Nesta
Sexta-feira o Papa Francisco encontrou-se com os povos da Amazónia
na cidade peruana de Puerto Maldonado
Na
manhã de sexta-feira, dia 19, o Papa Francisco deslocou-se a Puerto
Maldonado a fim de se encontrar com os representantes dos povos da
Amazónia, aos quais será dedicada a assembleia especial do Sínodo
dos bispos programada para Outubro do próximo ano em Roma.
A
importância dada por Sua Santidade a este encontro foi expressa no
facto de o primeiro encontro no Peru ter sido com os povos da
Amazónia e não com as autoridades, como normalmente acontece.
Terra
de esperança devido à pluralidade cultural, à presença de muitos
jovens, à santidade de algumas figuras cristãs, contudo o Peru
inteiro está ameaçado pela ávida e insensata exploração das suas
riquezas em detrimento do ambiente natural e do humano.
Por
isso, dirigindo-se às autoridades, o Papa voltou a falar de ecologia
integral, central na encíclica ‘Laudato si’, o grande documento
social do pontificado, que teve grande impacto em muitos ambientes
laicos.
O
Papa Francisco falou nas feridas profundas que carregam consigo a
Amazónia e os seus povos.
“Quis
vir visitar-vos e escutar-vos, para estarmos juntos no coração da
Igreja, solidarizarmo-nos com os vossos desafios e, convosco,
reafirmarmos uma opção sincera em prol da defesa da vida, defesa da
terra e defesa das culturas.
Provavelmente,
nunca os povos originários amazónicos estiveram tão ameaçados nos
seus territórios como o estão agora.
A
Amazónia é uma terra disputada em várias frentes: por um lado, a
nova ideologia extractiva e a forte pressão de grandes interesses
económicos cuja avidez se centra no petróleo, gás, madeira, ouro e
monoculturas agro-industriais; por outro, a ameaça contra os vossos
territórios vem da perversão de certas políticas que promovem a
«conservação» da natureza sem ter em conta o ser humano,
nomeadamente vós irmãos amazónicos que a habitais.
Temos
conhecimento de movimentos que, em nome da conservação da floresta,
se apropriam de grandes extensões da mesma e negoceiam com elas
gerando situações de opressão sobre os povos nativos, para quem,
assim, o território e os recursos naturais que há nele se tornam
inacessíveis.
Este
problema sufoca os vossos povos, e causa a migração das novas
gerações devido à falta de alternativas locais.
Devemos
romper com o paradigma histórico que considera a Amazónia como uma
despensa inesgotável dos Estados, sem ter em conta os seus
habitantes.”
Na
defesa da vida.
“A
defesa da terra não tem outra finalidade senão a defesa da vida.
Conhecemos
o sofrimento que suportam alguns de vós por causa de derrames de
hidrocarbonetos que ameaçam seriamente a vida das vossas famílias e
poluem o vosso ambiente natural.
Paralelamente,
há outra devastação da vida que está associada com esta poluição
ambiental causada pela extracção ilegal.
Refiro-me
ao tráfico de pessoas: o trabalho escravo e o abuso sexual.
A
violência contra os adolescentes e contra as mulheres é um grito
que chega ao céu.”
“Mais
uma vez, como expressei na ‘Laudato si’, é necessário levantar
a voz contra a pressão que alguns organismos internacionais fazem em
certos países para promover políticas de esterilização.
Estas
encarniçam-se de modo mais incisivo sobre as populações
aborígenes.
Sabemos
que nelas se continua a promover a esterilização das mulheres, às
vezes sem conhecimento delas próprias.”
Na
cultura dos povos e na família.
“A
cultura dos nossos povos é um sinal de vida.
A
Amazónia, além de constituir uma reserva da biodiversidade, é
também uma reserva cultural que deve ser preservada face aos novos
colonialismos.
A
família é – como disse uma de vós –, e sempre foi, a
instituição social que mais contribuiu para manter vivas as nossas
culturas.
Em
períodos de crises passadas, face aos diferentes imperialismos, a
família dos povos indígenas foi a melhor defesa da vida.
Exige-se-nos
um cuidado especial para não nos deixarmos prender por colonialismos
ideológicos mascarados de progresso, que entram pouco a pouco
delapidando identidades culturais e estabelecendo um pensamento
uniforme, único e… débil.
Escutai
os idosos, por favor.
Têm
uma sabedoria que os põe em contacto com o transcendente e faz-lhes
descobrir o essencial da vida.”
Na
educação.
“A
educação ajuda-nos a lançar pontes e a gerar uma cultura do
encontro.
A
escola e a educação dos povos nativos devem ser uma prioridade e um
compromisso do Estado; compromisso integrador e inculturado que
assuma, respeite e integre como um bem de toda a nação a sua
sabedoria ancestral.”
Nos
jovens.
“Congratulo-me
também com todos os jovens dos povos nativos que se esforçam por
elaborar, do seu próprio ponto de vista, uma nova antropologia e
trabalham por reler a história dos seus povos a partir da sua
perspectiva.”
Por
último, referiu-se à presença da Igreja na Amazónia e lembrou o
Sínodo para a Amazónia no ano de 2019.
“Queridos
irmãos da Amazónia, quantos missionários e missionárias se
comprometeram com os vossos povos e defenderam as vossas culturas!
Fizeram-no,
inspirados no Evangelho.
Cristo
também Se encarnou numa cultura, a hebraica, e a partir dela
ofereceu-Se-nos como novidade a todos os povos, para que cada um, a
partir da respectiva identidade, se sinta auto-afirmado n’Ele.”
“Ajudai
os vossos bispos, ajudai os vossos missionários e as vossas
missionárias a fazerem-se um só convosco e assim, dialogando com
todos, podeis plasmar uma Igreja com rosto amazónico e uma Igreja
com rosto indígena.
Com
este espírito, convoquei um Sínodo para a Amazónia no ano de 2019,
cuja primeira reunião do Conselho Pré-Sinodal se realizará, aqui,
hoje de tarde.”
Fontes:
Santa Sé; Noticias do Vaticano; L'Osservatore Romano
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