Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

CAPELAS NA PRAIA – PORCHES



Capela Nossa Senhora da Rocha – Porches, Lagoa

Diocese do Algarve









Nota Histórico-Artística da Direcção Geral do Património Cultural:

Subsistem muitas dúvidas acerca das origens da capela de Nossa Senhora da Rocha, bem como do presumível forte que, inicialmente, aqui existiu. A localização privilegiada do promontório onde se situa levou a que, desde cedo, o local fosse fortificado, "dominando toda a costa entre" Ossonoba (Faro) e Lacobriga (Lagos) (GAMITO, 1997, p.356) e protegendo uma "praia originariamente com acesso apenas por via marítima", "um porto fechado entre amplas falésias" (MACIEL, 2003, p.119).
A actual configuração do templo é de difícil catalogação. Por um lado, reaproveitaram-se capitéis tardo-antigos, o que pressupõe uma construção em plena Alta Idade Média. Por outro, as sucessivas obras de embelezamento e de pintura, a par da inexistência de escavações arqueológicas, impossibilitam uma mais rigorosa análise do monumento, o que contribui para as dificuldades de datação e de contextualização estilística da obra.
Nos últimos anos, diferentes autores propuseram distintas hipóteses acerca da origem do templo, qualquer delas carecendo de uma prova material evidente. Teresa Gamito, ao estudar a presença bizantina no Algarve, viu nesta capela uma prova da vitalidade e do alcance da (re)conquista bizantina da Península, colocando-a a par de um sector das muralhas de Faro, que situou também neste contexto civilizacional (GAMITO, 1997, pp.356-357). Para a autora, a configuração do átrio e as pretensas analogias com a igreja de São Pedro de Balsemão eram a prova que confirmava "a origem bizantina do templo", cuja tipologia orientalizante se verificava também no mundo visigótico.
Apesar da confusão evidente nos argumentos de Gamito (que se refere indistintamente a uma época visigótico-bizantina, quando a contaminação entre estes dois blocos opostos não está suficientemente provada, e toma por certa a cronologia visigótica de Balsemão), a sua tese foi recentemente retomada por Manuel Justino Maciel que sistematizou de forma mais clara estes indícios, mas não acrescentou novos dados (MACIEL, 2003, pp.118-119).
Igualmente problemática é a proposta de Cláudio Torres, que viu nesta capela "um centro de peregrinação na época moçárabe" (TORRES, 1999, p.161). O facto de se reutilizarem capitéis tardo-antigos é um argumento válido quer para os séculos VI-VII, quer para os séculos IX-XI. Já a localização num promontório dominante sobre a costa, se, por um lado, permite equacionar uma possível relação com o templo moçárabe de Nossa Senhora do Cabo, ou do Corvo, por outro parece inviabilizar qualquer fixação cristã em época islâmica, altura em que as condições excepcionais do local certamente determinaram um aproveitamento militar.
A capela compõe-se de dois espaços essenciais: um narthex rectangular, aberto ao exterior por uma arcada tripla assente em colunas e dois capitéis coríntios datáveis dos séculos III-IV, altura a que devem corresponder também as bases das colunas; e o corpo, quadrangular e coberto por uma cúpula oitavada dominante, sem paralelos aparentes na restante arquitectura religiosa regional. No interior, esta cúpula é coberta por tecto de madeira e articula-se com o retábulo moderno, tripartido, que se ajusta à parede nascente.
Se a cronologia da capela é duvidosa, o mesmo acontece com a fortaleza. Só possuímos informações seguras para os finais do século XVI, altura em que Tomé Gonçalves é mencionado como governador (COUTINHO, 1997, p.116), mas é certo que desde tempos mais recuados estaria em funcionamento. Em 1821, encontrava-se já muito destruída, não se identificando grandes parcelas do perímetro original (IDEM, p.116) e, na actualidade, é pouco o que resta, mercê das sucessivas derrocadas provocadas pelo mar, que começam, mesmo, a ameaçar a própria estrutura da capela.
Parcialmente restaurada pela DGEMN, na década de 60 do século XX, o local continua a aguardar um projecto de investigação coerente e alargado, que permita responder às múltiplas questões que se colocam sobre este insólito monumento.

Fontes: Agência Ecclesia; Direcção Geral do Património Cultural



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