Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

52° SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS



Decorre de hoje até ao dia 25 e tem como tema “Procurarás a justiça, nada além da justiça
   
   
O Papa Leão XIII exortou nos seus escritos Providae Matris (1865) e Divinum illud múnus (1897) que nos oito dias consecutivos à Solenidade de Pentecostes fosse promovida a Oração pela Unidade dos Cristãos.

No hemisfério Sul manteve-se a data da celebração - decorre entre a Ascensão e o Pentecostes; no hemisfério Norte, o período tradicional é de 18 a 25 de Janeiro, conforme sugestão do Padre Paul Wattson, anglicano convertido ao catolicismo e grande incentivador desta Semana de Oração.

Este ano, os Subsídios para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos foram elaborados por um grupo ecuménico da Indonésia especialmente constituído para a redacção do projecto de texto.



O Papa Francisco deu início à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos nesta Sexta-feira (18Jan) ao presidir a celebração das Vésperas na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma.
Na homilia, o Santo Padre afirmou que

Quando a sociedade deixa de ter como fundamento o princípio da solidariedade e do bem comum, assistimos ao escândalo de pessoas que vivem em extrema pobreza ao lado de arranha-céus, hotéis imponentes e centros comerciais luxuosos, símbolos de incrível riqueza.
Esquecemo-nos da sabedoria da lei mosaica, segundo a qual, se a riqueza não for partilhada, a sociedade divide-se.”



VÉSPERAS NO PRIMEIRO DIA DA SEMANA
DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica de São Paulo fora dos Muros, Sexta-feira, 18 de Janeiro de 2019

Começou hoje a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, na qual somos todos convidados a implorar de Deus este grande dom.
A unidade dos cristãos é fruto da graça de Deus, pelo que nos devemos predispor a recebê-la com coração pronto e generoso.
Nesta tarde, sinto-me particularmente feliz por rezar juntamente com os representantes das outras Igrejas presentes em Roma, aos quais dirijo uma cordial e fraterna saudação.
Saúdo também a delegação ecuménica da Finlândia, os alunos do Instituto Ecuménico de Bossey que visitam Roma para aprofundar o seu conhecimento da Igreja Católica e os jovens ortodoxos e ortodoxos orientais que aqui estudam com o apoio do Comité de Cooperação Cultural com as Igrejas Ortodoxas, activo junto do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

O livro do Deuteronómio oferece-nos a imagem do povo de Israel acampado nas planícies de Moab, prestes a entrar na Terra que Deus lhe prometeu.
Lá Moisés, como pai solícito e chefe designado pelo Senhor, repete a Lei ao povo, instrói-o e lembra-lhe que deverá viver com fidelidade e justiça, quando se estabelecer na terra prometida.

A passagem que acabamos de ouvir indica como celebrar as três festas principais do ano: Pesach (Páscoa), Shavuot (Pentecostes), Sukkot (Tabernáculos).
Cada uma destas festas convida Israel à gratidão pelos bens recebidos de Deus.
A celebração duma festa requer a participação de todos; ninguém pode ficar excluído: «Alegrar-te-ás na presença do Senhor, teu Deus, com os teus filhos, as tuas filhas, os teus servos e as tuas servas, o levita que viver dentro das portas da tua cidade, o estrangeiro, o órfão e a viúva, que estiverem junto de ti» (Dt 16, 11).

Por ocasião de cada festa, é preciso realizar uma peregrinação «ao santuário que o Senhor tiver escolhido para ali estabelecer o seu nome» (16, 2).
O fiel israelita deve ir lá colocar-se diante de Deus; e, embora todo o israelita tivesse sido escravo no Egipto, sem qualquer propriedade pessoal, «ninguém aparecerá com as mãos vazias diante do Senhor» (16, 16) e o dom de cada um será segundo a medida da bênção que o Senhor lhe tiver concedido.
Assim, todos receberão a sua parte de riqueza do país e beneficiarão da bondade de Deus.

