O
Papa Francisco recebeu no Vaticano uma delegação da Universidade
Católica Portuguesa que celebra 50 anos de existência
O
Papa Francisco recebeu hoje, dia 26 de Outubro de 2017, às 12 horas
locais, em audiência na Sala Clementina do Vaticano, os cerca de 150
membros da Comunidade da Universidade Católica Portuguesa,
acompanhados pelo Cardeal Manuel Clemente.
Congratulando-se
por estes cinquenta anos de serviço ao crescimento da pessoa e da
comunidade humana e olhando para os desafios do futuro, o Papa
acrescentou:
Longa
vida, pois, à Universidade Católica Portuguesa!
O
Papa Francisco concluiu o seu discurso com o habitual empenho:
Acompanho-vos
com as minhas preces e, por favor, também vós não vos esqueçais
de rezar por mim.
Obrigado!
DISCURSO
DO PAPA FRANCISCO
À
COMUNIDADE DA UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA
POR
OCASIÃO DO 50º ANIVERSÁRIO DA SUA INSTITUIÇÃO
Sala
Clementina, Quinta-feira, 26 de Outubro de 2017
Grão-Chanceler,
Magnífica
Reitora,
Amados
professores e alunos,
Queridos
irmãos e irmãs!
Sabendo
da minha impossibilidade de visitar a sede central da Universidade
por ocasião da peregrinação ao Santuário de Fátima em Maio
passado, uma sua qualificada representação prontificou-se a
visitar-me na Sé de Pedro.
Com
alegria vos acolho e, de coração, vos saúdo.
Agradeço
ao meu irmão cardeal Manuel Clemente a saudação que me dirigiu,
apresentando-me as esperanças e lutas de quantos hoje – como ontem
– amam, fazem e são esta comunidade universitária.
Congratulo-me
com a Igreja em Portugal que a quis, promove e apoia, e que pode
contar com uma leitura aprofundada dos tempos que correm e sobretudo
com a formação superior dos guias do povo de Deus e dos líderes
que a sociedade precisa.
Completam-se
agora cinquenta anos de serviço ao crescimento da pessoa e da
comunidade humana: obra de construção em tempos relativamente
breves para a primeira, é obra sem fim para a segunda.
Longa
vida, pois, à Universidade Católica Portuguesa!
1.
Por natureza e missão, sois universidade, isto é, abraçais
o universo do saber no seu significado humano e divino, para garantir
aquele olhar de universalidade sem o qual a razão, resignada com
modelos parciais, renuncia à sua aspiração mais alta: a de buscar
a verdade.
À
vista da grandeza do seu saber e do seu poder, a razão cede perante
a pressão dos interesses e a atracção da utilidade, acabando por a
reconhecer como seu último critério.
Mas,
quando o ser humano se entrega às forças cegas do inconsciente, das
necessidades imediatas, do egoísmo, então a sua liberdade adoece.
«Neste
sentido, ele está nu e exposto frente ao seu próprio poder que
continua a crescer, sem ter os instrumentos para o controlar. Talvez
disponha de mecanismos superficiais, mas podemos afirmar que carece
de uma ética sólida, uma cultura e uma espiritualidade que lhe
ponham realmente um limite e o contenham dentro dum lúcido domínio
de si» (Francisco, Laudato si’, 105).
Com
efeito, a verdade significa mais do que saber: o conhecimento da
verdade tem como finalidade o conhecimento do bem.
A
verdade torna-nos bons, e a bondade é verdadeira.
É
justo que nos interroguemos: Como ajudamos os nossos alunos a não
olhar um grau universitário como sinónimo de maior posição,
sinónimo de mais dinheiro ou maior prestígio social?
Não
são sinónimos.
Ajudamos
a ver esta preparação como sinal de maior responsabilidade perante
os problemas de hoje, perante o cuidado do mais pobre, perante o
cuidado do meio ambiente?
Não
basta realizar análises, descrições da realidade; é necessário
gerar espaços de verdadeira pesquisa, debates que gerem alternativas
para os problemas de hoje.
Como
é necessário descer ao concreto!
2.
