Cónego
João Aguiar Campos
Desde
o próximo domingo até ao dia 19 deste mês de Outubro decorre, no
Vaticano, a primeira etapa do Sínodo dedicado à família. Trata-se,
por agora, de “recolher testemunhos e propostas dos Bispos para
anunciar e viver de maneira fidedigna o Evangelho para a família”;
a segunda, destinada a “procurar linhas de acção para a pastoral
da pessoa humana e da família”, cumprir-se-á no próximo ano
(2015).
Quer
isto dizer que a pressa de quem pretende respostas imediatas para
diversos e exigentes desafios ou problemas não será tão cedo
satisfeita – sem que isso signifique, porém, descuido da Igreja ou
menor sentido da importância das questões. Nada disso; pois o
interesse é grande, como o próprio documento preparatório
confessa, ao considerar a reflexão “necessária”, “urgente”
e “indispensável”…
O
clima que se tem vivido desde que o sínodo foi convocado demonstra,
entretanto, a necessidade de debates corajosos, profundos e serenos.
Debates que, sem desprezo pelos media ou sensibilidades internas e
externas à própria Igreja, vão mais além das suas agendas e
prioridades – sendo que devem ser travados na caridade. Quero com
isto dizer: caridade na verdade e na misericórdia!... Ou não é a
caridade um caminho que “ultrapassa todos os outros”, como mostra
Paulo na I Carta aos Coríntios?
Reduzir
a importância destes dias à resposta a três ou quatro questões é
empobrecedor. Porque significa menor interesse pela identidade e
importância da família na Igreja e na sociedade, desvalorizando a
sua dimensão de núcleo vital da sociedade e da comunidade eclesial.
Os temas a discutir vão, de facto, mais longe – abrangendo as
condicionantes socioeconómicas, as evoluções culturais e as
dificuldades e complexidades que a família enfrenta em cada país ou
região. Ora, um debate deste género não se faz sem tempo, sem
coragem, sem ponderação e sem rigor. É que, as “problemáticas
até há poucos anos inéditas” não são mera alergia que uma
pomada vulgar possa tratar; simultaneamente, não podem arriscar o
erro médico de quem, na pressa, opera o membro são…
Neste
contexto, atrevo-me a desejar que o cuidadoso e carinhoso tratamento
das feridas que afectam tantas famílias não descure a prevenção:
esclarecimento sério, preparação adequada, acompanhamento
constante. O que, por certo, reivindica mais formação e menos
folclore; e terá como frutos a coerência.
A
este propósito julgo útil citar palavras de Dom Orani João
Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro: “A formação constante e
minuciosa, seja bíblica teológica, espiritual, humana existencial
para os católicos é fundamental. Sabemos que a maioria no máximo
vai à missa. Poucos participam de grupos de reflexão. E muito
poucos ainda vão a conferências ou cursos de teologia. (…) Temos
de descobrir outras maneiras para disseminar o conhecimento. Além do
conhecimento, sabemos também que é preciso testemunhar com a
própria vida”.
Sabemos?...
Já não é mau…
João
Aguiar Campos
Fonte:
Editorial da Agência Ecclesia - 03 de Outubro de 2014
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