Na catequese de Quarta-feira o Papa Francisco disse que não podemos ensinar a Deus o que deve fazer mas devemos confiar nele que mesmo da morte sabe obter vida
No
centro da sua reflexão a figura bíblica de Judite.
Mulher
«de grande beleza e sabedoria» mas sobretudo «de coragem», Judite
fala com «a força de um profeta» e indica aos homens «o caminho
da confiança» em Deus, afirmou o Papa na audiência geral de
quarta-feira 25 de Janeiro, na Sala Paulo VI, dedicando a catequese à
personagem bíblica que «restitui força ao seu povo em perigo
mortal e leva-o pelos caminhos da esperança».
Pedimos
ao Senhor vida, saúde, afectos, felicidade; e é justo fazê-lo, mas
com a consciência de que até da morte Deus sabe haurir vida, que é
possível experimentar a paz inclusive na doença e que até na
solidão pode haver serenidade, e bem-aventurança no pranto.
A
catequese do Papa Francisco:
AUDIÊNCIA
GERAL
Quarta-feira,
25 de Janeiro de 2017
Bom
dia, estimados irmãos e irmãs!
Entre
as figuras femininas que o Antigo Testamento nos apresenta, sobressai
a de uma grande heroína do povo: Judite.
O
Livro bíblico que tem o seu nome descreve a imponente campanha
militar do rei Nabucodonosor que, reinando em Nínive, amplia os
confins do império derrotando e subjugando todos os povos ao seu
redor.
O
leitor entende que se encontra diante de um inimigo grande e
invencível, que semeia morte e destruição, e chega até à Terra
Prometida, pondo em perigo a vida dos filhos de Israel.
Com
efeito, o exército de Nabucodonosor, sob a guia do general
Holofernes, impõe o cerco a uma cidade da Judeia, Betúlia,
interrompendo o fornecimento de água, minando assim a resistência
da população.
A
situação torna-se dramática, a tal ponto que os habitantes da
cidade vão ter com os anciãos para lhes pedir que se rendam aos
inimigos.
As
suas palavras são desesperadas: «Agora não há ninguém para nos
socorrer, e Deus entregou-nos nas mãos deles, para morrermos de
sede, na miséria extrema».
Chegaram
a dizer isto: “Deus entregou-nos nas mãos deles”; o desespero
daquela gente era grande.
Entregai
toda a cidade em cativeiro ao povo de Holofernes e a todo o seu
exército» (Jt 7, 25-26).
O
fim já parece iniludível, esgotou-se a capacidade de se confiar a
Deus.
E
quantas vezes nós chegamos a situações limite, quando nem sequer
sentimos a capacidade de ter confiança no Senhor.
É
uma tentação horrível!
E,
paradoxalmente, parece que para fugir da morte não há outra coisa a
fazer, a não ser entregar-se nas mãos de quem mata.
Sabem
que estes soldados entrarão para saquear a cidade, raptar as
mulheres como escravas e depois matar todos os outros.
É
exactamente este «o limite».
E
diante de tanto desespero, o chefe do povo procura propor um pretexto
de esperança: resistir mais cinco dias, à espera da intervenção
salvífica de Deus.
Mas
é uma esperança frágil, que o leva a concluir: «Mas se esses
cinco dias passarem sem que nos venha o socorro, então farei segundo
o que dizeis» (7, 25).
Pobrezinho:
estava sem saída.
Concedem
cinco dias a Deus — e nisto consiste o pecado — são concedidos
cinco dias a Deus para intervir; cinco dias de espera, mas já na
perspectiva do fim.
Concedem
cinco dias a Deus para os salvar, mas sabem que não têm confiança,
esperam o pior.
Na
realidade, no meio do povo já ninguém é capaz de esperar.
Estavam
desesperados.
É
nesta situação que Judite entra em cena.
Viúva,
mulher de grande beleza e sabedoria, fala ao povo com a linguagem da
fé.
Corajosa,
repreende o povo na cara (dizendo): «Agora tentais o Senhor
Todo-Poderoso [...].
Não,
irmãos, não provoqueis o Senhor nosso Deus!
