O
Dia Mundial da Vida Consagrada celebra-se todos os anos a
2 de Fevereiro na
festa litúrgica da Apresentação de Jesus no Templo
Na
Sé Catedral do Porto, a Eucaristia do Dia do Consagrado será
celebrada no dia 2 de Fevereiro às 17H30 e presidida por D. Armando
Domingues.
Este
ano, o Santo Padre celebrou na véspera, às 16 horas da tarde de
hoje, na Basílica do Vaticano.
No
início da missa, as luzes da Basílica do Vaticano foram apagadas e
por alguns instantes o templo foi iluminado pelas velas acesas que os
consagrados seguravam em suas mãos.
Uma
pequena chama semelhante à luz do apelo que um dia Jesus acendeu nos
seus corações.
“O
olhar dos consagrados só pode ser um olhar de esperança.
Saber
esperar.
Olhando
em redor, é fácil perder a esperança: as coisas que estão mal, a
diminuição das vocações, etc.
Paira
ainda a tentação do olhar mundano, que aniquila a esperança.”
“Amados
irmãos e irmãs, agradeçamos a Deus pelo dom da vida consagrada e
peçamos um olhar novo, que saiba ver a graça, que saiba procurar o
próximo, que saiba esperar.
Então
os nossos olhos também verão a Salvação.”
Homilia
do Papa Francisco na Eucaristia da Festa da Apresentação do Senhor
e XXIV Dia Mundial da Vida Consagrada para os membros dos Institutos
de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica
Basílica
do Vaticano, Sábado, 1 de Fevereiro de 2020
«Meus
olhos viram a Salvação» (Lc 2, 30): são as palavras de Simeão,
que o Evangelho apresenta como um homem simples, um homem «justo e
piedoso» (2, 25).
Mas,
de todos os homens que estavam no templo naquele dia, só ele viu, em
Jesus, o Salvador.
Que
viu ele? Um menino; um pequenino, frágil e simples menino.
Mas
n’Ele viu a Salvação, porque o Espírito Santo fez-lhe
reconhecer, naquele terno recém-nascido, «o Messias do Senhor» (2,
26).
Ao
tomá-Lo nos braços, percebeu, pela fé, que n’Ele Deus cumpria as
suas promessas.
E
assim ele, Simeão, já podia partir em paz: vira a graça que vale
mais do que a vida (cf. Sal 63/62, 4), e nada mais esperava.
Também
vós, queridos irmãos e irmãs consagrados, sois homens e mulheres
simples que vistes o tesouro que vale mais do que todas as riquezas
do mundo.
Por
ele, deixastes coisas preciosas, tais como bens, criar uma família
própria.
Por
que o fizestes?
Porque
vos apaixonastes por Jesus, n’Ele vistes tudo e, fascinados pelo
seu olhar, deixastes o resto.
A
vida consagrada é essa visão.
É
ver aquilo que conta na vida.
É
acolher de braços abertos o dom do Senhor, como fez Simeão.
Isto
é o que vêem os olhos dos consagrados: a graça de Deus derramada
nas suas mãos.
A
pessoa consagrada é alguém que, ao olhar-se cada dia, diz: «Tudo é
dom, tudo é graça».
Queridos
irmãos e irmãs, não é mérito nosso a vida religiosa, é um dom
de amor que recebemos.
Meus
olhos viram a Salvação: são as palavras que repetimos cada
noite na hora de Completas.
Com
elas, concluímos a jornada, dizendo: «Senhor, a minha
salvação vem de Ti; as minhas mãos não estão vazias, mas
cheias da vossa graça».
Saber
ver a graça é o ponto de partida.
Olhar
para trás, reler a própria história e ver nela o dom fiel de Deus,
não apenas nos grandes momentos da vida mas também nas
fragilidades, fraquezas, misérias.
O
tentador, o diabo insiste precisamente nas nossas misérias, nas
nossas mãos vazias: «Passados tantos anos, não melhoraste, não
realizaste aquilo que podias, não te deixaram fazer aquilo para que
estavas talhado, não foste sempre fiel, não és capaz...».
Vemos
que, em parte, isto é verdade e deixamo-nos levar por pensamentos e
sentimentos que nos confundem.
E
corremos o risco de perder a bússola, que é a gratuitidade de Deus.
Com
efeito, Deus ama-nos e sempre Se oferece a nós, mesmo nas nossas
misérias.
Quando
mantemos o olhar fixo n’Ele, abrimo-nos ao perdão que nos renova e
somos confirmados pela sua fidelidade.
Hoje
podemos interrogar-nos: «Para quem volto o olhar, para o Senhor ou
para mim?».
