Dia 3 de Abril, Domingo da Divina Misericórdia, a Vigararia de Paços
de Ferreira e a Diocese do Porto promovem a trasladação dos restos
mortais da venerável Sílvia Cardoso
A
trasladação dos restos mortais da «missionária itinerante» da
misericórdia D. Sílvia está prevista para as 15H00, com a saída
dos restos mortais do cemitério paroquial para o pavilhão
municipal de Paços de Ferreira onde será celebrada a Eucaristia,
presidida por D. António Francisco dos Santos, Bispo do Porto.
No
final da Eucaristia, organiza-se um cortejo litúrgico para a igreja
paroquial, onde os restos mortais serão depositados na nova capela
tumular.
À
Agência Ecclesia, o nosso Bispo D. António realçou as três
dimensões da personalidade de Sílvia Cardoso: a caridade, a
formação e a itinerância:
“A
caridade, ela procurou fazer o bem aos pobres: D. Sílvia era de
família com recursos económicos, mas soube reparti-los e
distribuí-los, soube colocar a fortuna de família ao serviço dos
que mais precisavam”;
“Na
formação, ela sentia que Portugal precisava de formação dos
leigos, sobretudo das gerações mais novas, e dedicou-se à
iniciativa de retiros espirituais e aos centros de formação”;
“Depois
a terceira dimensão, muito particular, ela era itinerante, ela sabia
que a Igreja é missão e isso vem ao encontro do lema do nosso plano
pastoral diocesano: fazer da “alegria do evangelho” a nossa
missão e proclamar as bem-aventuranças”.
Da vida e obra de D. Sílvia Cardoso, transcrevemos o
DECRETO SOBRE AS VIRTUDES publicado pela Congregação para as Causas
dos Santos:
DECRETO
SOBRE AS VIRTUDES
«A
minha alma suspira e anseia pelos átrios do Senhor. O meu coração
e o meu ser exultaram no Deus vivo». (Sl 84, 3)
A
Serva de Deus Sílvia Cardoso Ferreira da Silva, com o coração
imerso no mistério divino, progrediu no caminho da santidade e
exerceu um apostolado múltiplo e variegado para o bem da Igreja e da
sociedade.
Esta
fervorosa cristã leiga nasceu na vila de Paços de Ferreira, perto
do Porto, no dia 26 de Julho de 1882, numa família bastante rica e
muito católica.
No
ano seguinte foi levada com os pais para o Brasil, onde viveu até
1889, ano em que a família regressou à pátria.
Desde
a adolescência a Serva de Deus manifestou apreço à oração e
dedicação ao próximo, particularmente aos mais carenciados.
No
ano de 1912, por influência da família, ficou noiva de um primo
descrente, mas este tendo-se convertido a Deus, morreu
repentinamente, deixando à noiva todos os seus bens e propriedades.
Então,
provida também de património, a Serva de Deus aplicou-se com mais
intensidade às obras de caridade para com os pobres e carenciados,
de tal modo que foi contagiada pela “febre espanhola”.
No
ano de 1917, durante uns Exercícios Espirituais, emitiu o voto de
castidade perpétua.
E,
recordada dos muitos frutos que neles tinha alcançado, compreendeu
que os Exercícios Espirituais eram da maior importância para os
leigos.
Por
isso em 1923 fundou a primeira casa de Retiros para leigos na
povoação de Sequeiros, perto do Porto.
Dois
anos mais tarde inscreveu-se na “Liga dos Servos de Jesus”, que
era uma associação laical fundada pelo Servo de Deus D. João de
Oliveira Matos, bispo auxiliar da Guarda, com o fim de animar a
santificação e o apostolado dos membros, e de se tornarem
animadores das obras e associações já existentes nas paróquias.
No
ano de 1926, no decorrer de uma peregrinação a Lourdes e a Lisieux,
foi movida por um impulso divino a oferecer a sua vida para a
instituição de uma obra para a salvação das almas.
No
ano de 1928, na sequência dos Exercícios Espirituais, quis emitir o
“voto de vítima”, que consistia em dedicar muitas horas à
oração e à penitência, e a deslocar-se por vilas e aldeias a
animar a conversão dos pecadores.
Nessa
altura conheceu a Comunidade chamada “Obra de Cedofeita” (do nome
de uma antiga rua do Porto), fundada pelo P. Pinto da Rocha e sua
irmã, e quis fundar uma obra nova para a pregação de missões e
para promover os Exercícios Espirituais.
Com
este fim comprou uma casa chamada “Quinta Amarela”, que seria o
centro principal das missões.
Encarregou
das obras sociais a sua primeira companheira e reservou para si o
apostolado e os Exercícios Espirituais.
