Numa
mensagem conjunta o Papa Francisco e o Patriarca Ecuménico
Bartolomeu apelam a uma responsabilidade partilhada perante a actual
crise ecológica
No
mundo inteiro os cristãos celebram hoje, 1 de Setembro, o Dia
Mundial de Oração pela Criação.
A
iniciativa promovida em 1989 pela Igreja ortodoxa foi acolhida e
partilhada pelo Papa Francisco que, com uma carta de 6 de Agosto de
2015, estabeleceu também para os católicos este compromisso anual
como «contributo para a superação da crise ecológica que a
humanidade está a viver» e ocasião de esforço comum entre
todos os cristãos.
O
evento tem também o apoio do World Council of Churches, da Comunhão
anglicana e de outras comunidades cristãs.
De
resto, há tempos que católicos e protestantes estão unidos para
enfrentar os desafios ambientais e sociais, respondendo ao espírito
de partilha e proximidade sobre a qual cada confissão cristã se
funda.
O Papa
Francisco e o Patriarca Ecuménico Bartolomeu convidam "ardorosamente
todas as pessoas de boa vontade a dedicar, no dia 1 de Setembro, um
tempo de oração pelo ambiente", a agradecer a Deus pelo
"magnífico dom da criação" e a empenhar-se a
cuidá-lo e preservá-lo "para o bem das gerações futuras".
E
apelam "a quantos ocupam uma posição de
relevo no âmbito social, económico, político e cultural”,
para que escutem "o grito da terra" e "as
necessidades de quem está marginalizado", mas
acima de tudo apoiem "o consenso global", para que
sejam sanadas as feridas causadas à criação.
MENSAGEM
CONJUNTA
DE
PAPA FRANCISCO E DO PATRIARCA ECUMÉNICO BARTOLOMEU
NO
DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELA CRIAÇÃO
A
narração da criação oferece-nos uma visão panorâmica do mundo.
A
Sagrada Escritura revela que, «no princípio», Deus designou a
humanidade como cooperadora na guarda e protecção do ambiente
natural.
Ao
início, como lemos no Génesis (2, 5), «ainda não havia arbusto
algum pelos campos, nem sequer uma planta germinara ainda, porque o
Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e não havia
homem para a cultivar».
A
terra foi-nos confiada como dom sublime e como herança, cuja
responsabilidade todos compartilhamos até que, «no fim», todas as
coisas no céu e na terra sejam restauradas em Cristo (cf. Ef 1, 10).
A
dignidade e a prosperidade humanas estão profundamente interligadas
com a solicitude por toda a criação.
«No
período intermédio», porém, a história do mundo apresenta uma
situação muito diferente.
Revela-nos
um cenário moralmente decadente, onde as nossas atitudes e
comportamentos para com a criação ofuscam a vocação de ser
cooperadores de Deus.
A
nossa tendência a romper os delicados e equilibrados ecossistemas do
mundo, o desejo insaciável de manipular e controlar os limitados
recursos do planeta, a avidez de retirar do mercado lucros
ilimitados: tudo isto nos alienou do desígnio original da criação.
Deixamos
de respeitar a natureza como um dom compartilhado, considerando-a, ao
invés, como posse privada.
O
nosso relacionamento com a natureza já não é para a sustentar, mas
para a subjugar a fim de alimentar as nossas estruturas.
As
consequências desta visão alternativa do mundo são trágicas e
duradouras.
O
ambiente humano e o ambiente natural estão a deteriorar-se
conjuntamente, e esta deterioração do planeta pesa sobre as pessoas
mais vulneráveis.
O
impacto das mudanças climáticas repercute-se, antes de mais nada,
sobre aqueles que vivem pobremente em cada ângulo do globo.
O
dever que temos de usar responsavelmente dos bens da terra implica o
reconhecimento e o respeito por cada pessoa e por todas as criaturas
vivas.
O
apelo e o desafio urgentes a cuidar da criação constituem um
convite a toda a humanidade para trabalhar por um desenvolvimento
sustentável e integral.
Por
isso, unidos pela mesma preocupação com a criação de Deus e
reconhecendo que a terra é um bem dado em comum, convidamos
ardorosamente todas as pessoas de boa vontade a dedicar, no dia 1 de
Setembro, um tempo de oração pelo ambiente.
Nesta
ocasião, desejamos elevar uma acção de graças ao benévolo
Criador pelo magnífico dom da criação e comprometer-nos a cuidar
dele e preservá-lo para o bem das gerações futuras.
Sabemos
que, no fim de contas, é em vão que nos afadigamos, se o Senhor não
estiver ao nosso lado (cf. Sal 126/127), se a oração não estiver
no centro das nossas reflexões e celebrações.
Na
verdade, um dos objectivos da nossa oração é mudar o modo como
percebemos o mundo, para mudar a forma como nos relacionamos com o
mundo.
O
fim que nos propomos é ser audazes em abraçar, nos nossos estilos
de vida, uma maior simplicidade e solidariedade.
A
quantos ocupam uma posição de relevo em âmbito social, económico,
político e cultural, dirigimos um apelo urgente a prestar
responsavelmente ouvidos ao grito da terra e a cuidar das
necessidades de quem está marginalizado, mas sobretudo a responder à
súplica de tanta gente e apoiar o consenso global para que seja
sanada a criação ferida.
Estamos
convencidos de que não poderá haver uma solução genuína e
duradoura para o desafio da crise ecológica e das mudanças
climáticas, sem uma resposta concertada e colectiva, sem uma
responsabilidade compartilhada e capaz de prestar contas do seu agir,
sem dar prioridade à solidariedade e ao serviço.
Do
Vaticano e do Fanar, 1 de Setembro de 2017.
Papa
Francisco e Patriarca Ecuménico Bartolomeu
Fontes:
Santa Sé; Rádio Vaticano
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