Decorre
hoje, 1 de Junho de 2014, o 48º Dia Mundial das Comunicações
Sociais, cujo tema é:
“Comunicação
ao serviço de uma autêntica cultura do encontro”
“Os
meios de comunicação social” foi o tema para o 1º Dia
Mundial das Comunicações Sociais, celebrado pela primeira vez
no dia 7 de Maio de 1967.
O
Papa Paulo VI na sua
mensagem para o dia, afirmava:
Graças
a essas maravilhosas técnicas, a convivência humana assumiu
dimensões novas: o tempo e o espaço foram superados, e o homem
tornou-se um cidadão do mundo, co-participante e testemunha dos
acontecimentos mais distantes e das vicissitudes de toda a
humanidade.
Para
o 48º Dia Mundial das Comunicações Sociais que hoje decorre sob o
tema “Comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do
encontro”, o Papa Francisco alerta na sua mensagem:
O
ambiente de comunicação pode ajudar-nos a crescer ou, pelo
contrário, desorientar-nos.
O
desejo de conexão digital pode acabar por nos isolar do nosso
próximo, de quem está mais perto de nós.
Sem
esquecer que a pessoa que, pelas mais diversas razões, não tem
acesso aos meios de comunicação social corre o risco de ser
excluído.
Hoje
de manhã, após a recitação da oração do ‘Regina Caeli’, o
Papa Francisco fez um apelo:
Que
os meios de comunicação social possam favorecer um sentido de
unidade da família humana, a solidariedade e o compromisso por uma
vida digna para todos.
Rezemos
para que a comunicação, em todas as suas formas, esteja
efectivamente ao serviço do encontro entre as pessoas, as
comunidades, as nações: um encontro fundado no respeito e na escuta
recíproca.
MENSAGEM
DO SANTO PADRE FRANCISCO
PARA
O XLVIII DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS
«Comunicação
ao serviço de uma autêntica cultura do encontro»
[Domingo,
1 de Junho de 2014]
Queridos
irmãos e irmãs,
Hoje
vivemos num mundo que está a tornar-se cada vez menor, parecendo,
por isso mesmo, que deveria ser mais fácil fazer-se próximo uns dos
outros. Os progressos dos transportes e das tecnologias de
comunicação deixam-nos mais próximo, interligando-nos sempre mais,
e a globalização faz-nos mais interdependentes. Todavia, dentro da
humanidade, permanecem divisões, e às vezes muito acentuadas. A
nível global, vemos a distância escandalosa que existe entre o luxo
dos mais ricos e a miséria dos mais pobres. Frequentemente, basta
passar pelas estradas duma cidade para ver o contraste entre os que
vivem nos passeios e as luzes brilhantes das lojas. Estamos já tão
habituados a tudo isso que nem nos impressiona. O mundo sofre de
múltiplas formas de exclusão, marginalização e pobreza, como
também de conflitos para os quais convergem causas económicas,
políticas, ideológicas e até mesmo, infelizmente, religiosas.
Neste
mundo, os mass-media podem ajudar a sentir-nos mais próximo uns dos
outros; a fazer-nos perceber um renovado sentido de unidade da
família humana, que impele à solidariedade e a um compromisso sério
para uma vida mais digna. Uma boa comunicação ajuda-nos a estar
mais perto e a conhecer-nos melhor entre nós, a ser mais unidos. Os
muros que nos dividem só podem ser superados, se estivermos prontos
a ouvir e a aprender uns dos outros. Precisamos de harmonizar as
diferenças por meio de formas de diálogo, que nos permitam crescer
na compreensão e no respeito. A cultura do encontro requer que
estejamos dispostos não só a dar, mas também a receber de outros.
Os mass-media podem ajudar-nos nisso, especialmente nos nossos dias
em que as redes da comunicação humana atingiram progressos sem
precedentes. Particularmente a internet pode oferecer maiores
possibilidades de encontro e de solidariedade entre todos; e isto é
uma coisa boa, é um dom de Deus.
