Nesta
Quarta-feira o Papa Francisco prosseguiu o ciclo de catequeses sobre
a Crisma
A
reflexão do Santo Padre desenvolveu-se a partir da dimensão do dom.
«As
graças de Deus», recordou a propósito, não se recebem para as
conservar dentro de si, «como se a alma fosse um armazém», mas
«para as dar aos outros».
E
é «próprio do Espírito Santo descentrar-nos do nosso eu,
abrindo-nos ao “nós” da comunidade: receber para dar.»
Em
conclusão, o Papa repetiu que:
“Ninguém
recebe a Confirmação somente para si mesmo, mas para cooperar no
crescimento espiritual dos outros.”
No
final da audiência, na saudação aos peregrinos, o Santo Padre fez
um apelo:
“Na
sexta-feira celebraremos a Solenidade do Santíssimo Coração de
Jesus.
Durante
todo o mês de Junho, convido-vos a rezar ao Coração de Jesus e a
ajudar os vossos sacerdotes com a proximidade e o afecto, a fim de
que sejam imagem daquele Coração de amor misericordioso.”
PAPA
FRANCISCO
AUDIÊNCIA
GERAL
Praça
S. Pedro, Quarta-feira, 6 de Junho de 2018
Bom
dia, prezados irmãos e irmãs!
Prosseguindo
a reflexão sobre o Sacramento da Confirmação, consideremos os
efeitos que o dom do Espírito Santo faz amadurecer nos crismandos,
levando-os a tornar-se, por sua vez, uma dádiva para os outros.
O
Espírito Santo é um dom!
Recordemos
que, quando nos dá a unção com o óleo, o bispo diz: “Recebe o
Espírito Santo, que te é concedido como dom”.
Aquele
dom do Espírito Santo entra em nós e frutifica, para que nós o
possamos transmitir aos demais.
Receber
sempre para oferecer: nunca receber e conservar as coisas dentro,
como se alma fosse um armazém.
Não:
receber sempre para oferecer.
Recebemos
as graças de Deus para as dar aos outros.
Esta
é a vida do cristão.
Portanto,
é próprio do Espírito Santo descentrar-nos do nosso eu,
abrindo-nos ao “nós” da comunidade: receber para dar.
Nós
não estamos no centro: somos um instrumento daquela dádiva para os
outros.
Completando
nos baptizados a semelhança a Cristo, a Confirmação une-os
mais fortemente como membros vivos ao Corpo místico da Igreja
(cf. Rito
da Confirmação,
n. 25).
A
missão da Igreja no mundo procede através da contribuição de
todos aqueles que fazem parte dela.
Alguns
pensam que na Igreja existem patrões: o Papa, os bispos, os
sacerdotes e depois os outros.
Não:
todos nós somos Igreja!
E
todos temos a responsabilidade de nos santificarmos uns aos outros,
de cuidarmos dos demais.
Todos
nós somos Igreja!
Cada
qual tem a sua função na Igreja, mas todos nós somos Igreja!
Com
efeito, devemos pensar na Igreja como num organismo vivo, composto
por pessoas que conhecemos e com as quais caminhamos, e não como
numa realidade abstracta e distante.
A
Igreja somos nós que caminhamos, a Igreja somos nós que hoje nos
encontramos nesta praça.
Nós:
esta é a Igreja.
A
Confirmação vincula à Igreja universal espalhada pela terra
inteira, mas compromete activamente os crismandos na vida da Igreja
particular à qual pertencem, tendo como cabeça o Bispo, que é o
sucessor dos Apóstolos.
E
por isso o Bispo é o ministro
originário
da Confirmação (cf. Lumen
gentium,
26), porque insere o confirmado na Igreja.
O
facto de que, na Igreja latina, este sacramento seja normalmente
conferido pelo Bispo põe em evidência o seu «efeito de unir mais
estreitamente aqueles que o recebem à Igreja, às suas origens
apostólicas e à sua missão de dar testemunho de Cristo»
(Catecismo
da Igreja Católica,
n. 1313).
E
esta incorporação eclesial é bem significada pelo sinal de paz que
conclui o rito da Crisma.
Com
efeito, a cada confirmado o Bispo diz: «A paz esteja contigo!».
Recordando
a saudação de Cristo aos discípulos na noite de Páscoa, cheia de
Espírito Santo (cf. Jo 20, 19-23) — ouvimos — estas palavras
iluminam um gesto que «manifesta a comunhão eclesial com o Bispo e
com todos os fiéis» (cf. CIC, n. 1301).
Na
Crisma, nós recebemos o Espírito Santo e a paz: aquela paz que
devemos transmitir aos outros.
Mas
pensemos: cada qual pense, por exemplo, na própria comunidade
paroquial.
Há
a cerimónia da Crisma, e depois trocamos o gesto da paz: o Bispo
oferece-a ao crismado e em seguida, na Missa, trocamo-la entre nós.
Isto
significa harmonia, quer dizer caridade entre nós, significa paz.
Mas
depois, o que acontece?
Saímos
e começamos a falar mal do próximo, a “esfolar” os outros.
Começam
as tagarelices.
E
as bisbilhotices são guerras.
Isto
não está certo!
Se
recebemos o sinal da paz com a força do Espírito Santo, devemos ser
homens e mulheres de paz, e não destruir com a língua a paz
instaurada pelo Espírito.
Quanto
trabalho tem o desventurado Espírito Santo connosco, com este hábito
da bisbilhotice!
Pensai
bem: a tagarelice não é uma obra do Espírito Santo, não é uma
obra da unidade da Igreja.
A
bisbilhotice destrói aquilo que Deus faz.
Mas
por favor: deixemos de tagarelar!
A
Confirmação só se recebe uma vez, mas o dinamismo espiritual
suscitado pela santa unção persevera no tempo.
Nunca
cessaremos de cumprir o mandato de propagar em toda a parte o bom
perfume de uma vida santa, inspirada pela fascinante simplicidade do
Evangelho.
Ninguém
recebe a Confirmação somente para si mesmo, mas para cooperar no
crescimento espiritual dos outros.
Só
assim, abrindo-nos e saindo de nós mesmos para ir ao encontro dos
irmãos, podemos realmente crescer e não apenas iludir-nos que o
fazemos.
Com
efeito, aquilo que recebemos como dom de Deus deve ser transmitido —
o dom é para ser oferecido — a fim de que seja fecundo e não, ao
contrário, enterrado por causa de temores egoístas, como ensina a
parábola dos talentos (cf. Mt 25, 14-30).
Até
a semente, quando a temos na mão, não deve ser colocada ali, no
armário, nem deixada de lado: é para ser semeada.
Devemos
transmitir à comunidade o dom do Espírito.
Exorto
os crismados a não “enjaular” o Espírito Santo, a não opor
resistência ao Vento que sopra para os impelir a caminhar na
liberdade, e não sufocar o Fogo ardente da caridade, que leva a
consumir a vida por Deus e pelos irmãos.
Que
o Espírito Santo conceda a todos nós a coragem apostólica de
comunicar o Evangelho, com obras e palavras, a quantos encontrarmos
no nosso caminho.
Com
obras e palavras, mas com palavras boas, que edificam.
Não
com palavras de bisbilhotice, que destroem.
Por
favor, quando saírdes da igreja, pensai que a paz recebida é para
ser oferecida aos outros; não para ser destruída com bisbilhotices.
Não
vos esqueçais disto!
Fontes:
Santa Sé; Notícias do Vaticano; L’Osservatore Romano
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