Os
Padres Sinodais aprovaram, no decorrer da 14ª Congregação Geral na
manhã deste sábado, a mensagem final da III Assembleia Geral
Extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema “Os desafios
pastorais sobre a família no contexto da evangelização”
Transcrevemos
a mensagem na íntegra:
Nós,
Padres Sinodais reunidos em Roma junto ao Santo Padre na Assembleia
Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, nos dirigimos a todas as
famílias dos diversos continentes e, em particular, àquelas que
seguem Cristo Caminho, Verdade e Vida.
Manifestamos
a nossa admiração e gratidão pelo testemunho quotidiano que vocês
oferecem a nós e ao mundo com a sua fidelidade, fé, esperança e
amor.
Também
nós, pastores da Igreja, nascemos e crescemos em uma família com as
mais diversas histórias e acontecimentos.
Como
sacerdotes e bispos, encontramos e vivemos ao lado de famílias que
nos narraram em palavras e nos mostraram em actos uma longa série de
esplendores mas também de cansaços.
A
própria preparação desta assembleia sinodal, a partir das
respostas ao questionário enviado às Igrejas do mundo inteiro, nos
permitiu escutar a voz de tantas experiências familiares.
O
nosso diálogo nos dias do Sínodo nos enriqueceu reciprocamente,
ajudando-nos a olhar toda a realidade viva e complexa em que as
famílias vivem.
A
vocês, apresentamos as palavras de Cristo: "Eis que estou à
porta e bato.
Se
alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e
cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20).
Como
costumava fazer durante os seus percursos ao longo das estradas da
Terra Santa, entrando nas casas dos povoados, Jesus continua a passar
também hoje pelos caminhos das nossas cidades.
Nas
vossas casas se experimentam luzes e sombras, desafios exaltantes
mas, às vezes, também provações dramáticas.
A
escuridão se faz ainda mais densa até se tornar trevas, quando se
insinuam no coração da família o mal e o pecado.
Existe,
antes de tudo, os grandes desafios da fidelidade no amor conjugal, do
enfraquecimento da fé e dos valores, do individualismo, do
empobrecimento das relações, do stress, de um alvoroço que ignora
a reflexão, que também marcam a vida familiar.
Se
assiste, assim, a não poucas crises matrimoniais enfrentadas,
frequentemente, em modo apressado e sem a coragem da paciência, da
verificação, do perdão recíproco, da reconciliação e também do
sacrifício.
Os
fracassos dão, assim, origem a novas relações, novos casais, novas
uniões e novos matrimónios, criando situações familiares
complexas e problemáticas para a escolha cristã.
Entre
estes desafios queremos evocar também o cansaço da própria
existência.
Pensemos
ao sofrimento que pode aparecer em um filho portador de deficiência,
em uma doença grave, na degeneração neurológica da velhice, na
morte de uma pessoa querida.
É
admirável a fidelidade generosa de muitas famílias que vivem estas
provações com coragem, fé e amor, considerando-as não como alguma
coisa que é arrancada ou infligida, mas como alguma coisa que é
doada a eles e que eles doam, vendo Cristo sofredor naquelas carnes
doentes.
Pensemos
às dificuldades económicas causadas por sistemas perversos, pelo
“fetichismo do dinheiro e na ditadura de uma economia sem rosto e
sem um objectivo verdadeiramente humano” (Evangelii Gaudium 55),
que humilha a dignidade das pessoas.
Pensemos
ao pai ou à mãe desempregados, impotentes diante das necessidades
também primárias de suas famílias, e aos jovens que se encontram
diante de dias vazios e sem expectativas, e que podem tornar-se presa
dos desvios na droga e na criminalidade.
Pensemos
também na multidão das famílias pobres, àquelas que se agarram em
um barco para atingir uma meta de sobrevivência, às famílias
refugiadas que sem esperança migram nos desertos, àquelas
perseguidas simplesmente pela sua fé e pelos seus valores
espirituais e humanos, àquelas atingidas pela brutalidade das
guerras e das opressões.
Pensemos
também às mulheres que sofrem violência e são submetidas à
exploração, ao tráfico de pessoas, às crianças e jovens vítimas
de abusos até mesmo por parte daqueles que deveriam protegê-las e
fazê-las crescer na confiança e aos membros de tantas famílias
humilhadas e em dificuldade.
“A
cultura do bem-estar anestesia-nos e (...) todas estas vidas ceifadas
por falta de possibilidades nos parecem um mero espectáculo que não
nos incomoda de forma alguma” (Evangelii Gaudium, 54).
Fazemos
apelo aos governos e às organizações internacionais para
promoverem os direitos da família para o bem comum.
Cristo
quis que a sua Igreja fosse uma casa com a porta sempre aberta na
acolhida, sem excluir ninguém.