Quem
sabe ver, antes de tudo, a graça de Deus, descobre o antídoto para
o desânimo e o olhar mundano.
Com
efeito, sobre a vida religiosa, paira esta tentação: ter um olhar
mundano.
É
o olhar que já não vê a graça de Deus como protagonista da vida e
vai à procura de qualquer substituto: um pouco de sucesso, uma
consolação afectiva, fazer finalmente aquilo que quero.
A
vida consagrada, quando deixa de girar em torno da graça de Deus,
retrai-se no próprio eu: perde impulso, acomoda-se, paralisa.
E
sabemos o que acontece depois!
Reivindicam-se
os espaços próprios e os direitos próprios, deixamo-nos cair em
críticas e murmurações, indignamo-nos pela mais pequena coisa que
não funcione e entoamos a ladainha da lamentação acerca dos
irmãos, das irmãs, da comunidade, da Igreja, da sociedade.
Já
não se vê o Senhor em tudo, mas só o mundo com as suas dinâmicas;
e o coração restringe-se.
Assim,
a pessoa torna-se rotineira e pragmática, enquanto no seu íntimo
aumentam a tristeza e o desânimo, que degeneram em resignação.
A
isto, conduz o olhar mundano.
A
fim de ter um olhar justo sobre a vida, peçamos para saber ver, como
Simeão, a graça de Deus que veio para nós.
O
Evangelho repete três vezes que Simeão tinha familiaridade com o
Espírito Santo, que estava nele, o inspirava e impelia (cf. 2,
25-27).
Tinha
familiaridade com o Espírito Santo, com o amor de Deus.
A
vida consagrada, se permanecer firme no amor do Senhor, vê a beleza.
Vê
que a pobreza não é um esforço titânico, mas uma liberdade
superior, que nos presenteia como verdadeiras riquezas Deus e os
outros.
Vê
que a castidade não é uma esterilidade austera, mas o caminho para
amar sem se apoderar.
Vê
que a obediência não é disciplina, mas a vitória, no estilo de
Jesus, sobre a nossa anarquia.
Meus
olhos viram a Salvação.
Ao
ver Jesus pequenino, humilde, que veio para servir e não para ser
servido, Simeão define-se a si próprio servo.
Na
realidade afirma: «Agora, Senhor, segundo a tua palavras, deixarás
ir em paz o teu servo» (2, 29).
Quem
mantém o olhar fixo em Jesus, aprende a viver para servir.
Não
espera que os outros comecem, mas vai à procura do próximo, como
Simeão que procurava Jesus no templo.
E
onde se encontra o próximo, na vida consagrada?
Antes
de mais nada, na própria comunidade.
Devemos
pedir a graça de saber procurar Jesus nos irmãos e irmãs que
recebemos.
É
aqui que se começa a praticar a caridade: no lugar onde vives,
acolhendo os irmãos e irmãs com as suas pobrezas, como Simeão
acolheu Jesus simples e pobre.
Há
muitos, hoje, que só vêem nos outros obstáculos e complicações.
Há
necessidade de olhares que procurem o próximo, que aproximem quem
está distante.
Como
homens e mulheres que vivem para imitar Jesus, os religiosos e as
religiosas são chamados a tornar presente no mundo o olhar d’Ele,
o olhar da compaixão, o olhar que vai à procura dos distantes, que
não condena, mas encoraja, liberta, consola.
Meus
olhos viram a Salvação.
Os
olhos de Simeão viram a Salvação, porque A esperavam (cf. 2, 25).
Eram
olhos que aguardavam, que esperavam.
Procuravam
a luz, e viram a luz das nações (cf. 2, 32).
Eram
olhos idosos, mas brilhantes de esperança.
O
olhar dos consagrados só pode ser um olhar de esperança.
Saber
esperar.
Olhando
em redor, é fácil perder a esperança: as coisas que estão mal, a
diminuição das vocações, etc.
Paira
ainda a tentação do olhar mundano, que aniquila a esperança.
Mas
olhemos o Evangelho e vejamos Simeão e Ana: eram idosos, viviam
sozinhos e contudo não tinham perdido a esperança, porque estavam
em contacto com o Senhor.
Ana
«não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com
jejuns e orações» (2, 37).
Aqui
está o segredo: não se afastar do Senhor, fonte da esperança.
Tornamo-nos
cegos, se não fixarmos o olhar no Senhor todos os dias, se não O
adorarmos.
Amados
irmãos e irmãs, agradeçamos a Deus pelo dom da vida consagrada e
peçamos um olhar novo, que saiba ver a graça, que saiba
procurar o próximo, que saiba esperar.
Então
os nossos olhos também verão a Salvação.
Fonte:
Notícias do Vaticano
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