Se
não quiser ajudar-nos nestes cinco dias, Ele tem o poder, nos dias
que quiser, para nos ajudar ou então para nos exterminar diante dos
nossos inimigos. [...] Por isso, aguardando a salvação da sua
parte, supliquemos-lhe que venha em nosso auxílio e Ele escutará a
nossa voz, se bem lhe aprouver» (8, 13.14-15.17).
É
a linguagem da esperança!
Batamos
à porta do Coração de Deus, Ele é Pai e pode salvar-nos!
Aquela
mulher, viúva, corre o risco de fazer má figura diante dos outros!
Mas
é corajosa, vai em frente!
Esta
é a minha opinião: as mulheres são mais corajosas do que os homens
(aplausos na sala).
E
com a força de um profeta, Judite repreende os homens do seu povo
para os reconduzir à confiança em Deus; com o olhar de um profeta,
ela vê mais além do horizonte limitado proposto pelos chefes e que
o medo torna ainda mais restrito.
Sem
dúvida Deus intervirá — afirma ela — enquanto a proposta dos
cinco dias de espera é um modo para o tentar e para se subtrair à
sua vontade.
O
Senhor é Deus de salvação — e crê nisto — independentemente
da forma que ela assuma.
Libertar-se
dos inimigos e deixar viver é salvação, mas nos seus planos
insondáveis também a entrega à morte pode ser salvação.
Como
mulher de fé, ela sabe isto.
Depois,
conhecemos o fim, como termina a história: Deus salva.
Caros
irmãos e irmãs, nunca coloquemos condições a Deus mas, ao
contrário, deixemos que a esperança vença os nossos receios.
Confiar
em Deus quer dizer entrar nos seus desígnios sem nada pretender,
aceitando inclusive que a sua salvação e o seu auxílio cheguem a
nós de modo diverso das nossas expectativas.
Pedimos
ao Senhor vida, saúde, afectos, felicidade; e é justo fazê-lo, mas
com a consciência de que até da morte Deus sabe haurir vida, que é
possível experimentar a paz inclusive na doença e que até na
solidão pode haver serenidade, e bem-aventurança no pranto.
Não
somos nós que podemos ensinar a Deus o que Ele deve fazer, aquilo de
que temos necessidade.
Ele
sabe-o melhor do que nós e devemos ter confiança porque os seus
caminhos e os seus pensamentos são diferentes dos nossos.
A
senda que Judite nos indica é a via da confiança, da espera na paz,
da oração e da obediência.
É
o caminho da esperança.
Sem
fáceis resignações, fazendo tudo o que está ao nosso alcance, mas
permanecendo sempre no sulco da vontade do Senhor, porque — bem
sabemos — ela rezou muito, falou tanto ao povo e depois partiu com
coragem para procurar o modo de se aproximar do chefe do exército e
conseguiu cortar-lhe a cabeça, degolá-lo.
É
intrépida na fé e nas obras.
E
procura sempre o Senhor!
Com
efeito, Judite tem um plano, coloca-o em prática com sucesso e leva
o povo à vitória, mas sempre com a atitude de fé de quem aceita
tudo das mãos de Deus, convicta da sua bondade.
Deste
modo, uma mulher cheia de fé e de coragem dá nova força ao seu
povo em perigo mortal e leva-o pelos caminhos da esperança,
apontando-o também a nós.
Quanto
a nós, se tivermos um pouco de memória, quantas vezes ouvimos
palavras sábias e corajosas de pessoas humildes, de mulheres simples
que na opinião de alguns — sem as desprezar — eram ignorantes...
Mas são palavras da sabedoria de Deus!
As
palavras das avós... Quantas vezes as avós sabem pronunciar a
palavra certa, uma palavra de esperança, porque têm a experiência
da vida, sofreram muito, confiaram em Deus e o Senhor concede-nos a
graça de nos dar o conselho da esperança.
E,
percorrendo estes caminhos, será alegria e luz pascal confiar-nos ao
Senhor com as palavras de Jesus: «Pai, se é do teu agrado, afasta
de mim este cálice! Contudo, não se faça a minha vontade, mas a
tua» (Lc 22, 42).
Esta
é a prece da sabedoria, da confiança e da esperança.
PAPA
FRANCISCO
Fontes:
Santa Sé; Rádio Vaticano; L'Osservatore Romano
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