Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

QUE FIZEMOS NÓS DA ALEGRIA?

José Tolentino Mendonça

Mas o que é a alegria?
A alegria é expansão pessoalíssima e profunda.
Não há duas alegrias iguais, como não há duas lágrimas ou dois prantos iguais.
A alegria é uma gramática singular.
Por um lado, tem uma expressão física, mas, por outro, conserva uma natureza evidentemente espiritual.
Não se reduz a uma forma de bem-estar ou a um conforto emocional, embora se possa traduzir também dessas maneiras.
A alegria é uma revelação da vida profunda.
É abrir uma porta, um caminho, um corredor para a passagem do Espírito.

No espaço teológico e eclesial, infelizmente, a alegria tornou-se um motivo tratado com alguma parcimónia.
Falamos pouco do Evangelho da Alegria e, entre tudo aquilo que assumimos como dever, como tarefa, raramente ele está.
O dever da alegria, estarmos quotidianamente hipotecados à alegria, enviados em nome da alegria, não nos é tantas vezes recordado quanto devia.
As nossas liturgias, pregações, catequeses e pastorais abordam a alegria quase com pudor.

Isto para dizer que a alegria tornou-se um tópico mais ou menos marginal, uma espécie de subtema e, por vezes, até uma espécie de interdito.
Nietzsche dizia que o cristianismo seria mais credível se os cristãos parecessem alegres.
Que fizemos nós do Evangelho da Alegria?

Definimo-nos culturalmente como homo faber, homem artesão, fabricante, aquele que se realiza na própria acção.
E distanciamos da nossa própria vida o horizonte do homo festivus, isto é, o que é capaz de celebrar, aquele que conduz a criação à sua plenitude. 

A alegria nasce do acolhimento.
Nasce quando aceitamos construir a vida numa cultura de hospitalidade.
Há um filme de Ingmar Bergman em que uma personagem é uma rapariga anoréxica - e sabemos como a anorexia é uma forma de desistir da própria vida, de desinvestir afectivamente.
A rapariga vai falar com um médico e ele diz-lhe isto, que também vale para todos nós: “Olha há só um remédio para ti, só vejo um caminho: em cada dia deixa-te tocar por alguém ou por alguma coisa”.
A alegria é esta hospitalidade.

Editorial da Agência Ecclesia, 20-09-2013

Sem comentários:

Enviar um comentário