“Seja
aberta a Porta da Justiça” – foi com estas palavras que o
Papa Francisco abriu a Porta Santa da Misericórdia da Basílica de
S. Pedro no Vaticano
O
Santo Padre inaugurou, assim, o 29º Jubileu da história da Igreja
Católica.
A
Igreja Católica iniciou a tradição do Ano Santo com o Papa
Bonifácio VIII, em 1300, e a partir de 1475 determinou-se um jubileu
ordinário a cada 25 anos.
Até
hoje, houve 26 Anos Santos ordinários (o último em 2000) e dois
extraordinários (anos santos da Redenção): em 1933 (Pio IX) e 1983
(João Paulo II).
O
jubileu consiste num perdão geral, uma indulgência aberta a todos,
e na possibilidade de renovar a relação com Deus e o próximo.
Esta
indulgência implica obras penitenciais, como peregrinações e
visitas a igrejas.
JUBILEU
EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
SANTA
MISSA E ABERTURA DA PORTA SANTA
HOMILIA
DO PAPA FRANCISCO
Praça
São Pedro
Terça-feira,
8 de Dezembro de 2015
Imaculada
Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria
Daqui
a pouco, terei a alegria de abrir a Porta Santa da Misericórdia.
Este
gesto, como fiz em Bangui, simples mas altamente simbólico,
realizamo-lo à luz da Palavra de Deus escutada que põe em evidência
a primazia da graça.
Na
verdade, o tema que mais vezes aflora nestas Leituras remete para
aquela frase que o anjo Gabriel dirigiu a uma jovem mulher, surpresa
e turbada, indicando o mistério que a iria envolver: «Salve, ó
cheia de graça» (Lc 1, 28).
Antes
de mais nada, a Virgem Maria é convidada a alegrar-Se com aquilo que
o Senhor realizou n’Ela.
A
graça de Deus envolveu-A, tornando-A digna de ser mãe de Cristo.
Quando
Gabriel entra na sua casa, até o mistério mais profundo, que
ultrapassa toda e qualquer capacidade da razão, se torna para Ela
motivo de alegria, motivo de fé, motivo de abandono à palavra que
Lhe é revelada.
A
plenitude da graça é capaz de transformar o coração,
permitindo-lhe realizar um acto tão grande que muda a história da
humanidade.
A
festa da Imaculada Conceição exprime a grandeza do amor divino.
Deus
não é apenas Aquele que perdoa o pecado, mas, em Maria, chega até
a evitar a culpa original, que todo o homem traz consigo ao entrar
neste mundo.
É
o amor de Deus que evita, antecipa e salva.
O
início da história do pecado no Jardim do Éden encontra solução
no projecto de um amor que salva.
As
palavras do Génesis levam-nos à experiência diária que
descobrimos na nossa existência pessoal.
Há
sempre a tentação da desobediência, que se exprime no desejo de
projectar a nossa vida independentemente da vontade de Deus.
Esta
é a inimizade que ameaça continuamente a vida dos homens, tentando
contrapô-los ao desígnio de Deus.
E
todavia a própria história do pecado só é compreensível à luz
do amor que perdoa.
O
pecado só se entende sob esta luz.
Se
tudo permanecesse ligado ao pecado, seríamos os mais desesperados
entre as criaturas.
Mas
não! A promessa da vitória do amor de Cristo encerra tudo na
misericórdia do Pai.
Sobre
isto, não deixa qualquer dúvida a palavra de Deus que ouvimos.
Diante
de nós, temos a Virgem Imaculada como testemunha privilegiada desta
promessa e do seu cumprimento.
Também
este Ano Extraordinário é dom de graça.
Entrar
por aquela Porta significa descobrir a profundidade da misericórdia
do Pai que a todos acolhe e vai pessoalmente ao encontro de cada um.
É
Ele que nos procura, ´Ele que nos vem ao encontro.
Neste
Ano, deveremos crescer na convicção da misericórdia.
Que
grande injustiça fazemos a Deus e à sua graça, quando se afirma,
em primeiro lugar, que os pecados são punidos pelo seu julgamento,
sem antepor, diversamente, que são perdoados pela sua misericórdia
(cf. Santo Agostinho, De praedestinatione sanctorum 12, 24)!
E
assim é verdadeiramente.
Devemos
antepor a misericórdia ao julgamento e, em todo o caso, o julgamento
de Deus será sempre feito à luz da sua misericórdia.
Por
isso, oxalá o cruzamento da Porta Santa nos faça sentir
participantes deste mistério de amor, de ternura.
Ponhamos
de lado qualquer forma de medo e temor, porque não se coaduna em
quem é amado; vivamos, antes, a alegria do encontro com a graça
que tudo transforma.
Hoje,
aqui em Roma e em todas as dioceses do mundo, ao cruzar a Porta
Santa, queremos também recordar outra porta que, há cinquenta anos,
os Padres do Concílio Vaticano II escancararam ao mundo.
Esta
efeméride não pode lembrar apenas a riqueza dos documentos
emanados, que permitem verificar até aos nossos dias o grande
progresso que se realizou na fé.
Mas
o Concílio foi também, e primariamente, um encontro; um verdadeiro
encontro entre a Igreja e os homens do nosso tempo.
Um
encontro marcado pela força do Espírito que impelia a sua Igreja a
sair dos baixios que por muitos anos a mantiveram fechada em si
mesma, para retomar com entusiasmo o caminho missionário.
Era
a retomada de um percurso para ir ao encontro de cada homem no lugar
onde vive: na sua cidade, na sua casa, no local de trabalho... em
qualquer lugar onde houver uma pessoa, a Igreja é chamada a ir lá
ter com ela, para lhe levar a alegria do Evangelho e levar a
Misericórdia e o perdão de Deus.
Trata-se,
pois, de um impulso missionário que, depois destas décadas,
retomamos com a mesma força e o mesmo entusiasmo.
O
Jubileu exorta-nos a esta abertura e obriga-nos a não transcurar o
espírito que surgiu do Vaticano II, o do Samaritano, como
recordou o Beato Paulo VI na conclusão do Concílio.
Atravessar
hoje a Porta Santa compromete-nos a adoptar a misericórdia do bom
samaritano.
Fontes:
Santa Sé; Rádio Vaticano
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