"Esta é a hora do amor!
Olhem para Cristo
e aproximem-se Dele"
O Papa Leão XIV presidiu à Missa de início do seu ministério petrino numa Praça São Pedro cheia de fiéis e autoridades civis e religiosas. Antes da cerimónia, o Pontífice passou de papa-móvel, pela primeira vez, por entre as 200 mil pessoas presentes, que se aglomeram também na “Via della Conciliazione” que dá acesso à Praça.
A cerimónia solene teve início dentro da Basílica do Vaticano, em oração diante do túmulo do Apóstolo São Pedro, com os Patriarcas das Igrejas Orientais. De lá, o Evangeliário, o Pálio e o Anel do Pescador foram levados em procissão para o Altar no adro da Praça São Pedro, enquanto o coro entoava a ladainha de todos os santos.
Após a proclamação do Evangelho, três cardeais das três ordens (diáconos, presbíteros e bispos) aproximaram-se de Leão XIV para o momento das insígnias episcopais “petrinas”: o cardeal Mario Zenari impôs-lhe o Pálio e o cardeal Luis Antonio Tagle entregou-lhe o Anel do Pescador, num dos momentos mais tocantes da missa, com o Papa contendo a emoção. A cerimónia prosseguiu com o rito simbólico de “obediência”, prestado ao Papa por doze representantes de todas as categorias do Povo de Deus, provenientes de várias partes do mundo. Na sequência, o Santo Padre pronunciou a sua homilia.
O Papa Leão XIV saudou todos “com o coração cheio de gratidão” e uma das frases mais célebres de Santo Agostinho: «Criaste-nos para Ti, [Senhor], e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti».
“Fui escolhido sem qualquer mérito e, com temor e tremor, venho até vós como um irmão que quer ser servo da vossa fé e da vossa alegria, caminhando convosco no caminho do amor de Deus, que nos quer a todos unidos numa só família.”
“Irmãos e irmãs, gostaria que fosse o nosso primeiro grande desejo: uma Igreja unida, sinal de unidade e de comunhão, que se torne fermento para um mundo reconciliado.”
“Juntos, como um só povo, como todos irmãos, caminhemos para Deus e amemo-nos uns aos outros.”
CELEBRAÇÃO
EUCARÍSTICA PARA O INÍCIO DO MINISTÉRIO PETRINO DO BISPO DE ROMA
LEÃO XIV
Capela Papal
HOMILIA DE SUA SANTIDADE O PAPA
LEÃO XIV
Praça
de São Pedro, Domingo, 18 de Maio
de 2025
Caros
irmãos Cardeais, irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, Distintas
Autoridades e Membros do Corpo Diplomático!
Saudações aos
peregrinos que vieram por ocasião do Jubileu das Confrarias!
Irmãos
e irmãs, saúdo-vos a todos, com o coração cheio de gratidão, no
início do ministério que me foi confiado. Santo Agostinho escreveu:
“Criaste-nos para Ti, [Senhor], e o nosso coração está inquieto
enquanto não repousar em Ti” (Confissões, 1, 1.1).
Nestes
últimos dias, vivemos um momento particularmente intenso. A morte do
Papa Francisco encheu os nossos corações de tristeza e, naquelas
horas difíceis, sentimo-nos como aquelas multidões de que o
Evangelho diz que eram “como ovelhas sem pastor” (Mt
9,36). No próprio dia de Páscoa recebemos a sua bênção final e,
à luz da Ressurreição, enfrentamos este momento na certeza de que
o Senhor nunca abandona o seu povo, reúne-o quando está disperso e
«guarda-o como um pastor guarda o seu rebanho» (Jr 31, 10).
Com
este espírito de fé, o Colégio Cardinalício reuniu-se para o
Conclave; Vindo de histórias e caminhos diferentes, colocamos nas
mãos de Deus o desejo de eleger o novo sucessor de Pedro, o Bispo de
Roma, um pastor capaz de guardar a rica herança da fé cristã e, ao
mesmo tempo, de olhar longe, para enfrentar as questões, as
preocupações e os desafios de hoje. Acompanhados pelas vossas
orações, sentimos a obra do Espírito Santo, que soube afinar os
diferentes instrumentos musicais, fazendo vibrar as cordas dos nossos
corações numa só melodia.
Fui escolhido sem qualquer mérito
e, com temor e tremor, venho até vós como um irmão que quer
ser servo da vossa fé e da vossa alegria, caminhando convosco no
caminho do amor de Deus, que nos quer a todos unidos numa só
família.
Amor e unidade: eis as duas dimensões da
missão confiada a Pedro por Jesus.
É
o que nos diz o excerto do Evangelho, que nos leva ao lago de
Tiberíades, o mesmo lugar onde Jesus iniciou a missão recebida do
Pai: “pescar” a humanidade para a salvar das águas do mal e da
morte. Passando pela margem daquele lago, Ele chamou Pedro e os
outros primeiros discípulos para serem como Ele “pescadores de
homens”; e agora, depois da ressurreição, cabe-lhes continuar
esta missão, lançar a rede uma e outra vez para mergulhar a
esperança do Evangelho nas águas do mundo, navegar no mar da vida
para que todos se possam encontrar no abraço de Deus.
