Se não
puder participar na Vigília a realizar na nossa Igreja
Paroquial, pode assistir em directo, desde a Praça de S. Pedro no Vaticano, a
partir das 18H00 do próximo Sábado.
O
vídeo será mantido e poderá ser visto posteriormente.
Texto
retirado da Rádio Vaticano e adicionado em 8Set2013:
A
iniciativa do Pontífice – de um Dia de oração e jejum em favor
da paz – foi vivida por milhões de pessoas no mundo inteiro, fiéis
cristãos e de outras religiões, e pessoas de boa vontade.
Em
espírito de oração e grande recolhimento, após ser entoado o
canto do Veni Creator (Vinde, Espírito Criador), a recitação do
Terço diante do ícone mariano da Salus populi Romani (Protectora do
povo Romano), intercalado de leituras, o Santo Padre dirigiu a sua
reflexão aos presentes e a todos aqueles que acompanharam a Vigília
pela televisão.
Partindo
da narração bíblica da origem do mundo e da humanidade, contida no
livro do Génesis, o Papa Francisco insistiu sobre a mensagem da
bondade da Criação de Deus.
«Deus
viu que isso era bom» (Gn
1,12.18.21.25).
A
narração bíblica da origem do mundo e da humanidade nos fala de
Deus que olha a criação, quase a contemplando, e repete uma e outra
vez:isso é bom.
Isso
permite-nos entrar no coração de Deus e recebermos a sua mensagem
que procede precisamente do seu íntimo.
Podemos
perguntar-nos:
qual
é o significado desta mensagem?o que diz esta mensagem para mim, para ti, para todos nós?
Simplesmente
diz-nos que o nosso mundo, no coração e na mente de Deus, é “casa
de harmonia e de paz” e espaço onde todos podem encontrar o seu
lugar e sentir-se “em casa”, porque é “isso é bom”.
Toda
a criação constitui um conjunto harmonioso, bom, mas os seres
humanos em particular, criados à imagem e semelhança de Deus,
formam uma única família, em que as relações estão marcadas por
uma fraternidade real e não simplesmente de palavra:
o
outro e a outra são o irmão e a irmã que devemos amar, e a relação
com Deus, que é amor, fidelidade, bondade, se reflecte em todas as
relações humanas e dá harmonia para toda a criação.
O
mundo de Deus é um mundo onde cada um se sente responsável pelo
outro, pelo bem do outro.
Esta
noite, na reflexão, no jejum, na oração, cada um de nós, todos
nós pensamos no profundo de nós mesmos:
Não
é este o mundo que eu desejo?Não é este o mundo que todos levamos no coração?
O mundo que queremos não é um mundo de harmonia e de paz, em nós mesmos, nas relações com os outros, nas famílias, nas cidades, nas e entre as nações?
E
a verdadeira liberdade para escolher entre os caminhos a serem
percorridos neste mundo, não é precisamente aquela que está
orientada pelo bem de todos e guiada pelo amor?
Mas
pergunte-mo-nos agora:
É este o mundo em que vivemos?
A
criação conserva a sua beleza que nos enche de admiração; ela
continua a ser uma obra boa.
Mas
há também “violência, divisão, confronto, guerra”.
Isto
acontece quando o homem, vértice da criação, perde de vista o
horizonte da bondade e da beleza, e se fecha no seu próprio egoísmo.
Quando
o homem pensa só em si mesmo, nos seus próprios interesses e se
coloca no centro, quando se deixa fascinar pelos ídolos do domínio
e do poder, quando se coloca no lugar de Deus, então deteriora todas
as relações, arruína tudo;
e
abre a porta à violência, à indiferença, ao conflito.
É
justamente isso o que nos quer explicar o trecho do Génesis em que
se narra o pecado do ser humano:
o
homem entra em conflito consigo mesmo, percebe que está nu e se
esconde porque sente medo (Gn
3, 10);sente medo do olhar de Deus;
acusa a mulher, aquela que é carne da sua carne (v. 12);
quebra a harmonia com a criação, chega a levantar a mão contra o seu irmão para matá-lo.
Podemos
dizer que da harmonia se passa à desarmonia? Não.
Não
existe a “desarmonia”:
ou
existe harmonia ou se cai no caos, onde há violência, desavença,
confronto, medo...
