O
Papa Francisco na Homilia da Eucaristia celebrada na sua terceira e
última etapa da 31ª Viagem Apostólica
Durou
pouco mais de duas horas a viagem que o Papa Francisco efectuou no
início da manhã de hoje desde Madagáscar até à cidade de Porto
Luís, capital das Ilhas Maurícias.
Foi
no Monumento de Maria Rainha da Paz que o Papa presidiu à Celebração
Eucarística, no dia em que a Igreja recorda a memória litúrgica do
Bem-aventurado Jacques-Desiré Laval.
O
Monumento foi inaugurado em Agosto de 1940, em agradecimento pela
preservação do país durante o primeiro conflito mundial.
Construído
em forma de ascendentes terraços verdes, intercaladas por flores, o
local domina a cidade.
No
alto, foi colocado um altar com uma imagem de Nossa Senhora, em
mármore e com 3 metros de altura.
A
Virgem segura em suas mãos o globo terrestre e é meta de
peregrinações.
Na
sua homilia, o Papa citou o amor por Cristo e pelos pobres como a
marca distintiva da vida do beato francês que morreu na ilha em
1864.
Este
mesmo amor protegeu Laval da ilusão de realizar uma evangelização
“abstrata e asséptica”.
Ele
"sabia que evangelizar implica fazer-se tudo para todos:
aprendeu a língua dos escravos recém-libertados e anunciou-lhes de
maneira simples a Boa Nova da salvação”.
As
pequenas comunidades criadas pelo beato estão na origem das
paróquias actuais e o seu dinamismo missionário, afirmou o Papa,
deu à Igreja mauriciana uma nova juventude.
“São
precisamente os jovens que, pela sua vitalidade e dedicação, podem
dar à Igreja a beleza e a frescura próprias da juventude, quando
desafiam a comunidade cristã a renovar-se e nos convidam a partir
para novos horizontes.”
Após
o almoço na sede do episcopado, o Papa Francisco foi rezar ao
Santuário do Beato Jacques Laval.
O
Beato Jacques-Désiré Laval chegou em 1841 à ilha Maurícia,
dedicando-se com entusiasmo à evangelização dos negros que foram,
por lei, libertados da escravidão.
Durante
a epidemia de cólera que atingiu o país em 1854, 1857 e 1862, ele
construiu vários hospitais.
Abriu
escolas primárias, construiu várias capelas para a formação
espiritual e promoveu a integração social da população.
Foi
beatificado por São João Paulo II em 29 de Abril de 1979.
Posteriormente,
o Santo Padre efectuou a visita de cortesia ao Presidente e
encontrou-se com as Autoridades, a Sociedade Civil e o Corpo
Diplomático no Palácio Presidencial.
No
final da tarde o Papa regressou a Madagáscar de onde parte amanhã
com destino a Roma.
VIAGEM
APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
A
MOÇAMBIQUE, MADAGASCAR E MAURÍCIO
(4
- 10 DE SETEMBRO DE 2019)
SANTA
MISSA
HOMILIA
DO SANTO PADRE
Monumento
a Maria, Rainha da Paz, Port Louis, Maurício
Segunda-feira,
9 de Setembro de 2019
Aqui,
diante deste altar dedicado a Maria, Rainha da Paz, nesta montanha
donde vemos a cidade e, mais além, o mar, fazemos parte desta
multidão de rostos que vieram das Maurícias e doutras ilhas desta
região do Oceano Índico para escutar Jesus que anuncia as
Bem-aventuranças, para ouvir a própria Palavra de Vida, com a mesma
força que tinha há dois mil anos, o mesmo fogo que inflama até os
corações mais frios.
Juntos,
podemos dizer ao Senhor: cremos em Vós e sabemos, pela luz da fé e
o palpitar do coração, que é verdadeira a profecia de Isaías
quando manda anunciar a paz e a salvação, levar a boa nova de que
já reina o nosso Deus.
As
Bem-aventuranças «são como que o bilhete de identidade do cristão.