Não nos deve surpreender o facto do texto bíblico passar da celebração das três festas principais para a nomeação dos juízes.
As próprias festas exortam o povo à justiça, lembrando a igualdade fundamental entre todos os membros, todos igualmente dependentes da misericórdia divina, e convidando cada um a partilhar com os outros os bens recebidos.
O dar honra e glória ao Senhor nas festas do ano caminha de mãos dadas com o prestar honra e justiça ao seu vizinho, sobretudo se é vulnerável e necessitado.

Ao debruçar-se sobre a escolha do tema para esta Semana de Oração, os cristãos da Indonésia decidiram inspirar-se nestas palavras do Deuteronómio: «Deves procurar a justiça e só a justiça» (16, 20).
Neles, está viva a preocupação pelo facto de o crescimento económico do seu país, animado pela lógica da concorrência, deixar muitos na pobreza, permitindo que se enriqueçam enormemente apenas alguns.
Isto põe em perigo a harmonia duma sociedade onde vivem lado a lado pessoas de diferentes etnias, línguas e religiões que compartilham um sentido de mútua responsabilidade.

Mas isto não se aplica só à Indonésia; deparamo-nos com a mesma situação no resto do mundo.
Quando a sociedade deixa de ter como fundamento o princípio da solidariedade e do bem comum, assistimos ao escândalo de pessoas que vivem em extrema pobreza ao lado de arranha-céus, hotéis imponentes e centros comerciais luxuosos, símbolos de incrível riqueza.
Esquecemo-nos da sabedoria da lei mosaica, segundo a qual, se a riqueza não for partilhada, a sociedade divide-se.

São Paulo, quando escreve aos Romanos, aplica a mesma lógica à comunidade cristã: aqueles que são fortes devem ocupar-se dos fracos.
Não é cristão «procurar aquilo que nos agrada» (Rom 15, 1).
De facto, seguindo o exemplo de Cristo, devemos esforçar-nos por edificar os que são fracos.
A solidariedade e a responsabilidade comum devem ser as leis que regem a família cristã.

Também nós, como povo santo de Deus, sempre nos encontramos prestes a entrar no Reino que o Senhor nos prometeu.
Mas, estando divididos, precisamos de recordar o apelo à justiça que Deus nos dirigiu.
Também entre nós, cristãos, há o risco de prevalecer a lógica conhecida pelos israelitas dos tempos antigos e pelo povo indonésio nos dias de hoje, ou seja, tentando acumular riqueza, esquecermo-nos dos vulneráveis e dos necessitados.
É fácil esquecer a igualdade fundamental que existe entre nós: originariamente todos nós éramos escravos do pecado, mas o Senhor salvou-nos no Baptismo, chamando-nos seus filhos.
É fácil pensar na graça espiritual que nos foi dada como sendo nossa propriedade, algo que nos é devido e pertence.
Além disso, é possível que os dons recebidos de Deus nos tornem cegos aos dons dispensados a outros cristãos.
É um grave pecado desdenhar ou desprezar os dons que o Senhor concedeu a outros irmãos, pensando que estes sejam de algum modo menos privilegiados aos olhos de Deus.
Se alimentarmos tais pensamentos, consentimos que a própria graça recebida se torne fonte de orgulho, injustiça e divisão.
E então como poderemos entrar no Reino prometido?

O culto condizente a este Reino, o culto que a justiça exige, é uma festa que engloba a todos, uma festa na qual se disponibilizam e partilham os dons recebidos.
Para realizar os primeiros passos rumo à terra prometida que é a nossa unidade, devemos, em primeiro lugar, reconhecer humildemente que as bênçãos recebidas não são nossas por direito, mas por dádiva, tendo-nos sido concedidas para as partilharmos com os outros.
Em segundo lugar, devemos reconhecer o valor da graça concedida às outras comunidades cristãs.
Consequentemente será nosso desejo participar nos dons dos outros.

Um povo cristão, renovado e enriquecido por esta troca de dons, será um povo capaz de caminhar, com passo firme e confiante, pelo caminho que leva à unidade.






Fontes: Santa Sé; Notícias do Vaticano

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