reerguidos pelo Senhor, experimentamos a alegria de O seguir pelo caminho. Segue-se o Senhor pelo caminho, não O seguimos fechados nas nossas comodidades, não O seguimos nos labirintos das nossas ideias: seguimo-Lo pelo caminho. E lembremo-nos sempre disto: não caminhar por conta própria ou segundo os critérios do mundo, mas caminhar juntos, pelo caminho, atrás d’Ele e caminhando com Ele.

Irmãos e irmãs: não uma Igreja sentada, mas uma Igreja em pé. Não uma Igreja muda, mas uma Igreja que acolhe o grito da humanidade. Não uma Igreja cega, mas uma Igreja iluminada por Cristo, que leva aos outros a luz do Evangelho. Não uma Igreja estática, mas uma Igreja missionária, que caminha com o Senhor pelas estradas do mundo.

E hoje, enquanto damos graças ao Senhor pelo caminho percorrido em conjunto, poderemos ver e venerar a relíquia da antiga Cátedra de São Pedro, cuidadosamente restaurada. Contemplando-a com a admiração da fé, recordemos que esta é a Cátedra do amor, é a Cátedra da unidade, é a Cátedra da misericórdia, segundo o preceito que Jesus deu ao Apóstolo Pedro de não exercer domínio sobre os outros, mas de os servir na caridade. E admirando o majestoso baldaquino de Bernini, mais resplandecente do que nunca, redescobrimos que ele enquadra o verdadeiro ponto focal de toda a Basílica, isto é, a glória do Espírito Santo. Esta é a Igreja sinodal: uma comunidade cujo primado está no dom do Espírito, que nos torna irmãos em Cristo e nos eleva até Ele.

Irmãs e irmãos, sigamos, então, com confiança o nosso caminho em conjunto. Como a Bartimeu, também hoje, a Palavra de Deus nos repete: «Coragem, levanta-te que Ele chama-te». Sinto-me chamado? Esta é a pergunta que devemos fazer-nos? Sinto-me fraco e não consigo levantar-me? Peço ajuda? Por favor, deixemos de lado o manto da resignação e confiemos ao Senhor a nossa cegueira. Coloquemo-nos de pé e levemos a alegria do Evangelho; levemo-la pelos caminhos do mundo.


Fontes: Santa Sé; Notícias do Vaticano; Agência Ecclesia; Rádio Renascença


Sem comentários:

Enviar um comentário