É
justamente nesse caos que Deus pergunta à consciência do homem:
«Onde
está o teu irmão Abel?».E Caim responde «Não sei. Acaso sou o guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9).
Esta
pergunta também se dirige a nós, assim que também a nós fará bem
perguntar:
-
Acaso sou o guarda do meu irmão?
Sim,
tu és o guarda do teu irmão!
Ser
pessoa significa sermos guardas uns dos outros!
Contudo,
quando se quebra a harmonia, se produz uma metamorfose: o irmão que
devíamos guardar e amar se transforma em adversário a combater, a
suprimir.
Quanta
violência surge a partir deste momento, quantos conflitos, quantas
guerras marcaram a nossa história! Basta ver o sofrimento de tantos
irmãos e irmãs.
Não
se trata de algo conjuntural, mas a verdade é esta: em toda
violência e em toda guerra fazemos Caim renascer.
Todos
nós!
E
ainda hoje prolongamos esta história de confronto entre irmãos,
ainda hoje levantamos a mão contra quem é nosso irmão.
Ainda
hoje nos deixamos guiar pelos ídolos, pelo egoísmo, pelos nossos
interesses; e esta atitude se faz mais aguda:
aperfeiçoamos
nossas armas, nossa consciência adormeceu, tornamos mais subtis as
nossas razões para nos justificar.
Como
fosse uma coisa normal, continuamos a semear destruição, dor,
morte!
A
violência e a guerra trazem somente morte, falam de morte!A violência e a guerra têm a linguagem da morte!
Neste
ponto, pergunto-me:
É
possível percorrer outro caminho?Podemos sair desta espiral de dor e de morte?
Podemos aprender de novo a caminhar e percorrer o caminho da paz?
Invocando
a ajuda de Deus, sob o olhar materno da Salus Populi romani, Rainha
da paz, quero responder:
Sim,
é possível para todos!
Esta
noite queria que de todos os cantos da terra gritássemos:
Sim,
é possível para todos!
E
mais ainda, queria que cada um de nós, desde o menor até o maior,
inclusive aqueles que estão chamados a governar as nações,
respondesse:
-
Sim queremos! A minha fé cristã me leva a olhar para a Cruz.
Como
eu queria que, por um momento, todos os homens e mulheres de boa
vontade olhassem para a Cruz!
Na
cruz podemos ver a resposta de Deus: ali à violência não se
respondeu com violência, à morte não se respondeu com a linguagem
da morte.
No
silêncio da Cruz se cala o fragor das armas e fala a linguagem da
reconciliação, do perdão, do diálogo, da paz.
Queria
pedir ao Senhor, nesta noite, que nós cristãos, os irmãos de
outras religiões, todos os homens e mulheres de boa vontade
gritassem com força:
a
violência e a guerra nunca são o caminho da paz!
Que
cada um olhe dentro da própria consciência e escute a palavra que
diz:
sai
dos teus interesses que atrofiam o teu coração, supera a
indiferença para com o outro que torna o teu coração insensível,
vence as tuas razões de morte e abre-te ao diálogo, à
reconciliação;olha a dor do teu irmão e não acrescentes mais dor, segura a tua mão, reconstrói a harmonia perdida;
e isso não com o confronto, mas com o encontro!
Que
acabe o barulho das armas!
A
guerra sempre significa o fracasso da paz, é sempre uma derrota para
a humanidade.
Ressoem
mais uma vez as palavras de Paulo VI:
«Nunca
mais uns contra os outros, não mais, nunca mais... Nunca mais a
guerra, nunca mais a guerra! (Discurso
às Nações Unidas, 4 de Outubro de 1965: ASS 57 [1965], 881).«A paz se afirma somente com a paz; e a paz não separada dos deveres da justiça, mas alimentada pelo próprio sacrifício, pela clemência, pela misericórdia, pela caridade» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, de 1976: ASS 67 [1975], 671).
Perdão,
diálogo, reconciliação são as palavras da paz:
na
amada nação síria, no Oriente Médio, em todo o mundo!
Rezemos
pela reconciliação e pela paz, e nos tornemos todos, em todos os
ambientes, em homens e mulheres de reconciliação e de paz.
Amém.
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