Rui
Osório
Se
fosse pessimista, diria que as igrejas católicas se esvaziam cada
vez mais.
A
cultura cristã, gramática fundamental para ler, ordenar e
representar o mundo, também sofre de anemia, com riscos não apenas
para a Igreja, mas para a sociedade, a nossa, de inegável matriz
cristã, mas com raízes secas.
Se
eu fosse ciumento, a caminho da missa dominical na minha paróquia,
teria mágoa por nem sequer ter comigo a celebrar a fé uma pequena
percentagem de quantos – e são muitos, meu Deus! – percorrem as
marginais do rio e do mar, dando ao pedal ou correndo com pé ligeiro
para retemperar energias, à procura do elixir da juventude.
A
idolatria do corpo com espíritos enfezados por alergia a práticas
espirituais, que, sendo gratuitas, não são supérfluas.
Os
jovens, muito em particular, são hoje a geração em rede,
conectados com uns com os outros e alimentados com do fast food
digital.
É
uma geração incrédula a quem custa encontrar Deus e a Igreja.
Na
opinião do teólogo italiano Armando Matteo, é “a primeira
geração incrédula do Ocidente”.
Descreve-a
assim: “Uma geração que não se opõe contra Deus ou contra a
Igreja, mas uma geração que está a aprender a viver sem Deus e sem
a Igreja”.
Aponta
os sinais da incredulidade e do desinteresse dos jovens em relação
a Deus e à Igreja: “Ignorância profunda da cultura bíblica;
escassa participação na formação cristã pós-crismal; e notável
desenvoltura na deserção da assembleia eucarística dominical”.
Há
jovens que ainda mantêm ligação afectiva a alguns ritos da Igreja,
mas a sua fé não tem consistência.
É
uma juventude pós-moderna que não teve ou teve apenas uma
evangelização no seio da família ou da escola.
Na
Igreja, que pouco frequentam, não encontram compensação para o seu
défice de formação cristã; e a cultura reinante no seu meio
social é indiferente ao Cristianismo.
Por
que razão os jovens faltam à missa?
Se
as missas paroquiais provocam tédio, a solução estará em missas
mais atractivas?
Mas,
bastará limpar a fachada, sem cuidar dos interiores?
Os
adultos, padres incluídos, têm a tentação de cair na nostalgia,
lembrando que, dantes, na sua juventude, não era assim.
Previno-os
que tenham cuidado, não vá a sua nostalgia tomar-lhes conta da
alma, atrofiando a imaginação com sonhos de sépia que impedem a
visão luminosa de novos horizontes para hoje e para amanhã.
A
prestigiada revista espanhola “Vida Nueva”, fazendo reportagem
sobre a indiferença religiosa dos jovens, defendia que é necessário
“fazer da missa a fonte e cume da vida cristã, começando pelos
alicerces e não pela fachada”.
Isso
acontecerá quando os agentes pastorais deixarem o “cristianismo
sociológico”, para tornar viável, nas pessoas que despertam e
crescem na fé, o “cristianismo de seguimento” de Jesus Cristo.
Fonte:
Coluna de opinião do Sr. Cónego Rui Osório na Voz Portucalense de
30Abr2014
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