Ao segundo dia no Iraque o Santo Padre esteve na terra de Abraão
Esta manhã o Papa Francisco deslocou-se a Najaf onde, após a recepção pelo Governador, efectuou uma visita de cortesia ao Grande Aiatolá Al-Sistani.
Al-Sistani é o maior ponto de referência religioso, teológico e jurídico para os muçulmanos xiitas no Iraque, e não só. O encontro é considerado histórico, por ser a primeira vez que o Papa Francisco se reúne com um expoente do Islão xiita, o que poderá trazer bons frutos não só para o Iraque como um todo, mas em particular para as comunidades cristãs e minoritárias.
Anteriormente já tinha estreitado laços com uma das mais altas autoridades do Islão sunita, o Grão Imame de Al-Azhar, Ahmed al-Tayyeb, com quem compartilhou em Abu Dhabi a assinatura do Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz e da Convivência Comum.
Partiu depois para Nassiriya onde às 8H00 na Planície de Ur, na terra de Abraão, teve o Encontro Inter-religioso, um dos eventos mais aguardados da viagem do Papa Francisco ao Iraque.
Judeus, cristãos, muçulmanos e representantes de outras religiões reuniram-se para rezar e regressar aos primórdios da obra de Deus junto à humanidade. A cidade, de facto, é citada na Bíblia e é indicada como o local de nascimento de Abraão e onde o Patriarca das religiões monoteístas falou pela primeira vez com o Criador.
O Santo Padre rezou por todas as vítimas do terrorismo, citando mais uma vez – como fez no discurso às autoridades – a comunidade yazidi.
“O Céu não se cansou da terra: Deus ama cada povo, cada uma das suas filhas e cada um dos seus filhos! Nunca nos cansemos de olhar para o céu, de olhar para estas estrelas.”
E reafirmou um propósito:
“Nós, irmãos e irmãs de diversas religiões, encontramo-nos aqui, em casa, e a partir daqui, juntos, queremos empenhar-nos para que se realize o sonho de Deus: que a família humana se torne hospitaleira e acolhedora para com todos os seus filhos; que, olhando o mesmo céu, caminhe em paz sobre a mesma terra.”
No final do Encontro Inter-religioso realizado na planície de Ur, cidade considerada a pátria do Patriarca que une o destino de judeus, cristãos e muçulmanos, foi pronunciada a "Oração dos filhos de Abraão":
Deus Todo-Poderoso, nosso Criador, que amais a família humana e tudo o que as vossas mãos fizeram, nós, filhos e filhas de Abraão pertencentes ao Judaísmo, ao Cristianismo e ao Islão, juntamente com os demais crentes e todas as pessoas de boa vontade, agradecemos-vos por nos terdes dado como pai comum na fé Abraão, filho insigne desta nobre e amada terra.
Agradecemos-vos pelo seu exemplo de homem de fé que Vos obedeceu completamente, deixando a sua família, a sua tribo e a sua pátria a fim de ir para uma terra que não conhecia.
Agradecemos-vos também pelo exemplo de coragem, resiliência e força de ânimo, generosidade e hospitalidade que nos deu o nosso pai comum na fé.
Agradecemos-vos particularmente pela sua fé heroica, demonstrada na disponibilidade em sacrificar o próprio filho para obedecer à vossa ordem. Sabemos que era uma prova muito difícil, da qual todavia saiu vitorioso, porque confiou sem reservas em Vós, que sois misericordioso e sempre abris novas possibilidades para recomeçar.
Agradecemos-vos porque, abençoando o nosso pai Abraão, fizestes dele uma bênção para todos os povos.
Pedimos-vos, Deus do nosso pai Abraão e nosso Deus, que nos concedais uma fé forte, operosa no bem, uma fé que abra os nossos corações a Vós e a todos os nossos irmãos e irmãs; e uma esperança irreprimível, capaz de em tudo vislumbrar a fidelidade das vossas promessas.
Fazei de cada um de nós uma testemunha do vosso cuidado amoroso por todos, especialmente os refugiados e os deslocados, as viúvas e os órfãos, os pobres e os doentes.
Abri os nossos corações ao perdão recíproco, tornando-nos instrumentos de reconciliação, construtores duma sociedade mais justa e fraterna.
Acolhei na vossa morada de paz e luz todos os defuntos, de modo particular as vítimas da violência e das guerras.
Assisti as autoridades civis na busca e localização das pessoas sequestradas e na protecção especial das mulheres e crianças.
Ajudai-nos a cuidar da terra, a casa comum que, na vossa bondade e generosidade, destes a todos nós.
Sustentai as nossas mãos na reconstrução deste país e dai-nos a força necessária para ajudar, aqueles que tiveram de deixar as suas casas e terras, a regressar em segurança e com dignidade, e a começar uma vida nova, serena e próspera. Ámen.
De regresso a Bagdade, às 15H00 celebrou a Santa Missa na Catedral Caldeia de São José.
Na sua primeira homilia no Iraque o Papa falou sobre a sabedoria, o testemunho e as promessas.
Sobre a sabedoria e o testemunho o Papa orientou: “Como reajo eu às situações funestas? À vista das adversidades, apresentam-se sempre duas tentações. A primeira é a fuga: fugir, virar as costas, desinteressar-se. A segunda é reagir, como irritados, com a força”. E pondera:
“Nem a fuga nem a espada resolveram coisa alguma. Ao contrário, Jesus mudou a história. Como? Com a força humilde do amor, com o seu paciente testemunho. O mesmo somos nós chamados a fazer; assim Deus realiza as suas promessas”
Na segunda parte de sua homilia falou sobre as promessas:
“A sabedoria de Jesus, encarnada nas Bem-aventuranças, pede o testemunho e oferece a recompensa, contida nas promessas divinas. De facto, vemos que a cada Bem-aventurança segue uma promessa: quem as vive terá o reino dos céus, será consolado, saciado, verá a Deus”.
Concluindo no final:
“Querida irmã, querido irmão, talvez olhes para as tuas mãos e te pareçam vazias, talvez sintas insinuar-se no coração a desconfiança e penses que a vida é injusta contigo. Se tal suceder, não temas! As Bem-aventuranças são para ti, para ti que estás na aflição, com fome e sede de justiça, perseguido”.
Fontes: Santa Sé; Notícias do Vaticano
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