Assim, se um de nós se questionar sobre “como fazer para chegar a
ser um bom cristão”, a resposta é simples: é necessário fazer –
cada qual a seu modo – aquilo que Jesus disse no sermão das
Bem-aventuranças.
Nelas
está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar
transparecer no dia-a-dia da nossa vida» (Francisco, Exort. ap.
Gaudete et exsultate, 63), como fez o Beato Jacques-Désiré
Laval, chamado o «apóstolo da unidade mauriciana», tão venerado
nestas terras.
O
amor de Cristo e dos pobres marcou de tal maneira a sua vida que o
protegeu da ilusão de realizar uma evangelização «abstracta e
asséptica».
Sabia
que evangelizar implica fazer-se tudo para todos (cf. 1 Cor 9,
19-22): aprendeu a língua dos escravos recém-libertados e
anunciou-lhes de maneira simples a Boa Nova da salvação.
Soube
reunir os fiéis, formá-los para empreender a missão e criar
pequenas comunidades cristãs em bairros, cidades e aldeias vizinhas;
muitas daquelas pequenas comunidades estão na origem das paróquias
actuais.
A
sua solicitude levou-o a confiar nos mais pobres e descartados, para
que fossem eles mesmos os primeiros a organizar-se e a encontrar
respostas para as suas tribulações.
Através
do seu dinamismo missionário e do seu amor, o padre Laval deu à
Igreja mauriciana uma nova juventude, um novo respiro, que hoje somos
convidados a continuar no contexto actual.
E
devemos ter a peito este impulso missionário, pois pode acontecer
que percamos o entusiasmo evangelizador, como Igreja de Cristo,
caindo na tentação de nos refugiarmos em seguranças mundanas que
acabam, pouco a pouco, por condicionar a missão tornando-a gravosa e
incapaz de fascinar as pessoas (cf. Francisco, Exort. ap.
Evangelii gaudium, 26).
O
impulso missionário tem um rosto jovem e capaz de fazer
rejuvenescer.
São
precisamente os jovens que, pela sua vitalidade e dedicação, lhe
podem dar a beleza e o frescura próprias da juventude, quando
desafiam a comunidade cristã a renovar-se e nos convidam a partir
para novos horizontes (cf. Francisco, Exort. ap. pós-sinodal
Christus vivit, 37).
Isto,
porém, nem sempre é fácil, pois exige que aprendamos a
considerá-los e a dar-lhes lugar no seio da nossa comunidade e da
nossa sociedade.
Nesta
linha, custa constatar como, apesar do crescimento económico que
registou o vosso país nas últimas décadas, sejam os jovens quem
mais sofre: são eles os mais afectados pelo desemprego, o que lhes
causa um futuro incerto e tira-lhes também a possibilidade de se
sentirem protagonistas da sua própria história comum.
Um
futuro incerto, que os descarta e obriga muitas vezes a conceber a
sua vida à margem da sociedade, deixando-os vulneráveis e quase sem
pontos de referência perante as novas formas de escravidão deste
século XXI.
Eles,
os nossos jovens, são a primeira missão!
Devemos
convidá-los a encontrar a sua felicidade em Jesus; não de maneira
asséptica ou abstracta, mas aprendendo a dar-lhes um lugar,
conhecendo a sua linguagem, ouvindo as suas histórias, vivendo ao
seu lado, fazendo-lhes sentir que são abençoados por Deus.
Não
deixemos que nos roubem o rosto jovem da Igreja e da sociedade!
Não
permitamos aos mercadores de morte roubar as primícias desta terra!
Aos
nossos jovens e a quantos como eles se sentem sem voz porque estão
mergulhados na precariedade, o padre Laval dirigir-lhes-ia o convite
a fazer ressoar o anúncio de Isaías: «Ruínas de Jerusalém,
irrompei em cânticos de alegria, porque o Senhor consola o seu povo,
com a libertação de Jerusalém» (52, 9).
