Capela
Nossa Senhora da Rocha – Porches, Lagoa
Diocese
do Algarve
Nota
Histórico-Artística da Direcção Geral do Património Cultural:
Subsistem
muitas dúvidas acerca das origens da capela de Nossa Senhora da
Rocha, bem como do presumível forte que, inicialmente, aqui existiu.
A localização privilegiada do promontório onde se situa levou a
que, desde cedo, o local fosse fortificado, "dominando toda a
costa entre" Ossonoba (Faro) e Lacobriga (Lagos) (GAMITO, 1997,
p.356) e protegendo uma "praia originariamente com acesso apenas
por via marítima", "um porto fechado entre amplas
falésias" (MACIEL, 2003, p.119).
A
actual configuração do templo é de difícil catalogação. Por um
lado, reaproveitaram-se capitéis tardo-antigos, o que pressupõe uma
construção em plena Alta Idade Média. Por outro, as sucessivas
obras de embelezamento e de pintura, a par da inexistência de
escavações arqueológicas, impossibilitam uma mais rigorosa análise
do monumento, o que contribui para as dificuldades de datação e de
contextualização estilística da obra.
Nos
últimos anos, diferentes autores propuseram distintas hipóteses
acerca da origem do templo, qualquer delas carecendo de uma prova
material evidente. Teresa Gamito, ao estudar a presença bizantina no
Algarve, viu nesta capela uma prova da vitalidade e do alcance da
(re)conquista bizantina da Península, colocando-a a par de um sector
das muralhas de Faro, que situou também neste contexto
civilizacional (GAMITO, 1997, pp.356-357). Para a autora, a
configuração do átrio e as pretensas analogias com a igreja de São
Pedro de Balsemão eram a prova que confirmava "a origem
bizantina do templo", cuja tipologia orientalizante se
verificava também no mundo visigótico.
Apesar
da confusão evidente nos argumentos de Gamito (que se refere
indistintamente a uma época visigótico-bizantina, quando a
contaminação entre estes dois blocos opostos não está
suficientemente provada, e toma por certa a cronologia visigótica de
Balsemão), a sua tese foi recentemente retomada por Manuel Justino
Maciel que sistematizou de forma mais clara estes indícios, mas não
acrescentou novos dados (MACIEL, 2003, pp.118-119).
Igualmente
problemática é a proposta de Cláudio Torres, que viu nesta capela
"um centro de peregrinação na época moçárabe" (TORRES,
1999, p.161). O facto de se reutilizarem capitéis tardo-antigos é
um argumento válido quer para os séculos VI-VII, quer para os
séculos IX-XI. Já a localização num promontório dominante sobre
a costa, se, por um lado, permite equacionar uma possível relação
com o templo moçárabe de Nossa Senhora do Cabo, ou do Corvo, por
outro parece inviabilizar qualquer fixação cristã em época
islâmica, altura em que as condições excepcionais do local
certamente determinaram um aproveitamento militar.
A
capela compõe-se de dois espaços essenciais: um narthex
rectangular, aberto ao exterior por uma arcada tripla assente em
colunas e dois capitéis coríntios datáveis dos séculos III-IV,
altura a que devem corresponder também as bases das colunas; e o
corpo, quadrangular e coberto por uma cúpula oitavada dominante, sem
paralelos aparentes na restante arquitectura religiosa regional. No
interior, esta cúpula é coberta por tecto de madeira e articula-se
com o retábulo moderno, tripartido, que se ajusta à parede
nascente.
Se
a cronologia da capela é duvidosa, o mesmo acontece com a fortaleza.
Só possuímos informações seguras para os finais do século XVI,
altura em que Tomé Gonçalves é mencionado como governador
(COUTINHO, 1997, p.116), mas é certo que desde tempos mais recuados
estaria em funcionamento. Em 1821, encontrava-se já muito destruída,
não se identificando grandes parcelas do perímetro original (IDEM,
p.116) e, na actualidade, é pouco o que resta, mercê das sucessivas
derrocadas provocadas pelo mar, que começam, mesmo, a ameaçar a
própria estrutura da capela.
Parcialmente
restaurada pela DGEMN, na década de 60 do século XX, o local
continua a aguardar um projecto de investigação coerente e
alargado, que permita responder às múltiplas questões que se
colocam sobre este insólito monumento.
Fontes:
Agência Ecclesia; Direcção Geral do Património Cultural
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