Cónego
João Aguiar Campos
Semana
da Vida,
este
ano com o tema “Vida com dignidade – opção pelos mais fracos”
Somos,
com este tema, convidados a pensar prioritariamente nos pobres, nos
idosos e nos nascituros, por serem estes os mais vulneráveis e
efectivamente desprezados da sociedade.
Mas
não podemos esquecer...
Mas
não podemos esquecer que a desvalorização da vida se estende
também a outras idades, condições e estádios – como facilmente
se deduz das manifestações de violência e de desrespeito de que
vamos tomando nota: atenta-se contra a vida por dá cá aquela palha,
com desumana e espantosa frieza e, não raro, com subtil cobertura ou
descuido legal.
Para
amaciar as consciências, muitas vezes fazem-se comparações entre
anos, locais ou governações, recorrendo aos favores concedidos por
eventuais progressos estatísticos.
No
entanto, os números, por muito que falem, não dizem tudo – porque
não incluem o silêncio envergonhado de idosos, o medo de muitos
oprimidos ou a incapacidade oficial de detectar, a tempo e horas,
sinais que deveriam perceber-se.
Há,
de facto, uma corrente oculta, subterrânea, clandestina, cujo rumor
não sobe à tona da terra e, por isso, oficialmente inexiste!
Celebrar
e defender a vida com dignidade não é, entretanto, um capricho nem
uma prerrogativa dos crentes.
É
um dever de todos, em todos os momentos - se bem que exija especial
coragem em tempos e circunstâncias em que a sentimentalização nos
pode fazer resvalar para soluções fáceis, que dificilmente não
penalizam quem, de facto, dizem querer proteger!.. Quanta pretensa
“piedade” serve para dizer que, ”no fundo, até é melhor
assim”… Não; não é.
Importa,
por isso, repetir que o ser humano, pelo simples facto de o ser, é o
maior valor.
Quem
o esquece e fere a dignidade alheia atinge-se a si mesmo.
No
Evangelho da Vida (nn.11 e 12), João Paulo II vai à raiz desta
amnésia, reportando-se a «uma crise profunda da cultura, que gera
cepticismo sobre os próprios fundamentos do conhecimento e da ética
e torna cada vez mais difícil compreender claramente o sentido do
homem, dos seus direitos e dos seus deveres».
Soma-lhe
«as mais diversas dificuldades existenciais e interpessoais,
agravadas pela realidade de uma sociedade complexa, onde
frequentemente as pessoas, os casais, as famílias são deixadas
sozinhas a braços com os seus problemas».
Depois
menciona «situações de particular pobreza, angústia e
exasperação» que tornam, por vezes, «exigentes até ao heroísmo
as opções de defesa e promoção da vida».
É
a este “eclipse” que importa estar atentos – de modo que
possamos ser militantes de uma conjura pela vida.
João
Aguiar Campos
Fonte:
Editorial da Agência Ecclesia - 8 de Maio de 2015
ResponderEliminarO verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros ricos, e que os pobres devem atribuir a sua pobreza à vontade de Deus.