O Papa Francisco reflectiu
sobre o papel do Espírito Santo
na universalidade e na unidade da Igreja
Nesta Quarta-feira o Santo Padre deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o tema "O Espírito e a Esposa".
O Papa Francisco explicou que o Espírito Santo é aquele que "impele a Igreja para fora", para acolher um número crescente de povos, mas ao mesmo tempo a reúne em si, consolidando a unidade alcançada.
Santo Agostinho, recordou o Pontífice, explica a unidade realizada pelo Espírito Santo com uma imagem que se tornou clássica: «O que a alma é para o corpo humano, o Espírito Santo é para o corpo de Cristo, que é a Igreja». A imagem ajuda-nos a compreender algo importante:
“O Espírito Santo não realiza a unidade da Igreja a partir de fora; não se limita a mandar que se unam. Ele mesmo é o “vínculo de unidade”. É Ele quem faz a unidade da Igreja.”
Ao concluir sua reflexão, o Papa Francisco pediu que o Espírito Santo nos ajude a ser instrumentos de unidade e paz, não apenas na Igreja, mas também nas nossas relações pessoais. "Todos nós queremos a unidade, todos a desejamos do mais íntimo do coração; no entanto, ela é tão difícil de alcançar que, até no seio do matrimónio e da família, a união e a concórdia estão entre as coisas mais difíceis de conseguir, e ainda mais difíceis de manter.", lembrou o Papa, convidando os cristãos a seguir o exemplo de Pentecostes:
"Peçamos ao Espírito Santo que nos ajude a ser instrumentos de unidade e de paz."
PAPA FRANCISCO - AUDIÊNCIA GERAL
Praça São Pedro, Quarta-feira, 9 de Outubro de 2024
Ciclo de Catequese. O Espírito e a Esposa. O Espírito Santo conduz o povo de Deus ao encontro de Jesus, nossa esperança.
8. “Todos ficaram cheios do Espírito Santo”. O Espírito Santo nos Actos dos Apóstolos
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
No nosso itinerário de catequeses sobre o Espírito Santo e a Igreja, hoje referimo-nos ao Livro dos Actos dos Apóstolos.
A narração da descida do Espírito Santo no Pentecostes começa com a descrição de alguns sinais preparatórios - o vento impetuoso e as línguas de fogo - mas conclui-se com a afirmação: «E todos ficaram cheios do Espírito Santo» (Act 2, 4). São Lucas - que escreveu os Actos dos Apóstolos – realça que o Espírito Santo é Aquele que assegura a universalidade e a unidade da Igreja. O efeito imediato de ficar “cheios do Espírito Santo” é que os Apóstolos «começaram a falar noutras línguas» e saíram do Cenáculo para anunciar Jesus Cristo à multidão (cf. Act 2, 4 ss.).
Agindo assim, Lucas quis frisar a missão universal da Igreja, como sinal de uma nova unidade entre todos os povos. Vemos de duas maneiras que o Espírito trabalha pela unidade. Por um lado, impele a Igreja para fora, a fim de que possa acolher cada vez mais pessoas e povos; por outro, reúne-a no seu interior para consolidar a unidade alcançada. Ensina-a a dilatar-se na universalidade e a reunir-se na unidade. Universal e una: este é o mistério da Igreja.
O primeiro dos dois movimentos - a universalidade - vemo-lo em acção no capítulo 10 dos Actos, no episódio da conversão de Cornélio. No dia de Pentecostes, os Apóstolos tinham anunciado Cristo a todos os judeus e observantes da Lei Mosaica, independentemente do povo a que pertencessem. É preciso outro “pentecostes”, muito semelhante ao primeiro, o da casa do centurião Cornélio, para induzir os Apóstolos a dilatar o horizonte e derrubar a última barreira, aquela que separa judeus e pagãos (cf. Act 10-11).
A esta expansão étnica acrescenta-se a geográfica. Paulo – lê-se ainda nos Actos dos Apóstolos (cf. 16, 6-10) - queria anunciar o Evangelho numa nova região da Ásia Menor; mas, está escrito, «o Espírito Santo impediu-o»; queria ir à Bitínia «mas o Espírito de Jesus não o permitiu». Descobre-se imediatamente a razão destas surpreendentes proibições do Espírito: na noite seguinte, em sonho, o Apóstolo recebeu a ordem de passar à Macedónia. Assim, o Evangelho saiu da Ásia natal e entrou na Europa.
O segundo movimento do Espírito Santo - aquele que cria a unidade - vemo-lo em acção no capítulo 15 dos Actos, durante a realização do chamado Concílio de Jerusalém. O problema é como fazer com que a universalidade alcançada não comprometa a unidade da Igreja. O Espírito Santo nem sempre realiza a unidade de maneira repentina, com intervenções milagrosas e decisivas, como no Pentecostes. Fá-lo também - e na maior parte dos casos - com um trabalho discreto, respeitador dos tempos e das divergências humanas, passando por pessoas e instituições, oração e confronto. De uma forma, diríamos hoje, sinodal. Foi o que aconteceu, efectivamente, no Concílio de Jerusalém, sobre a questão das obrigações da Lei Mosaica a impor aos convertidos do paganismo. A sua solução foi anunciada a toda a Igreja, com as conhecidas palavras: «Decidimos, o Espírito Santo e nós...» (Act 15, 28).
Santo Agostinho explica a unidade realizada pelo Espírito Santo com uma imagem que se tornou clássica: «O que a alma é para o corpo humano, o Espírito Santo é para o corpo de Cristo, que é a Igreja» (Discursos, 267, 4). Esta imagem ajuda-nos a compreender algo importante. O Espírito Santo não realiza a unidade da Igreja a partir de fora; não se limita a mandar que se unam. Ele mesmo é o “vínculo de unidade”. É Ele quem faz a unidade da Igreja.
Como sempre, concluímos com um pensamento que nos ajuda a passar do conjunto da Igreja para cada um de nós. A unidade da Igreja é a unidade entre pessoas e não se realiza de modo abstracto, mas na vida. Realiza-se na vida! Todos nós queremos a unidade, todos a desejamos do mais íntimo do coração; no entanto, ela é tão difícil de alcançar que, até no seio do matrimónio e da família, a união e a concórdia estão entre as coisas mais difíceis de conseguir, e ainda mais difíceis de manter.
O motivo - pelo qual a unidade entre nós é difícil - é que cada um quer, sim, que a unidade seja alcançada, mas em volta do próprio ponto de vista, sem pensar que o outro que está à sua frente pensa exactamente o mesmo sobre o “seu” ponto de vista. Por este caminho, a unidade só se afasta. A unidade de vida, a unidade do Pentecostes, segundo o Espírito, só se alcança quando nos esforçamos por colocar Deus, e não a nós próprios, no centro. Também a unidade dos cristãos se constrói assim: não esperando que os outros venham ao nosso encontro, onde estamos, mas caminhando juntos rumo a Cristo.
Peçamos ao Espírito Santo que nos ajude a ser instrumentos de unidade e de paz.
Fontes: Santa Sé; Notícias do Vaticano
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