“Não
tenhais medo de ouvir o Espírito que vos sugere escolhas audazes”,
diz o Papa Francisco na carta que enviou aos jovens como apresentação
do documento preparatório do Sínodo dos Bispos de 2018
O
Santo Padre inicia a carta manifestando a sua alegria de anunciar aos
jovens que, em Outubro de 2018, se realizará a 15ª Assembleia Geral
do Sínodo dos Bispos sobre o tema “Os jovens, a fé e o
discernimento vocacional”.
O
documento preparatório foi apresentado, nesta
sexta-feira, na Sala de Imprensa da Santa Sé.
Um
dos objectivos do texto é encontrar as melhores maneiras para
acompanhar os jovens a reconhecer e acolher o chamamento à vida
plena e anunciar o Evangelho de maneira eficaz.
O
documento que tem como objectivo recolher informações sobre a
actual condição sociocultural dos jovens de 16 a 29 anos, nos
vários contextos em que vivem, a fim de entendê-la, em vista dos
passos preparatórios sucessivos para a assembleia dos bispos.
O
texto é dividido em três partes: ver a realidade, a importância do
discernimento, e acção pastoral da comunidade eclesial.
A
Igreja deseja acompanhar os jovens na descoberta e realização de
sua vocação.
O
texto integral da carta do Papa Francisco dirigida aos jovens:
CARTA
DO PAPA FRANCISCO AOS JOVENS
POR
OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DO DOCUMENTO PREPARATÓRIO PARA A XV
ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS
Caríssimos
jovens!
É-me
grato anunciar-vos que em Outubro de 2018 se celebrará o Sínodo dos
Bispos sobre o tema «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional».
Eu
quis que vós estivésseis no centro da atenção, porque vos trago
no coração.
Exactamente hoje é apresentado o Documento preparatório, que confio também a vós como «bússola»
ao longo deste caminho.
Vêm-me
à mente as palavras que Deus dirigiu a Abraão: «Sai da tua terra,
deixa a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu
te mostrar!» (Gn 12, 1).
Hoje
estas palavras são dirigidas também a vós: são palavras de um Pai
que vos convida a «sair» a fim de vos lançardes em direcção de
um futuro desconhecido, mas portador de realizações seguras, ao
encontro do qual Ele mesmo vos acompanha.
Convido-vos
a ouvir a voz de Deus que ressoa nos vossos corações através do
sopro do Espírito Santo.
Quando
Deus disse a Abraão «Sai!», o que é que lhe queria dizer?
Certamente, não para fugir dos seus, nem do mundo.
O
seu foi um convite forte, uma provocação, a fim de que deixasse
tudo e partisse para uma nova terra.
Qual
é para nós hoje esta nova terra, a não ser uma sociedade mais
justa e fraterna, à qual vós aspirais profundamente e que desejais
construir até às periferias do mundo?
Mas
hoje, infelizmente, o «Sai!» adquire inclusive um significado
diferente.
O
da prevaricação, da injustiça e da guerra.
Muitos
de vós, jovens, estão submetidos à chantagem da violência e são
forçados a fugir da sua terra natal.
O
seu clamor sobe até Deus, como aquele de Israel, escravo da opressão
do Faraó (cf. Êx 2, 23).
Desejo
recordar-vos também as palavras que certo dia Jesus dirigiu aos
discípulos, que lhe perguntavam: «Rabi, onde moras?».
Ele
respondeu: «Vinde e vede!» (cf. Jo 1, 38-39).
Jesus
dirige o seu olhar também a vós, convidando-vos a caminhar com Ele.
Caríssimos
jovens, encontrastes este olhar? Ouvistes esta voz? Sentistes este
impulso a pôr-vos a caminho?
Estou
convicto de que, não obstante a confusão e o atordoamento dêem a
impressão de reinar no mundo, este apelo continua a ressoar no vosso
espírito para o abrir à alegria completa.
Isto
será possível na medida em que, inclusive através do
acompanhamento de guias especializados, souberdes empreender um
itinerário de discernimento para descobrir o projecto de Deus na
vossa vida.
Mesmo
quando o vosso caminho estiver marcado pela precariedade e pela
queda, Deus rico de misericórdia estende a sua mão para vos erguer.
Na
inauguração da última Jornada Mundial da Juventude, em Cracóvia,
perguntei-vos várias vezes: «As coisas podem mudar?».
E
juntos, vós gritastes um «Sim!» retumbante.
Aquele
brado nasce do vosso jovem coração, que não suporta a injustiça e
não pode submeter-se à cultura do descartável, nem ceder à
globalização da indiferença.
Escutai
aquele clamor que provém do vosso íntimo!
Mesmo
quando sentirdes, como o profeta Jeremias, a inexperiência da vossa
jovem idade, Deus encoraja-vos a ir para onde Ele vos envia: «Não
deves ter [...] porque Eu estarei contigo para te libertar» (cf. Jr
1, 8).
Um
mundo melhor constrói-se também graças a vós, ao vosso desejo de
mudança e à vossa generosidade.
Não
tenhais medo de ouvir o Espírito que vos sugere escolhas audazes,
não hesiteis quando a consciência vos pedir que arrisqueis para
seguir o Mestre.
Também
a Igreja deseja colocar-se à escuta da vossa voz, da vossa
sensibilidade, da vossa fé; até das vossas dúvidas e das vossas
críticas.
Fazei
ouvir o vosso grito, deixai-o ressoar nas comunidades e fazei-o
chegar aos pastores.
São
Bento recomendava aos abades que, antes de cada decisão importante,
consultassem também os jovens porque «muitas vezes é exactamente
ao mais jovem que o Senhor revela a melhor solução» (Regra de São
Bento III, 3).
Assim,
inclusive através do caminho deste Sínodo, eu e os meus irmãos
Bispos queremos, ainda mais, «contribuir para a vossa alegria» (2
Cor 1, 24).
Confio-vos
a Maria de Nazaré, uma jovem como vós, à qual Deus dirigiu o seu
olhar amoroso, a fim de que vos tome pela mão e vos guie para a
alegria de um «Eis-me!» pleno e generoso (cf. Lc 1, 38).
Com
afecto paterno,
FRANCISCO
Vaticano,
13 de Janeiro de 2017.
Fontes:
Santa Sé; Rádio Vaticano; L'Osservatore Romano
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