Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

quinta-feira, 28 de junho de 2018

D. ANTÓNIO MARTO É O QUINTO CARDEAL PORTUGUÊS DO SÉCULO XXI




Na cerimónia realizada esta tarde na Basílica de São Pedro foi criado cardeal-presbítero pelo Papa Francisco
   
   
O Papa Francisco presidiu, na tarde desta Quinta-feira, 28 de Junho de 2018, na Basílica de São Pedro, ao Consistório Ordinário Público para a criação de catorze novos cardeais.

O Papa Francisco tinha anunciado este novo Consistório para a criação de 14 novos cardeais no dia 20 de Maio de 2018, Domingo de Pentecostes.
Onze deles são eleitores, com menos de 80 anos.
A estes, juntam-se outros três com mais de 80 anos, portanto não eleitores, que “se distinguiram por seu serviço à Igreja” - destes, um é Padre missionário claretiano, o único que não é Bispo.

D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, foi nomeado cardeal pelo Papa Francisco no passado dia 20 de Maio; é o quinto cardeal português do século XXI e o segundo a ser designado no actual pontificado.

Esta tarde, D. António Marto foi criado cardeal-presbítero com o título de ‘Santa Maria sopra Minerva’, uma igreja de Roma que já tinha sido atribuída, no século XIX, ao cardeal Guilherme Henriques de Carvalho, 9.º patriarca de Lisboa, que foi bispo de Leiria.




D. António Marto conta como viveu o momento em que estava a ser criado cardeal:




CONSISTÓRIO ORDINÁRIO PÚBLICO PARA A CRIAÇÃO DE NOVOS CARDEAIS
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica do Vaticano, Quinta-feira, 28 de Junho de 2018

«Iam a caminho, subindo para Jerusalém, e Jesus seguia à frente[1] deles» (Mc 10, 32).
O início desta passagem paradigmática de Marcos sempre nos ajuda a ver como o Senhor cuida do seu povo com uma pedagogia incomparável.
No caminho para Jerusalém, Jesus não Se esquece de preceder os seus.

Jerusalém representa a hora das grandes resoluções e decisões.
Todos sabemos que, na vida, os momentos importantes e cruciais deixam falar o coração e manifestam as intenções e as tensões que vivem em nós.
Tais encruzilhadas da existência interpelam-nos e fazem surgir questões e desejos nem sempre transparentes do coração humano; é o que nos mostra, com grande simplicidade e realismo, o texto do Evangelho que acabamos de ouvir.
Em contraponto ao terceiro e mais duro anúncio da Paixão, o Evangelista não teme desvendar alguns segredos do coração dos discípulos: busca dos primeiros lugares, ciúmes, invejas, intrigas, ajustes e acordos; esta lógica não só desgasta e corrói a partir de dentro as relações entre eles, mas ainda os fecha e envolve em discussões inúteis e de pouca importância.
Entretanto Jesus não Se detém nisso, mas continua para diante, precede-os e diz-lhes vigorosamente: «Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo» (Mc 10, 43).
Com este comportamento, o Senhor procura centrar de novo o olhar e o coração dos seus discípulos, não permitindo que discussões estéreis e autorreferenciais tenham espaço na comunidade.
Que adianta ganhar o mundo inteiro, se se fica corroído por dentro?
Que adianta ganhar o mundo inteiro, se todos vivem prisioneiros de asfixiantes intrigas que secam e tornam estéril o coração e a missão?
Nesta situação – como alguém observou –, poder-se-iam já vislumbrar as intrigas de palácio, mesmo nas cúrias eclesiásticas.

«Não deve ser assim entre vós»: é a resposta do Senhor, que constitui primariamente um convite e uma aposta para recuperar o que há de melhor nos discípulos e, assim, não se deixarem arruinar e prender por lógicas mundanas que afastam o olhar daquilo que é importante.
«Não deve ser assim entre vós»: é a voz do Senhor que salva a comunidade de se fixar demasiado em si mesma, em vez de dirigir o olhar, os recursos, as expectativas e o coração para o que conta, a missão.

