O Papa Francisco já se despediu dos fiéis iraquianos na Eucaristia celebrada em Erbil
Amanhã de manhã regressa ao Vaticano
Neste Domingo, dia 7 de Março, o Santo Padre deslocou-se a Erbil, onde se encontrou com as autoridades da Região Autónoma do Curdistão Iraquiano, seguindo depois em helicóptero para Mosul.
Na Hosh al-Bieaa, a praça das 4 igrejas: sírio-católica, armeno-ortodoxa, sírio-ortodoxa e caldeia, destruídas pelos ataques terroristas entre 2014 e 2017, depois de ouvir os comovedores testemunhos de um sunita e do pároco local que falaram das perdas e das deslocações forçadas, o Papa fez uma breve saudação e rezou uma oração pelas vítimas e pelo povo iraquiano.
Oração pelas vítimas da guerra
O Papa Francisco fez uma breve introdução:
"Antes de rezar por todas as vítimas da guerra nesta cidade de Mosul no Iraque e em todo o Oriente Médio, gostaria de partilhar convosco estes pensamentos:
Se Deus é o Deus da vida – e é-o –, a nós não é lícito matar os irmãos no seu nome.
Se Deus é o Deus da paz – e é-o –, a nós não é lícito fazer a guerra no seu nome.
Se Deus é o Deus do amor – e é-o –, a nós não é lícito odiar os irmãos.
Agora rezemos juntos por todas as vítimas da guerra, para que Deus Omnipotente lhes conceda vida eterna e paz sem fim, acolhendo-as no seu abraço amoroso. E rezemos também por todos nós para podermos, independentemente das respectivas filiações religiosas, viver em harmonia e paz, conscientes de que, aos olhos de Deus, todos somos irmãos e irmãs".
ORAÇÃO
Deus Altíssimo, Senhor do tempo e da história, por amor criastes o mundo e nunca cessais de derramar as vossas bênçãos sobre as vossas criaturas. Com terno amor de Pai, acompanhais os vossos filhos e filhas, para além do oceano do sofrimento e da morte, para além das tentações da violência, da injustiça e do lucro iníquo.
Mas nós homens, ingratos pelos vossos dons e distraídos pelas nossas preocupações e ambições demasiado terrenas, muitas vezes esquecemos os vossos desígnios de paz e harmonia. Fechamo-nos em nós mesmos e nos nossos próprios interesses e, indiferentes a Vós e aos outros, fechamos as portas à paz. Assim se repetiu aquilo que o profeta Jonas ouviu dizer de Nínive: a maldade dos homens subiu até à presença de Deus (cf. Jn 1, 2). Não levantamos para o Céu mãos puras (cf. 1 Tm 2, 8), mas da terra subiu mais uma vez o grito do sangue inocente (cf. Gn 4, 10). Os habitantes de Nínive, na narração de Jonas, ouviram a voz do vosso profeta e encontraram salvação na conversão. Também nós, Senhor, ao mesmo tempo que Vos confiamos as inúmeras vítimas do ódio do homem contra o homem, invocamos o vosso perdão e suplicamos a graça da conversão:
Kyrie eleison! Kyrie eleison! Kyrie eleison!
[Senhor, tende piedade de nós! Senhor, tende piedade…]
- um momento de silêncio -
Senhor nosso Deus, nesta cidade, dois símbolos testemunham o perene desejo da humanidade se aproximar de Vós: a mesquita Al-Nouri com o seu minarete Al Hadba e a igreja de Nossa Senhora do relógio. É um relógio que, há mais de cem anos, lembra aos transeuntes que a vida é breve, e o tempo precioso. Ensinai-nos a compreender que Vós nos confiastes o vosso desígnio de amor, paz e reconciliação, para o realizarmos no tempo, no breve arco da nossa vida terrena. Fazei-nos compreender que, só colocando-o em prática sem demora, será possível reconstruir esta cidade e este país e curar os corações dilacerados pela dor. Ajudai-nos a não gastar o tempo ao serviço dos nossos interesses egoístas, pessoais ou colectivos, mas ao serviço do vosso desígnio de amor. E quando nos transviarmos, concedei que possamos dar ouvidos à voz dos verdadeiros homens de Deus e arrepender-nos a tempo, para não nos arruinarmos ainda mais com destruição e morte.
Confiamo-Vos as pessoas, cuja vida terrena foi abreviada pela mão violenta dos seus irmãos, e imploramo-Vos também, para quantos fizeram mal aos seus irmãos e irmãs, que se arrependam, tocados pelo poder da vossa misericórdia:
Requiem æternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis. Requiescant in pace. Amen.
[Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso, entre os esplendores da luz perpétua. Descansem em paz. Ámen.]
Deslocou-se depois a Qaraqosh onde efectuou a Visita à Comunidade de Qaraqosh na Igreja da Imaculada Conceição.
