Decorre
de hoje até ao dia 25 e tem como tema “Procurarás
a justiça, nada além da justiça”
O
Papa Leão XIII exortou nos seus escritos Providae Matris
(1865) e Divinum illud múnus (1897) que nos oito dias
consecutivos à Solenidade de Pentecostes fosse promovida a Oração
pela Unidade dos Cristãos.
No
hemisfério Sul manteve-se a data da celebração - decorre
entre a Ascensão e o Pentecostes; no hemisfério Norte, o período
tradicional é de 18 a 25 de Janeiro, conforme sugestão do Padre
Paul Wattson, anglicano convertido ao catolicismo e grande
incentivador desta Semana de Oração.
Este
ano, os Subsídios para a Semana de Oração
pela Unidade dos Cristãos foram elaborados por um grupo
ecuménico da Indonésia especialmente constituído para a redacção
do projecto de texto.
O
Papa Francisco deu início à Semana de Oração pela Unidade dos
Cristãos nesta Sexta-feira (18Jan) ao presidir a celebração das
Vésperas na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma.
Na
homilia, o Santo Padre afirmou que
“Quando
a sociedade deixa de ter como fundamento o princípio da
solidariedade e do bem comum, assistimos ao escândalo de pessoas que
vivem em extrema pobreza ao lado de arranha-céus, hotéis imponentes
e centros comerciais luxuosos, símbolos de incrível riqueza.
Esquecemo-nos
da sabedoria da lei mosaica, segundo a qual, se a riqueza não for
partilhada, a sociedade divide-se.”
VÉSPERAS
NO PRIMEIRO DIA DA SEMANA
DE
ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS
HOMILIA
DO PAPA FRANCISCO
Basílica
de São Paulo fora dos Muros, Sexta-feira, 18 de Janeiro de 2019
Começou
hoje a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, na qual somos
todos convidados a implorar de Deus este grande dom.
A
unidade dos cristãos é fruto da graça de Deus, pelo que nos
devemos predispor a recebê-la com coração pronto e generoso.
Nesta
tarde, sinto-me particularmente feliz por rezar juntamente com os
representantes das outras Igrejas presentes em Roma, aos quais dirijo
uma cordial e fraterna saudação.
Saúdo
também a delegação ecuménica da Finlândia, os alunos do
Instituto Ecuménico de Bossey que visitam Roma para aprofundar o seu
conhecimento da Igreja Católica e os jovens ortodoxos e ortodoxos
orientais que aqui estudam com o apoio do Comité de Cooperação
Cultural com as Igrejas Ortodoxas, activo junto do Pontifício
Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
O
livro do Deuteronómio oferece-nos a imagem do povo de Israel
acampado nas planícies de Moab, prestes a entrar na Terra que Deus
lhe prometeu.
Lá
Moisés, como pai solícito e chefe designado pelo Senhor, repete a
Lei ao povo, instrói-o e lembra-lhe que deverá viver com fidelidade
e justiça, quando se estabelecer na terra prometida.
A
passagem que acabamos de ouvir indica como celebrar as três festas
principais do ano: Pesach (Páscoa), Shavuot (Pentecostes), Sukkot
(Tabernáculos).
Cada
uma destas festas convida Israel à gratidão pelos bens recebidos de
Deus.
A
celebração duma festa requer a participação de todos; ninguém
pode ficar excluído: «Alegrar-te-ás na presença do Senhor, teu
Deus, com os teus filhos, as tuas filhas, os teus servos e as tuas
servas, o levita que viver dentro das portas da tua cidade, o
estrangeiro, o órfão e a viúva, que estiverem junto de ti» (Dt
16, 11).
Por
ocasião de cada festa, é preciso realizar uma peregrinação «ao
santuário que o Senhor tiver escolhido para ali estabelecer o seu
nome» (16, 2).
O
fiel israelita deve ir lá colocar-se diante de Deus; e, embora todo
o israelita tivesse sido escravo no Egipto, sem qualquer propriedade
pessoal, «ninguém aparecerá com as mãos vazias diante do Senhor»
(16, 16) e o dom de cada um será segundo a medida da bênção que o
Senhor lhe tiver concedido.
Assim,
todos receberão a sua parte de riqueza do país e beneficiarão da
bondade de Deus.
