Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

sexta-feira, 1 de julho de 2016

NOVO NOME DO INIMIGO

Cónego António Rego

Não tenho aquilo a que se poderia chamar “amplitude política” para fazer uma análise, ainda que superficial, das consequências, a breve e longo prazo, da saída da Inglaterra da União Europeia.
Soou-me a um bater de porta ruidoso por razões escondidas que foram variando consoante ia decorrendo a campanha.
  
  
Um referendo, sendo um acto político e fortemente popular, tem características próprias e um tipo de questões que se fecha no sim ou não “e não se fala mais nisso”.
Recordo-me do tempo em que em Portugal não era permitido até que se remexeu na Constituição.
E não tendo oferecido dados novos, sacudiu a lógica de alguns elementos patrimoniais da sociedade portuguesa que, entrando no terreno dos referendáveis, alteraram a formulação e o espírito do voto livre a que cada cidadão tem direito.

O que agora se passou no Reino Unido escondeu razões que ninguém gostaria de assumir frontalmente como por exemplo ser xenófobo, inimigo dos estrangeiros, tal como não há muito causava repugnância natural aceitar-se como nazi ou mesmo fascista.
A verdade é que os tempos mudam e a defesa de valores também, bem como o seu significado.
Perguntamos como se acomoda numa consciência cristã – católica ou não – a declaração do estrangeiro como inimigo público, a rejeitar da nossa casa, em contradição frontal com o Evangelho.
Este inimigo tem hoje um nome: refugiado.
Creio mesmo que sem este novo dado na nossa comunidade europeia este referendo não teria existido.
Por outras palavras, cada palácio faz a sua lista de convidados e não aceita que outros lhe alterem o protocolo, de forma a tornar deselegantes as passeatas pela passadeiras vermelhas que atravessam os jardins verdes das casas reais.
E quando um povo alimenta o seu imaginário como se habitasse um palácio, facilmente se rearma nos seus castelos para evitar a entrada de estranhos.

Cónego António Rego


Fonte: Artigo de opinião no Semanário Ecclesia de 1 de Julho de 2016


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