Como pode
Pedro executar esta tarefa? O Evangelho diz-nos que isto só é
possível porque cada um experimentou na sua própria vida o amor
infinito e incondicional de Deus, mesmo na hora do fracasso e da
negação. Por isso, quando Jesus se dirige a Pedro, o Evangelho
utiliza o verbo grego agapao, que se refere ao amor que Deus
tem por nós, à sua oferta de Si mesmo sem reservas e sem cálculos,
diferente daquele que é utilizado para a resposta de Pedro, que
descreve, pelo contrário, o amor de amizade que trocamos entre nós.
Quando
Jesus pergunta a Pedro: "Simão, filho de João, amas-Me?".
(Jo 21,16), refere-se, portanto, ao amor do Pai. É como se
Jesus lhe dissesse: só se tiveres conhecido e experimentado este
amor de Deus, que nunca falha, poderás apascentar os meus cordeiros;
só no amor de Deus Pai podereis amar os vossos irmãos com algo
“mais”, isto é, oferecendo a vida pelos vossos irmãos.
A
Pedro é, pois, confiada a tarefa de “amar mais” e de dar a vida
pelo rebanho. O ministério de Pedro é marcado precisamente por este
amor abnegado, porque a Igreja de Roma preside na caridade e a sua
verdadeira autoridade é a caridade de Cristo. Nunca se trata de
capturar os outros através da opressão, da propaganda religiosa ou
de meios de poder, mas sempre e só de amar como Jesus amou.
Ele
– diz o próprio apóstolo Pedro – «é a pedra que foi rejeitada
por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular» (Act
4,11). E se a rocha é Cristo, Pedro deve apascentar o rebanho sem
nunca ceder à tentação de ser um líder solitário ou um chefe
colocado acima dos outros, fazendo-se senhor do povo que lhe foi
confiado (cf. 1Pe 5,3); pelo contrário, ele é chamado a
servir a fé dos seus irmãos, caminhando junto com eles: de facto,
todos nós somos constituídos “pedras vivas” (1Pe
2,5), chamados com o nosso Baptismo a construir o edifício de Deus
na comunhão fraterna, na harmonia do Espírito, na convivência das
diversidades. Como afirma Santo Agostinho: “A Igreja é composta
por todos aqueles que estão em harmonia com os seus irmãos e que
amam o próximo” (Discurso 359, 9).
Este,
irmãos e irmãs, gostaria que fosse o nosso primeiro grande desejo:
uma Igreja unida, sinal de unidade e de comunhão, que se torne
fermento para um mundo reconciliado.
No nosso tempo, ainda
vemos muita discórdia, muitas feridas causadas pelo ódio, pela
violência, pelo preconceito, pelo medo do diferente e um paradigma
económico que explora os recursos da Terra e marginaliza os mais
pobres. E queremos ser, dentro desta massa, um pequeno fermento de
unidade, de comunhão, de fraternidade. Queremos dizer ao mundo, com
humildade e alegria: olha para Cristo! Aproxima-te mais Dele! Acolhe
a sua Palavra que ilumina e consola! Ouve a sua proposta de amor para
nos tornarmos a sua única família: num só Cristo somos um.
E é este o caminho que devemos percorrer juntos, entre nós, mas
também com as Igrejas cristãs irmãs, com os que seguem outros
caminhos religiosos, com os que cultivam a inquietação da busca de
Deus, com todas as mulheres e homens de boa vontade, para construir
um mundo novo no qual reine a paz.
Este é o espírito
missionário que nos deve animar, sem nos fecharmos no nosso pequeno
grupo nem nos sentirmos superiores ao mundo; somos chamados a
oferecer a todos o amor de Deus, para que se realize aquela unidade
que não anula as diferenças, mas valoriza a história pessoal de
cada um e a cultura social e religiosa de cada povo.
Irmãos,
irmãs, esta é a hora do amor! A caridade de Deus que nos torna
irmãos entre nós é o coração do Evangelho e, com o meu
predecessor Leão XIII, hoje podemos perguntar-nos: se este critério
"prevalecesse no mundo, não cessaria imediatamente toda a
dissensão e não regressaria talvez a paz?" (Carta Encíclica
Rerum novarum, 21).
Com a luz e a força do Espírito
Santo, construamos uma Igreja fundada no amor de Deus e sinal de
unidade, uma Igreja missionária que abre os braços ao mundo, que
anuncia a Palavra, que se deixa perturbar pela história e que se
torna fermento de harmonia para a humanidade.
Juntos,
como um só povo, como todos irmãos, caminhemos para Deus e
amemo-nos uns aos outros.
Fontes: Santa Sé; Notícias do Vaticano
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