Deste modo, Jesus ensina-nos que a conversão, a transformação do coração e a reforma da Igreja são feitas, e sempre o devem ser, em chave missionária, pois pressupõem que se deixe de olhar e cuidar dos interesses próprios para olhar e cuidar dos interesses do Pai.
A conversão dos nossos pecados, dos nossos egoísmos não é nem será jamais um fim em si mesma, mas visa principalmente crescer em fidelidade e disponibilidade para abraçar a missão; e isto de tal maneira que na hora da verdade, especialmente nos momentos difíceis dos nossos irmãos, estejamos claramente dispostos e disponíveis para acompanhar e acolher a todos e cada um e não nos transformemos em óptimos repelentes por termos vistas curtas[2] ou, pior ainda, por estarmos pensando e discutindo entre nós quem será o mais importante.
Quando nos esquecemos da missão, quando perdemos de vista o rosto concreto dos irmãos, a nossa vida fecha-se na busca dos próprios interesses e seguranças.
E, assim, começam a crescer o ressentimento, a tristeza e a aversão.
Pouco a pouco diminui o espaço para os outros, para a comunidade eclesial, para os pobres, para escutar a voz do Senhor.
Deste modo perde-se a alegria, e o coração acaba na aridez (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 2).

«Não deve ser assim entre vós – diz o Senhor – (…) e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos» (Mc 10, 43.44).
É a bem-aventurança e o magnificat que somos chamados a entoar todos os dias.
É o convite que o Senhor nos faz, para não esquecermos que a autoridade na Igreja cresce com esta capacidade de promover a dignidade do outro, ungir o outro, para curar as suas feridas e a sua esperança tantas vezes ofendida.
É lembrar que estamos aqui porque fomos enviados para «anunciar a Boa-Nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; para mandar em liberdade os oprimidos, para proclamar um ano favorável da parte do Senhor» (Lc 4, 18-19).

Amados irmãos Cardeais e neo-Cardeais!
Estando nós na estrada para Jerusalém, o Senhor caminha à nossa frente para nos lembrar uma vez mais que a única autoridade crível é a que nasce de se colocar aos pés dos outros para servir a Cristo.
É a que deriva de não esquecer que Jesus, antes de inclinar a cabeça na cruz, não teve medo de Se inclinar diante dos discípulos e lavar-lhes os pés.
Esta é a mais alta condecoração que podemos obter, a maior promoção que nos pode ser dada: servir Cristo no povo fiel de Deus, no faminto, no esquecido, no recluso, no doente, no toxicodependente, no abandonado, em pessoas concretas com as suas histórias e esperanças, com os seus anseios e decepções, com os seus sofrimentos e feridas.
Só assim a autoridade do pastor terá o sabor do Evangelho e não será «como um bronze que soa ou um címbalo que retine» (1 Cor 13, 1).
Nenhum de nós se deve sentir «superior» a outrem.
Nenhum de nós deve olhar os outros de cima para baixo; só podemos olhar assim uma pessoa, quando a ajudamos a levantar-se.

Gostava de recordar convosco uma parte do testamento espiritual de São João XXIII que, já adiantado no caminho, pôde dizer:

«Nascido pobre, mas de gente honrada e humilde, sinto-me particularmente feliz por morrer pobre, tendo distribuído, segundo as várias exigências e circunstâncias da minha vida simples e modesta ao serviço dos pobres e da Santa Igreja que me alimentou, tudo o que me chegou às mãos – em medida, aliás, muito limitada – durante os anos do meu sacerdócio e do meu episcopado. Aparências de fartura encobriram, muitas vezes, espinhos ocultos de aflitiva pobreza que me impediram de dar sempre com toda a largueza que gostaria. Agradeço a Deus por esta graça da pobreza, de que fiz voto na minha juventude, pobreza de espírito, como Padre do Sagrado Coração, e pobreza real; e por me sustentar para nunca pedir nada, nem lugares, nem dinheiro, nem favores, nunca, nem para mim nem para os meus parentes ou amigos» (29 de Junho de 1954).

[1]O verbo proago é o mesmo com que Jesus ressuscitado faz anunciar aos discípulos que os «precederá» na Galileia (cf. Mc 16, 7).

[2]Veja-se Jorge Mario Bergoglio, Ejercicios Espirituales a los Obispos españoles, 2006.








Fontes: Santa Sé; Notícias do Vaticano; Diocese de Leira-Fátima; Agência Ecclesia




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