Um
amor que saiba fazer sua a atitude de gratuidade e de misericórdia
do Senhor, que «se fez pobre para nos enriquecer mediante a sua
pobreza» (cf. 2 Cor 8, 9)
O
Papa Francisco na Audiência Geral de ontem, na sua Catequese, desta
vez dedicada ao significado da Quaresma.
Prezados
irmãos e irmãs, bom dia!
Começa
hoje, Quarta-feira de Cinzas, o itinerário quaresmal de quarenta
dias, que nos conduzirá até ao Tríduo pascal, memória da Paixão,
Morte e Ressurreição do Senhor, âmago do mistério da nossa
salvação. A Quaresma prepara-nos para este momento tão importante,
e é por este motivo que ela constitui um «tempo forte», um ponto
de reviravolta que pode favorecer a mudança, a conversão, em cada
um de nós. Todos nós temos necessidade de nos aperfeiçoarmos, de
melhorar. A Quaresma ajuda-nos e assim abandonamos os hábitos
cansados e a dependência indolente do mal que nos ameaça. No tempo
quaresmal, a Igreja dirige-nos dois convites importantes: adquirir
uma consciência mais profunda da obra redentora de Cristo; e viver o
próprio Baptismo com maior comprometimento.
A
consciência das grandes obras que o Senhor realizou para a nossa
salvação dispõe a nossa mente e o nosso coração para uma atitude
de acção de graças a Deus, pelo que Ele nos concedeu, por tudo
aquilo que leva a cabo em benefício do seu Povo e da humanidade
inteira. É aqui que tem início a nossa conversão: ela é a
resposta reconhecida ao mistério maravilhoso do amor de Deus. Quando
nos damos conta deste amor que Deus tem por nós, sentimos a vontade
de nos aproximarmos dele: é nisto que consiste a conversão.
Viver
o Baptismo até ao fundo — eis o segundo convite — significa
também não se habituar com as situações de degradação e de
miséria que encontramos, quando caminhamos pelas ruas das nossas
cidades e dos nossos povoados. Persiste o risco de aceitar
passivamente determinados comportamentos, sem nos surpreendermos
perante as realidades tristes que nos circundam. Habituamo-nos com a
violência, como se ela fosse uma notícia diária normal;
acostumamo-nos com os irmãos e as irmãs que dormem ao relento, que
não dispõem de um abrigo onde se refugiar. Habituamo-nos com os
refugiados em busca de liberdade e de dignidade, que não são
acolhidos como deveriam. Acostumamo-nos com uma sociedade que
pretende viver sem Deus, na qual os pais já não ensinam aos seus
filhos a rezar, e nem sequer a fazer o sinal da cruz. Pergunto-vos:
os vossos filhos, as vossas crianças sabem fazer o sinal da cruz?
Pensai nisto! Os vossos netos sabem fazer o sinal da cruz?
Ensinaste-los a fazer o sinal da cruz? Pensai e respondei dentro do
vosso coração. Sabem eles recitar o Pai-Nosso? Sabem rezar a Nossa
Senhora com a Ave-Maria? Pensei e respondei a vós mesmos. Esta
dependência de comportamentos não cristãos, cómodos, narcotiza o
nosso coração!
A
Quaresma chega-nos como um tempo providencial para mudar de rota,
para recuperar a capacidade de reagir diante da realidade do mal que
nos desafia sempre. A Quaresma deve ser vivida como tempo de
conversão, de renovação pessoal e comunitária, mediante a
aproximação a Deus e a confiante adesão ao Evangelho. Deste modo,
ele permite-nos considerar com olhos novos os irmãos e as suas
necessidades. Por isso, a Quaresma é um momento favorável para se
converter ao amor a Deus e ao próximo; um amor que saiba fazer sua a
atitude de gratuidade e de misericórdia do Senhor, que «se fez
pobre para nos enriquecer mediante a sua pobreza» (cf. 2 Cor 8, 9).
Se meditarmos os mistérios centrais da fé, da paixão, da cruz e da
ressurreição de Cristo, dar-nos-emos conta de que a dádiva
incomensurável da Redenção nos foi concedida por uma iniciativa
gratuita de Deus.
Acção
de graças a Deus pelo mistério do seu amor crucificado; fé
autêntica, conversão e abertura do coração aos irmãos: eis os
elementos essenciais para viver o tempo da Quaresma. Neste caminho,
queremos invocar com confiança especial a salvaguarda e o auxílio
da Virgem Maria: que Ela, a primeira que acreditou em Cristo, nos
acompanhe nos dias de oração intensa e de penitência, para
chegarmos a celebrar, purificados e renovados no Espírito, o grande
mistério da Páscoa do seu Filho.
PAPA
FRANCISCO
AUDIÊNCIA
GERAL, Praça de São Pedro
Quarta-feira
de Cinzas, 5 de Março de 2014
No
final, nas saudações, também se dirigiu aos Peregrinos de língua
portuguesa:
Com
ânimo feliz e agradecido, saúdo o grupo vindo de Riberão e
Guimarães, e também os professores e os alunos das comunidades
escolares de Lourinhã e Viana do Castelo.
Sobre
vós e demais peregrinos de língua portuguesa, invoco a protecção
da Virgem Maria.
Que
Ela vos tome pela mão durante os próximos quarenta dias,
ajudando-vos a ficar mais parecidos com Jesus ressuscitado.
Desejo-vos
uma santa e frutuosa Quaresma!
Fonte: Santa Sé
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