Depois de ser acolhido pelo Patriarca sírio-católico, o Papa fez um discurso e em seguida rezou o Ângelus com a comunidade. O Santo Padre encontrou uma comunidade com grande diversidade cultural e religiosa e disse que “isto mostra algo da beleza que a vossa região tem para oferecer ao futuro. A vossa presença aqui lembra que a beleza não é monocromática, mas resplandece pela variedade e as diferenças”. Lembrando depois, “com grande tristeza, olhamos ao nosso redor e vemos outros sinais: os sinais do poder destruidor da violência, do ódio e da guerra”. Porém como recordou o Papa a “última palavra pertence a Deus e ao seu Filho, vencedor do pecado e da morte".
“Mesmo no meio das devastações do terrorismo e da guerra podemos, com os olhos da fé, ver o triunfo da vida sobre a morte”
Falando sobre a herança espiritual dos pais e mães na fé disse: “A grande herança espiritual que nos deixaram continua a viver em vós. Abraçai esta herança! Esta herança é a vossa força. Agora é o momento de reconstruir e recomeçar, confiando-se à graça de Deus, que guia o destino de cada homem e de todos os povos”. Francisco recordou também que os filhos não herdarão apenas uma terra, uma cultura e uma tradição, "mas também os frutos vivos da fé, que são as bênçãos de Deus sobre esta terra".
“Animo-vos a não esquecer quem sois e donde vindes; a preservar os laços que vos mantêm unidos, a guardar as vossas raízes”.
O Santo Padre voltou depois a Erbil (capital da região autónoma do Curdistão iraquiano e a quarta maior cidade do país, com cerca de 2 milhões de habitantes) para o seu último compromisso público na visita histórica ao Iraque - a Celebração Eucarística no Estádio Franso Hariri. O estádio, com capacidade para 28 mil pessoas, teve lotação limitada em 10 mil por causa da pandemia. [Fotografia: O Papa Francisco junto da imagem de Nossa Senhora de Karemlesh vandalizada pelos terroristas]
Na homilia, o Papa Francisco reflectiu sobre “o poder e a sabedoria de Deus” revelados por Jesus através da misericórdia e do perdão, e não por “demonstrações de força”, “longos discursos ou exibições de ciência incomparável” que são verdadeiras “armadilhas” para construir “imagens falsas de Deus” para dar segurança. “Na realidade, é o contrário”, disse o Pontífice: o poder e a sabedoria de Deus foram revelados por Cristo dando a sua vida na cruz, oferecendo “ao Pai as feridas pelas quais fomos curados”.
“Aqui, no Iraque, quantos dos vossos irmãos e irmãs, amigos e concidadãos carregam as feridas da guerra e da violência, feridas visíveis e invisíveis! A tentação é responder a estes e outros factos dolorosos com uma força humana, com uma sabedoria humana. Jesus, ao contrário, mostra-nos o caminho de Deus, aquele que Ele mesmo percorreu e por onde nos chama a segui-Lo.”
Comunidades cristãs formadas por pessoas humildes e simples, como acontece na Igreja no Iraque, testemunham que o Evangelho tem o poder de mudar a vida. E é com o poder da Ressurreição e os olhos da fé, acrescentou ainda o Papa, que o Senhor promete nos fazer ressurgir “das ruínas causadas pela injustiça, a divisão e o ódio”, para encontrar “o bálsamo do seu amor misericordioso”.
“A Igreja no Iraque, com a graça de Deus, fez e continua a fazer muito para proclamar esta sabedoria maravilhosa da cruz, espalhando a misericórdia e o perdão de Cristo especialmente junto dos mais necessitados. Mesmo no meio de grande pobreza e tantas dificuldades, muitos de vocês oferecem generosamente ajuda concreta e solidariedade aos pobres e atribulados. Esse é um dos motivos que me impeliu a vir em peregrinação até junto de vocês, ou seja, para agradecer e confirmar na fé e no testemunho. Hoje, posso ver e tocar com a mão que a Igreja no Iraque está viva, que Cristo vive e age neste seu povo santo e fiel.”
No final da Eucaristia, o Papa Francisco saudou o povo iraquiano pelos bons frutos gerados com a viagem apostólica ao país. Entre “vozes de sofrimento e angústia”, mas também “de esperança e consolação”, o Santo Padre despediu-se pedindo um trabalho conjunto entre as várias comunidades religiosas por um futuro de paz e prosperidade que “não discrimine ninguém”: “Allah ma’akum”, finalizou o Papa, “fiquem com Deus”.
“O Iraque ficará sempre comigo, no meu coração. Peço a todos vós, queridos irmãos e irmãs, que trabalhem juntos e unidos por um futuro de paz e prosperidade que não deixe ninguém para trás, nem discrimine ninguém. Asseguro-vos as minhas orações por este amado país. De modo particular, rezo para que os membros das várias comunidades religiosas, juntamente com todos os homens e mulheres boa vontade, cooperem para forjar laços de fraternidade e solidariedade ao serviço do bem comum e da paz. Salam, salam, salam! Shukrán [obrigado]! Deus vos abençoe a todos! Deus abençoe o Iraque! Allah ma’akum [fiquem com Deus]!”
Amanhã, Segunda-feira dia 8 de Março de 2021, às 6H30 (9H30 locais), o Papa Francisco participa da Cerimónia de Despedida no Aeroporto de Bagdade partindo depois com destino ao Aeroporto Internacional de Ciampino em Roma.
Fonte: Notícias do Vaticano
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