Por desígnio e graça de Deus, sois universidade católica,
uma qualificação que em nada mortifica a universidade, antes
valoriza-a ao máximo; pois, se a missão fundamental de toda
universidade é «a investigação contínua da verdade mediante a
pesquisa, a preservação e a comunicação do saber para o bem da
sociedade» (João Paulo II, Cons. ap. Ex corde Ecclesiae, 30),
uma instituição académica católica distingue-se pela inspiração
cristã dos indivíduos e das próprias comunidades, consentindo-lhes
incluir a dimensão moral, espiritual e religiosa na sua investigação
e avaliar as conquistas da ciência e da técnica na perspectiva da
totalidade da pessoa humana.
Como
afirma João Paulo II, «as ciências humanas, apesar do grande valor
dos conhecimentos que oferecem, não podem ser assumidas como
indicadores decisivos das normas morais deste caminho» (Enc.
Veritatis splendor, 112).
A
isto me referia ao falar de razão equivocada quando reconhece como
seu último critério a pressão dos interesses e a atracção da
utilidade.
«É
o Evangelho que descobre a verdade integral sobre o homem e sobre o
seu caminho moral, e assim ilumina e adverte os pecadores
anunciando-lhes a misericórdia de Deus, (…) lembra-lhes a alegria
do perdão, o único capaz de conceder a força para reconhecer na
lei moral uma verdade libertadora, uma graça de esperança, um
caminho de vida» (ibid., 112).
Poderia
alguém objectar que uma tal docência universitária tiraria as suas
conclusões da fé e, por isso, não poderia pretender a validade das
mesmas para quantos não partilham desta fé.
É
verdade que não partilham a fé, mas serve-lhes a razão ética
proposta.
Explico-me.
Por
detrás do docente católico fala uma comunidade crente, na qual,
durante os séculos da sua existência, amadureceu uma determinada
sabedoria da vida; uma comunidade que guarda em si um tesouro de
conhecimento e de experiência ética, que se revela importante para
toda a humanidade.
Neste
sentido, o docente fala não tanto como representante duma crença,
como sobretudo testemunha da validade duma razão ética.
3.
E, por fisionomia e presença, sois universidade portuguesa,
constituindo mais um sinal de esperança, que a Igreja oferece ao
País, ao colocar à disposição da nação uma instituição
cultural que, tendo como objectivo o aperfeiçoamento cristão do
homem, é chamada precisamente a servir a causa do homem, na certeza
de que – como ensina o Concílio Vaticano II – «aquele que segue
Cristo, o homem perfeito, torna-se mais homem» (Gaudium et spes,
41).
Acenava
atrás à necessidade de se descer ao concreto, queria aqui lembrar o
princípio da encarnação na pele do nosso povo.
As
suas perguntas ajudam-nos a questionar-nos; as suas batalhas, sonhos
e preocupações possuem um valor hermenêutico que não podemos
ignorar, se quisermos deveras levar a cabo o princípio da
encarnação.
O
nosso Deus escolheu este caminho: encarnou-Se neste mundo,
atravessado por conflitos, injustiças e violências, atravessado por
esperanças e sonhos.
Por
conseguinte não temos outro lugar onde O procurar a não ser no
nosso mundo concreto, no vosso Portugal concreto, nas vossas cidades
e aldeias, no vosso povo.
Lá
Ele está a salvar.
«Em
Portugal, se conservará sempre o dogma da fé» (Memórias da
Irmã Lúcia, IV, n.º 5): esta é uma promessa do Céu deixada
em Fátima há cem anos, tão consoladora como empenhativa, sabendo
nós que Deus criou sozinho o homem, mas não quis salvá-lo sozinho;
espera a nossa colaboração.
Também
a colaboração da Universidade Católica Portuguesa, nascida há
cinquenta anos, sendo estes vividos sob o signo da consagração da
comunidade académica ao Imaculado Coração de Maria.
Fez-me
muito bem à alma poder inserir-me na oração do bom povo português
e demais filhos d’Ela.
Como
então vos disse, fui lá «venerar a Virgem Mãe e confiar-Lhe os
seus filhos e filhas.
Sob
o seu manto não se perdem; dos seus braços virá a esperança e a
paz de que necessitam» (Homilia, 13/V/2017).
Com
esta certeza que personalizo a bem de toda a família dirigente,
docente, discente, administrativa e benfeitora da vossa instituição
académica, renovo as minhas felicitações pela data jubilar e
abençoo a todos, com o seu trabalho e as suas iniciativas.
Acompanho-vos
com as minhas preces e, por favor, também vós não vos esqueçais
de rezar por mim.
Obrigado!
Fontes:
Santa Sé; Rádio Vaticano
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