Mesmo
quando parecer sem solução aquilo que nos rodeia, a esperança em
Jesus convida-nos a reencontrar a certeza do triunfo de Deus não
apenas para além da história, mas também na trama escondida das
pequenas histórias que se cruzam e fazem de nós protagonistas da
vitória d’Aquele que nos deu o Reino.
Para
viver o Evangelho, não podemos esperar que tudo seja favorável ao
nosso redor, porque muitas vezes as ambições do poder e os
interesses mundanos jogam contra nós.
São
João Paulo II declarava «alienada a sociedade que, nas suas formas
de organização social, de produção e de consumo, torna mais
difícil a realização [do] dom [de si mesmo] e a constituição
[da] solidariedade inter-humana» (Carta enc. Centesimus annus,
41c).
Numa
tal sociedade, torna-se difícil viver as Bem-aventuranças; a sua
vivência pode até ser mal vista, suspeita, ridicularizada (cf.
Gaudete et exsultate, 91).
É
verdade, mas não podemos deixar-nos vencer pelo desânimo.
Ao
pé desta montanha – gostaria que ela fosse hoje o Monte das
Bem-aventuranças –, devemos também nós recuperar este convite a
ser felizes.
Só
os cristãos alegres suscitam o desejo de seguir este caminho; «a
palavra “feliz” ou “bem-aventurado” torna-se sinónimo de
“santo”, porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a
sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira
felicidade» (Ibid., 64).
Quando
ouvimos o prognóstico ameaçador «somos cada vez menos»,
deveríamos preocupar-nos em primeiro lugar, não com o declínio
desta ou daquela forma de consagração na Igreja, mas com a carência
de homens e mulheres que queiram viver a felicidade pelos caminhos da
santidade, homens e mulheres que deixem o coração inflamar-se com o
anúncio mais belo e libertador.
«Se
alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa
consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força,
[sem] a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, [vivem] sem
uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de
vida» (Evangelii gaudium, 49).
Quando
um jovem vê um projecto de vida cristã abraçado com alegria, isto
entusiasma-o e encoraja-o, sentindo um desejo que se pode expressar
assim:
«Quero
subir a esta montanha das Bem-aventuranças, quero encontrar o olhar
de Jesus e que Ele me diga qual é o meu caminho de felicidade».
Rezemos,
queridos irmãos e irmãs, pelas nossas comunidades para que, dando
testemunho da alegria da vida cristã, vejam florescer a vocação à
santidade nas diferentes formas de vida que o Espírito nos propõe.
Imploremo-lo
para esta diocese e também para todas as outras que fizeram o
esforço de vir até aqui.
Padre
Laval, o Beato cujas relíquias veneramos, também experimentou
momentos de decepção e dificuldade com a comunidade cristã, mas
por fim triunfou o Senhor no seu coração.
Teve
confiança na força do Senhor.
Deixemos
que esta força toque o coração de muitos homens e mulheres desta
terra; deixemos que toque também os nossos corações de modo que a
sua novidade possa renovar a nossa vida e a vida da nossa comunidade
(cf. ibid., 11).
Não
esqueçamos que Aquele que tem a força de chamar, Aquele que
constrói a Igreja, é o Espírito Santo, com a sua força.
Ele
é o protagonista da missão, Ele é o protagonista da Igreja.
A
imagem de Maria, a Mãe que nos protege e acompanha, lembra-nos que
Ela foi chamada a «bem-aventurada» (Lc 1, 48); a Ela que
experimentou a dor como uma espada trespassando o seu coração, a
Ela que passou pelo limiar pior da dor que é ver morrer o seu Filho,
peçamos o dom da abertura ao Espírito Santo, da alegria
perseverante, a alegria que não se deixa abater nem retrocede, a
alegria que sempre nos faz experimentar e afirmar que o Todo Poderoso
faz maravilhas, santo é o seu nome (cf. Lc 1, 49).
Fontes:
Santa Sé; Notícias do Vaticano
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