Somos,
por isso, agradecidos aos pastores, fiéis e comunidades prontos a
acompanhar e a assumir as dilacerações interiores e sociais dos
casais e das famílias.
Existe,
contudo, também a luz que de noite resplandece atrás das janelas
nas casas das cidades, nas modestas residências de periferia ou nos
povoados e até mesmos nas cabanas: ela brilha e aquece os corpos e
almas.
Esta
luz, na vida nupcial dos cônjuges, se acende com o encontro: é um
dom, uma graça que se expressa – como diz o Livro do Génesis
(2,18) – quando os dois vultos estão um diante o outro, em uma
“ajuda correspondente”, isto é, igual e recíproca.
O
amor do homem e da mulher nos ensina que cada um dos dois tem
necessidade do outro para ser si mesmo, mesmo permanecendo diferente
ao outro na sua identidade, que se abre e se revela no dom mútuo.
É
isto que manifesta em modo sugestivo a mulher do Cântico dos
Cânticos: “O meu amado é para mim e eu sou sua...eu sou do meu
amado e meu amado é meu”, (Cnt 2,16; 6,3).
Para
que este encontro seja autêntico, o itinerário inicia com o
noivado, tempo de espera e de preparação.
Realiza-se
em plenitude no Sacramento onde Deus coloca o seu selo, a sua
presença e a sua graça.
Este
caminho conhece também a sexualidade, a ternura, e a beleza, que
perduram também além do vigor e do frescor juvenil.
O
amor tende pela sua natureza ser para sempre, até dar a vida pela
pessoa que se ama (cf. João 15,13).
Nesta
luz, o amor conjugal único e indissolúvel persiste, apesar das
tantas dificuldades do limite humano; é um dos milagres mais belos,
embora seja também o mais comum.
Este
amor se difunde por meio da fecundidade e do ‘gerativismo’, que
não é somente procriação, mas também dom da vida divina no
Baptismo, educação e catequese dos filhos.
É
também capacidade de oferecer vida, afecto, valores, uma experiência
possível também a quem não pode gerar.
As
famílias que vivem esta aventura luminosa tornam-se um testemunho
para todos, em particular para os jovens.
Durante
este caminho, que às vezes é um percurso instável, com cansaços e
caídas, se tem sempre a presença e o acompanhamento de Deus.
A
família de Deus experimenta isto no afecto e no diálogo entre
marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs.
Depois
vive isto ao escutar juntos a Palavra de Deus e na oração comum, um
pequeno oásis do espírito a ser criado em qualquer momento a cada
dia. Existem, portanto, o empenho quotidiano na educação à fé e à
vida boa e bonita do Evangelho, à santidade.
Esta
tarefa é, frequentemente, partilhada e exercida com grande afecto e
dedicação também pelos avôs e avós.
Assim,
a família apresenta-se como autêntica Igreja doméstica, que se
alarga à família das famílias que é a comunidade eclesial.
Os
cônjuges cristãos são, após, chamados a tornarem-se mestres na fé
e no amor também para os jovens casais.
O
vértice que reúne e sintetiza todos os elos da comunhão com Deus e
com o próximo é a Eucaristia dominical quando, com toda a Igreja, a
família se senta à mesa com o Senhor.
Ele
se doa a todos nós, peregrinos na história em direcção à meta do
encontro último quando “Cristo será tudo em todos” (Col 3,11).
Por
isto, na primeira etapa do nosso caminho sinodal, reflectimos sobre o
acompanhamento pastoral e sobre o acesso aos sacramentos pelos
divorciados recasados.
Nós,
Padres Sinodais, vos pedimos para caminhar connosco em direcção ao
próximo Sínodo.
Em
vocês se confirma a presença da família de Jesus, Maria e José na
sua modesta casa.
Também
nós, unindo-nos à Família de Nazaré, elevamos ao Pai de todos a
nossa invocação pelas famílias da terra:
Senhor,
doa a todas as famílias a presença de esposos fortes e sábios,
que
sejam vertente de uma família livre e unida.
Senhor,
doa aos pais a possibilidade de ter uma casa onde viver em paz com a
família.
Senhor,
doa aos filhos a possibilidade de serem signo de confiança e aos
jovens a coragem do compromisso estável e fiel.
Senhor,
doa a todos a possibilidade de ganhar o pão com as suas próprias
mãos, de provar a serenidade do espírito e de manter viva a chama
da fé mesmo na escuridão.
Senhor,
doa a todos a possibilidade de ver florescer uma Igreja sempre mais
fiel e credível, uma cidade justa e humana, um mundo que ame a
verdade, a justiça e a misericórdia.
Fonte:
Rádio Vaticano
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