No
entanto, existem aspectos problemáticos: a velocidade da informação
supera a nossa capacidade de reflexão e discernimento, e não
permite uma expressão equilibrada e correcta de si mesmo. A
variedade das opiniões expressas pode ser sentida como riqueza, mas
é possível também fechar-se numa esfera de informações que
correspondem apenas às nossas expectativas e às nossas ideias, ou
mesmo a determinados interesses políticos e económicos. O ambiente
de comunicação pode ajudar-nos a crescer ou, pelo contrário,
desorientar-nos. O desejo de conexão digital pode acabar por nos
isolar do nosso próximo, de quem está mais perto de nós. Sem
esquecer que a pessoa que, pelas mais diversas razões, não tem
acesso aos meios de comunicação social corre o risco de ser
excluído.
Estes
limites são reais, mas não justificam uma rejeição dos
mass-media; antes, recordam-nos que, em última análise, a
comunicação é uma conquista mais humana que tecnológica. Portanto
haverá alguma coisa, no ambiente digital, que nos ajuda a crescer em
humanidade e na compreensão recíproca? Devemos, por exemplo,
recuperar um certo sentido de pausa e calma. Isto requer tempo e
capacidade de fazer silêncio para escutar. Temos necessidade também
de ser pacientes, se quisermos compreender aqueles que são
diferentes de nós: uma pessoa expressa-se plenamente a si mesma, não
quando é simplesmente tolerada, mas quando sabe que é
verdadeiramente acolhida. Se estamos verdadeiramente desejosos de
escutar os outros, então aprenderemos a ver o mundo com olhos
diferentes e a apreciar a experiência humana tal como se manifesta
nas várias culturas e tradições. Entretanto saberemos apreciar
melhor também os grandes valores inspirados pelo Cristianismo, como,
por exemplo, a visão do ser humano como pessoa, o matrimónio e a
família, a distinção entre esfera religiosa e esfera política, os
princípios de solidariedade e subsidiariedade, entre outros.
Então,
como pode a comunicação estar ao serviço de uma autêntica cultura
do encontro? E – para nós, discípulos do Senhor – que
significa, segundo o Evangelho, encontrar uma pessoa? Como é
possível, apesar de todas as nossas limitações e pecados, ser
verdadeiramente próximo aos outros? Estas perguntas resumem-se
naquela que, um dia, um escriba – isto é, um comunicador – pôs
a Jesus: «E quem é o meu próximo?» (Lc 10, 29 ). Esta pergunta
ajuda-nos a compreender a comunicação em termos de proximidade.
Poderíamos traduzi-la assim: Como se manifesta a «proximidade» no
uso dos meios de comunicação e no novo ambiente criado pelas
tecnologias digitais? Encontro resposta na parábola do bom
samaritano, que é também uma parábola do comunicador. Na
realidade, quem comunica faz-se próximo. E o bom samaritano não só
se faz próximo, mas cuida do homem que encontra quase morto ao lado
da estrada. Jesus inverte a perspectiva: não se trata de reconhecer
o outro como um meu semelhante, mas da minha capacidade para me fazer
semelhante ao outro. Por isso, comunicar significa tomar consciência
de que somos humanos, filhos de Deus. Apraz-me definir este poder da
comunicação como «proximidade».
Quando
a comunicação tem como fim predominante induzir ao consumo ou à
manipulação das pessoas, encontramo-nos perante uma agressão
violenta como a que sofreu o homem espancado pelos assaltantes e
abandonado na estrada, como lemos na parábola. Naquele homem, o
levita e o sacerdote não vêem um seu próximo, mas um estranho de
quem era melhor manter a distância. Naquele tempo, eram
condicionados pelas regras da pureza ritual. Hoje, corremos o risco
de que alguns mass-media nos condicionem até ao ponto de fazer-nos
ignorar o nosso próximo real.
