Os
números. Sempre os números…
Dizem
que o desemprego recua umas centésimas, que as exportações
aumentam ligeiramente, que a economia dá sinais de retoma, que o PIB
cresce... Ainda bem. Já não era sem tempo!
O
Governo felicita-se, a Oposição desvaloriza, os sindicatos
endurecem a luta, os comentaristas interpretam como lhes apetece, os
«opinon makers» insinuam que já se vislumbra luz ao fundo do
túnel.
E as
pessoas? E o povo, meu Deus?
Bem, o
povo, na sua sabedoria irónica, recorre ao exemplo tradicional: a
existência de mais um frango em cima da mesa, só por si, não
garante que todos os comensais possam matar a fome. Se um qualquer
açambarcador os come todos, o maior número de frangos só faz
crescer a água na boca e o efeito de um soco no estômago aos que
deles ficam privados.
Até
porque lhe vêm à memória as recentes estatística e a crueza dos
seus dados: que Portugal foi o país da Europa que mais viu
agravar-se o fosso entre ricos e pobres; que estes o são cada vez
mais e que aqueles prosperam a olhos vistos; que estão a matar a
classe média; que nunca se viu por aí tanto «topo de gama»
enquanto o resto dos concessionários quase não se estreia nas
vendas; que…
E
mais: recorda-se que quem manda aqui é um império. Sem bandeira nem
território.
Mas
com capital e capitais. Chama-se FMI. E o povo sabe que este império
possui uma lei fundamental que aplica no mundo, «chapa cinco»,
desde os anos sessenta: esmaga os salários para «recapitalizar» as
empresas. Ou os donos?
Por
isso, em nome de uma deusa estranha chamada «competitividade», acha
inconcebível que se aumente 15 euros no salário mínimo. Sim,
cinquenta cêntimos por dia! Mas parece-lhe crime de lesa-majestade
que um qualquer gestor de pacotilha, colocado à frente das empresas
públicas pelos «bons serviços» prestados ao Partido, aufira menos
de sete, dez ou quinze mil euros por mês. Ou mais! Ou trinta ou
quarenta mil!
Mas,
afinal, isto já não é novo. Há dois mil anos, pelo menos, um
outro império, chamado romano, também era especialista em tirar.
Não aos pobres para dar aos ricos, que Marx foi dos primeiros a
falar dessas modernices. Mas tirar a todo o mundo escravizado para
dar aos «cidadãos», aos romanos da urbe. Àqueles que nem sequer
precisavam de serem gestores ou administradores porque o Estado lhes
entregava «pão e circo» de mão beijada.
Só
que no meio dessa «normalidade» anormal, chegou um Menino. Fraco e
indefeso. Mas meigo e amigo de todos. E não se esqueceu do cântico
que ouvia à Sua Mãe: “O Todo-Poderoso […] manifestou o poder do
seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus
tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos
despediu de mãos vazias”. E as coisas mudaram…
E há
quem garanta que esse Menino continua por aí…
Semanário
ECCLESIA nº 1412, 19 de Dezembro de 2013
É. É isso... ;)
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