No
ano de 1939, o Patriarca de Lisboa orientou-a para a Acção
Católica, fundada como instrumento de formação para uma nova
geração de leigos.
Naquele
tempo, a Serva de Deus preparou muitos Exercícios Espirituais
principalmente nas Dioceses de Coimbra, Guarda e Évora.
A
vida da Serva de Deus decorria numa época singularmente difícil
para Portugal, quando o liberalismo e o laicismo cresciam fortemente,
sobretudo depois das perturbações devidas à instauração do
regime republicano no ano de 1910, que decretou leis contra a Igreja,
para que expressa e certamente afugentassem a fé Católica de
Portugal.
Nestas
circunstâncias a obra da Serva de Deus foi de grande valor, pois na
sua condição de cristã leiga, ela agiu com todo o esforço e
indústria pelo bem da Igreja e a salvação das almas; distinguiu-se
pelas suas obras na Igreja portuguesa do século XX e mereceu a sua
estima.
Viveu
com notável piedade e sentido da religião, na oração, na
participação da Eucaristia, no culto Mariano e, numa palavra, na
total oblação de si mesma.
Despendeu
as suas forças pelo bem espiritual e social de todas as categorias
de pessoas, ajudou sempre intensa e generosamente os Pastores da
Igreja na resolução das situações mais difíceis, na promoção
de Exercícios Espirituais e no apostolado dos leigos.
Animou
com grande envolvimento a restauração da Igreja e a acção
apostólica, e depois distinguiu-se na propagação especial da Acção
Católica, no que ainda hoje é tida como exemplo.
Em
1948 os médicos identificaram no seu estômago sintomas de tumor.
Desprezando
a notícia, a Serva de Deus não suspendeu a sua acção
evangelizadora: fundou na cidade de Espinho uma instituição chamada
“Patronato da Divina Providência”, que dirigiu durante ano e
meio, e depois confiou a uma comissão de leigos.
No
mesmo ano, em conjunto com uma comissão de senhoras, fundou a
chamada “Obra da Redenção”, para a protecção das jovens.
Em
1950 deu origem no Porto ao Lar de Santa Rita para a protecção de
mulheres.
Esgotada
da saúde, mas sustentada por uma fé muito forte, deixou esta vida
mortal na vila de Paços de Ferreira, no dia 2 de Novembro de 1950.
A
fama de santidade foi ilustrada pelo Inquérito diocesano que
decorreu na Cúria do Porto de 6 de Junho de 1984 a 23 de Junho de
1992, cuja validade jurídica foi aprovada por esta Congregação
para as Causas dos Santos por decreto de 22 de Outubro de 1993.
Redigida
e apresentada a Positio, foi debatido segundo as normas, se a Serva
de Deus cultivou as virtudes de modo heróico.
No
dia 4 de Outubro de 2011, na reunião específica dos Consultores
Teólogos, a resposta foi positiva.
Os
Padres Cardeais e os Bispos reuniram-se em Sessão Ordinária, a 8 de
Janeiro de 2013, estando eu, Cardeal Angelo Amato, como presidente, e
reconheceram que a Serva de Deus tinha cultivado as virtudes
teologais, cardeais e afins em grau heróico.
Por
fim, feita relação cuidada de todas estas coisas ao Sumo Pontífice
Francisco pelo abaixo assinado Cardeal Prefeito, Sua Santidade, tendo
recebido e aprovado os pareceres da Congregação para as Causas dos
Santos, no dia de hoje declarou: Que consta das virtudes teologais
da Fé, Esperança e Caridade quer para com Deus quer para com o
próximo, e também das virtudes cardeais da Prudência, Justiça,
Temperança e Fortaleza, e afins, em grau heróico, da
Serva de Deus Sílvia Cardoso Ferreira da Silva, Cristã Leiga, no
caso e para o efeito de que aqui se trata.
Ordenou
também que este decreto seja publicado e que seja registado nas
actas da Congregação para as Causas dos Santos.
Dado
em Roma, no dia 27 de Março de 2013.
ANGELO
CARDEAL AMATO, S.D.B.
Prefeito
MARCELO
BARTOLUCCI
Arcebispo
tit. Mevaniense
Secretário
A
obra de Sílvia Cardoso:
Mais informação no portal da Causa de Beatificação de Sílvia Cardoso
Pode
acompanhar em directo os vários momentos desta cerimónia, assim
como depoimentos sobre Sílvia Cardoso, através da transmissão da
Agência Ecclesia a partir das 14H00:
Fontes:
Diocese do Porto; Agência Ecclesia; Causa de Beatificação de
Sílvia Cardoso
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