Não
basta circular pelas «estradas» digitais, isto é, simplesmente
estar conectados: é necessário que a conexão seja acompanhada pelo
encontro verdadeiro. Não podemos viver sozinhos, fechados em nós
mesmos. Precisamos de amar e ser amados. Precisamos de ternura. Não
são as estratégias comunicativas que garantem a beleza, a bondade e
a verdade da comunicação. O próprio mundo dos mass-media não pode
alhear-se da solicitude pela humanidade, chamado como é a exprimir
ternura. A rede digital pode ser um lugar rico de humanidade: não
uma rede de fios, mas de pessoas humanas. A neutralidade dos
mass-media é só aparente: só pode constituir um ponto de
referimento quem comunica colocando-se a si mesmo em jogo. O
envolvimento pessoal é a própria raiz da fiabilidade dum
comunicador. É por isso mesmo que o testemunho cristão pode, graças
à rede, alcançar as periferias existenciais.
Tenho-o
repetido já diversas vezes: entre uma Igreja acidentada que sai pela
estrada e uma Igreja doente de auto-referencialidade, não hesito em
preferir a primeira. E quando falo de estrada penso nas estradas do
mundo onde as pessoas vivem: é lá que as podemos, efectiva e
afectivamente, alcançar. Entre estas estradas estão também as
digitais, congestionadas de humanidade, muitas vezes ferida: homens e
mulheres que procuram uma salvação ou uma esperança. Também
graças à rede, pode a mensagem cristã viajar «até aos confins do
mundo» (Act 1, 8). Abrir as portas das igrejas significa também
abri-las no ambiente digital, seja para que as pessoas entrem,
independentemente da condição de vida em que se encontrem, seja
para que o Evangelho possa cruzar o limiar do templo e sair ao
encontro de todos. Somos chamados a testemunhar uma Igreja que seja
casa de todos. Seremos nós capazes de comunicar o rosto duma Igreja
assim? A comunicação concorre para dar forma à vocação
missionária de toda a Igreja, e as redes sociais são, hoje, um dos
lugares onde viver esta vocação de redescobrir a beleza da fé, a
beleza do encontro com Cristo. Inclusive no contexto da comunicação,
é precisa uma Igreja que consiga levar calor, inflamar o coração.
O
testemunho cristão não se faz com o bombardeio de mensagens
religiosas, mas com a vontade de se doar aos outros «através da
disponibilidade para se deixar envolver, pacientemente e com
respeito, nas suas questões e nas suas dúvidas, no caminho de busca
da verdade e do sentido da existência humana (Bento XVI, Mensagem
para o XLVII Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2013). Pensemos
no episódio dos discípulos de Emaús. É preciso saber-se inserir
no diálogo com os homens e mulheres de hoje, para compreender os
seus anseios, dúvidas, esperanças, e oferecer-lhes o Evangelho,
isto é, Jesus Cristo, Deus feito homem, que morreu e ressuscitou
para nos libertar do pecado e da morte. O desafio requer
profundidade, atenção à vida, sensibilidade espiritual. Dialogar
significa estar convencido de que o outro tem algo de bom para dizer,
dar espaço ao seu ponto de vista, às suas propostas. Dialogar não
significa renunciar às próprias ideias e tradições, mas à
pretensão de que sejam únicas e absolutas.
Possa
servir-nos de guia o ícone do bom samaritano, que liga as feridas do
homem espancado, deitando nelas azeite e vinho. A nossa comunicação
seja azeite perfumado pela dor e vinho bom pela alegria. A nossa
luminosidade não derive de truques ou efeitos especiais, mas de nos
fazermos próximo, com amor, com ternura, de quem encontramos ferido
pelo caminho. Não tenhais medo de vos fazerdes cidadãos do ambiente
digital. É importante a atenção e a presença da Igreja no mundo
da comunicação, para dialogar com o homem de hoje e levá-lo ao
encontro com Cristo: uma Igreja companheira de estrada sabe pôr-se a
caminho com todos. Neste contexto, a revolução nos meios de
comunicação e de informação são um grande e apaixonante desafio
que requer energias frescas e uma imaginação nova para transmitir
aos outros a beleza de Deus.
Vaticano,
24 de Janeiro – Memória de São Francisco de Sales – do ano
2014.
Fontes:Santa
Sé; Agência Ecclesia
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