Cónego
António Rego
Não
tenho aquilo a que se poderia chamar “amplitude política” para
fazer uma análise, ainda que superficial, das consequências, a
breve e longo prazo, da saída da Inglaterra da União Europeia.
Soou-me
a um bater de porta ruidoso por razões escondidas que foram
variando consoante ia decorrendo a campanha.
Um
referendo, sendo um acto político e fortemente popular, tem
características próprias e um tipo de questões que se fecha no sim
ou não “e não se fala mais nisso”.
Recordo-me
do tempo em que em Portugal não era permitido até que se remexeu na
Constituição.
E
não tendo oferecido dados novos, sacudiu a lógica de alguns
elementos patrimoniais da sociedade portuguesa que, entrando no
terreno dos referendáveis, alteraram a formulação e o espírito do
voto livre a que cada cidadão tem direito.
O
que agora se passou no Reino Unido escondeu razões que ninguém
gostaria de assumir frontalmente como por exemplo ser xenófobo,
inimigo dos estrangeiros, tal como não há muito causava repugnância
natural aceitar-se como nazi ou mesmo fascista.
A
verdade é que os tempos mudam e a defesa de valores também, bem
como o seu significado.
Perguntamos
como se acomoda numa consciência cristã – católica ou não – a
declaração do estrangeiro como inimigo público, a rejeitar da
nossa casa, em contradição frontal com o Evangelho.
Este
inimigo tem hoje um nome: refugiado.
Creio
mesmo que sem este novo dado na nossa comunidade europeia este
referendo não teria existido.
Por
outras palavras, cada palácio faz a sua lista de convidados e não
aceita que outros lhe alterem o protocolo, de forma a tornar
deselegantes as passeatas pela passadeiras vermelhas que atravessam
os jardins verdes das casas reais.
E
quando um povo alimenta o seu imaginário como se habitasse um
palácio, facilmente se rearma nos seus castelos para evitar a
entrada de estranhos.
Cónego
António Rego
Fonte:
Artigo de opinião no Semanário Ecclesia de 1 de Julho de 2016
Sem comentários:
Enviar um comentário