Um
Santo Natal para todos!
Sem
esquecermos os que estão ao nosso lado:
Os
desempregados, os jovens sem trabalho, os doentes, os idosos, os que
sofrem, os que estão sós, os necessitados,
os carentes do nosso
olhar
Também
este será um Natal na crise, agravado pelo aumento do desemprego.
Para
muitos, sobretudo jovens, não há trabalho; para outros, tornou-se
difícil chegar ao fim do mês com o seu salário.
E
para muitos pensionistas a situação é marcada pela penúria e
extrema pobreza.
Nem
todos o vêem, mas sabem-no muito bem os responsáveis por
iniciativas ou instituições caritativas que viram aumentar a fila
de quantos procuram uma refeição quente ou “mendigam” pão,
leite, massa, um pouco de queijo, alguma caixa de comida…
Mas,
ainda mais preocupante, neste Natal domina a fraca confiança, a
falta de esperança e, em alguns covis, uma raiva que às vezes
parece pronta a explodir na violência e na vontade de dar uma lição
a quantos são vistos como responsáveis pela situação, na vingança
dirigida àqueles que continuam a não sofrer a crise, mostrando um
estilo de vida luxuoso e arrogante.
Certo,
comer-se-á bolo-rei, porque mesmo este é distribuído e dado aos
pobres, mas em muitos corações não haverá aquela alegria que
todos nós imaginamos ligados a esta festa, e até para alguns ela
agravará o cansaço e o sofrimento, como às vezes acontece quando
quem sofre vê a alegria dos outros.
Estar
consciente desta “realidade” deveria tornar-nos particularmente
responsáveis – sobretudo se não estamos gravemente feridos pela
crise – por aqueles que passam por necessidades.
Não
é preciso assumir grandes iniciativas: basta que, saindo de casa,
nos detenhamos a olhar nos olhos, face a face, aqueles que sofrem;
basta que, conhecendo aquela família particular que precisa de
ajuda, vamos ao seu encontro, tornando-a próxima: então o nosso
coração, as nossas entranhas de compaixão, ditar-nos-ão o
comportamento, inspirar-nos-ão o que partilhar, o que dar
gratuitamente.
Nós,
homens e mulheres, não somos maus: somos distraídos, estamos em
fuga, temos pressa e não temos tempo para nos determos.
Mas
se tivermos a força para fazer isto, ou seja, encontrar e olhar nos
olhos de quem passa por necessidades, saberemos o que fazer e teremos
a coragem, o impulso para o fazer.
Conheceremos,
sobretudo no Natal, a festa da troca dos dons, descobriremos que há
mais alegria no dar do que no receber, e o nosso dom gratuito
activará uma dinâmica fecunda pela qual quem recebe dá a quem está
à sua volta.
Afinal,
o que nos narra a presépio que encontramos aqui e ali nas praças ou
nas igrejas, ou aquele que nós próprios construímos nas nossas
casas?
O
nascimento de uma criança de um casal pobre, uma família em viagem,
para a qual não havia lugar nem sequer na estalagem.
Todavia,
àquela gruta, àquele recém-nascido chegam muitos pobres: pastores,
donas de casa, habitantes dos povoados, e chegam com presentes para o
menino pobre, enfaixado, que tem por berço uma manjedoura de
estrebaria.
É
portanto o presépio que nos convida a fazer o mesmo.
Se
gostamos de o ver, se o construímos para estar em festa, então que
se refaça o mesmo movimento: ir ao encontro de quem precisa e
gratuitamente dar a quem não pode retribuir.
E
para os cristãos, o presépio torna-se profecia.
Aquela
criança na manjedoura, com efeito, também disse, como Messias e
Juiz: «Tudo o que tiverdes feito a um destes pobres que são meus e
vossos irmãos, a mim o fizestes».
Mas
saberemos discernir o pobre nos pobres concretos, que estão ao nosso
lado?
No
Natal cantamos Jesus pobre, nutrimos sentimentos ideais em relação
«ao pobre menino ao frio e à geada», mas depois reconhecemos quem
é carenciado e habita provavelmente no nosso próprio palácio, sob
o próprio tecto ou nas casas vizinhas?
Somos
facilmente atraídos pela caridade por quem está longe e que o faz
estar longe, mas não gostamos do pobre ao nosso lado, na nossa casa,
na verdadeira relação com ele.
Por
isso, a crise económica, que antes de tudo é social, cultural e
sobretudo ética, deveria ser uma ocasião para viver de maneira
diferente, de modo simplesmente mais humano e humanizante, a nossa
vida social.
O
Natal, com a sua tradição, a sua mensagem, pode interpelar-nos e
ajudar-nos a dar passos concretos, de forma a conhecermos uma melhor
convivência e começar assim a ter confiança uns nos outros, a
esperar juntos por todos.
Quando
eu era uma criança, no imediato pós-guerra (e era um tempo de
crise, mesmo de miséria!), no dia de Natal, à mesa, reservava-se um
prato e uma cadeira para o caso de aparecer um pobre para festejar.
Era
o sinal de que se estava pronto a partilhar o pouco que havia: ter à
mesa alguém que chegasse de surpresa ampliava a festa…
Quem
sabe se alguém, na noite de Natal, ouvirá uma pregação como a que
fez São Jerónimo:
«Nós,
hoje, com a desculpa de honrar Cristo, eliminámos a sujidade do
estábulo para a substituir por ouro e prata, mas para mim é muito
mais precioso aquilo que tirámos.
Ouro
e prata condizem com os poderosos, os ricos, mas a quem crê em
Cristo diz muito mais aquele estábulo de terra batida.
Quem
nasceu no estábulo não quer nem ouro nem prata!».
Enzo
Bianchi
Prior
do Mosteiro de Bose, Itália
In
Vatican Insider
Trad.
e adapt.: rjm
Fonte:
Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
Sem comentários:
Enviar um comentário