Não
nos deve surpreender o facto do texto bíblico passar da celebração
das três festas principais para a nomeação dos juízes.
As
próprias festas exortam o povo à justiça, lembrando a igualdade
fundamental entre todos os membros, todos igualmente dependentes da
misericórdia divina, e convidando cada um a partilhar com os outros
os bens recebidos.
O
dar honra e glória ao Senhor nas festas do ano caminha de mãos
dadas com o prestar honra e justiça ao seu vizinho, sobretudo se é
vulnerável e necessitado.
Ao
debruçar-se sobre a escolha do tema para esta Semana de Oração, os
cristãos da Indonésia decidiram inspirar-se nestas palavras do
Deuteronómio: «Deves procurar a justiça e só a justiça» (16,
20).
Neles,
está viva a preocupação pelo facto de o crescimento económico do
seu país, animado pela lógica da concorrência, deixar muitos na
pobreza, permitindo que se enriqueçam enormemente apenas alguns.
Isto
põe em perigo a harmonia duma sociedade onde vivem lado a lado
pessoas de diferentes etnias, línguas e religiões que compartilham
um sentido de mútua responsabilidade.
Mas
isto não se aplica só à Indonésia; deparamo-nos com a mesma
situação no resto do mundo.
Quando
a sociedade deixa de ter como fundamento o princípio da
solidariedade e do bem comum, assistimos ao escândalo de pessoas que
vivem em extrema pobreza ao lado de arranha-céus, hotéis imponentes
e centros comerciais luxuosos, símbolos de incrível riqueza.
Esquecemo-nos
da sabedoria da lei mosaica, segundo a qual, se a riqueza não for
partilhada, a sociedade divide-se.
São
Paulo, quando escreve aos Romanos, aplica a mesma lógica à
comunidade cristã: aqueles que são fortes devem ocupar-se dos
fracos.
Não
é cristão «procurar aquilo que nos agrada» (Rom 15, 1).
De
facto, seguindo o exemplo de Cristo, devemos esforçar-nos por
edificar os que são fracos.
A
solidariedade e a responsabilidade comum devem ser as leis que regem
a família cristã.
Também
nós, como povo santo de Deus, sempre nos encontramos prestes a
entrar no Reino que o Senhor nos prometeu.
Mas,
estando divididos, precisamos de recordar o apelo à justiça que
Deus nos dirigiu.
Também
entre nós, cristãos, há o risco de prevalecer a lógica conhecida
pelos israelitas dos tempos antigos e pelo povo indonésio nos dias
de hoje, ou seja, tentando acumular riqueza, esquecermo-nos dos
vulneráveis e dos necessitados.
É
fácil esquecer a igualdade fundamental que existe entre nós:
originariamente todos nós éramos escravos do pecado, mas o Senhor
salvou-nos no Baptismo, chamando-nos seus filhos.
É
fácil pensar na graça espiritual que nos foi dada como sendo nossa
propriedade, algo que nos é devido e pertence.
Além
disso, é possível que os dons recebidos de Deus nos tornem cegos
aos dons dispensados a outros cristãos.
É
um grave pecado desdenhar ou desprezar os dons que o Senhor concedeu
a outros irmãos, pensando que estes sejam de algum modo menos
privilegiados aos olhos de Deus.
Se
alimentarmos tais pensamentos, consentimos que a própria graça
recebida se torne fonte de orgulho, injustiça e divisão.
E
então como poderemos entrar no Reino prometido?
O
culto condizente a este Reino, o culto que a justiça exige, é uma
festa que engloba a todos, uma festa na qual se disponibilizam e
partilham os dons recebidos.
Para
realizar os primeiros passos rumo à terra prometida que é a nossa
unidade, devemos, em primeiro lugar, reconhecer humildemente que as
bênçãos recebidas não são nossas por direito, mas por dádiva,
tendo-nos sido concedidas para as partilharmos com os outros.
Em
segundo lugar, devemos reconhecer o valor da graça concedida às
outras comunidades cristãs.
Consequentemente
será nosso desejo participar nos dons dos outros.
Um
povo cristão, renovado e enriquecido por esta troca de dons, será
um povo capaz de caminhar, com passo firme e confiante, pelo caminho
que leva à unidade.
Fontes:
Santa Sé; Notícias do Vaticano
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