”Nunca
mais a guerra, nunca mais o fragor das armas, nunca mais tanto
sofrimento!”
-
O Papa Francisco no Encontro pela Paz em Hiroshima
Este
Domingo, depois de Nagasaki, o Papa Francisco foi até Hiroshima, a
outra cidade japonesa devastada pela bomba atómica em 1945 para o
Encontro pela Paz que se realizou no Memorial da Paz.
Em
seu discurso, depois de recordar do trágico instante em que tudo
“foi devorado por um buraco negro de destruição e morte”, o
Papa disse:
“Aqui,
faço memória de todas as vítimas e inclino-me perante a força e a
dignidade das pessoas que, tendo sobrevivido àqueles primeiros
momentos, suportaram nos seus corpos durante muitos anos os
sofrimentos mais agudos e, nas suas mentes, os germes da morte que
continuaram a consumir a sua energia vital.”
VIAGEM
APOSTÓLICA A DO PAPA FRANCISCO À TAILÂNDIA E JAPÃO
(19
- 26 DE NOVEMBRO DE 2019)
ENCONTRO
EM PROL PAZ
MENSAGEM
DO SANTO PADRE
Memorial
da Paz de Hiroxima
Domingo,
24 de Novembro de 2019
«Por
amor dos meus irmãos e amigos, proclamarei: “A paz esteja
contigo!”» (Sal 122/121, 8).
Deus
de misericórdia e Senhor da história, para Vós erguemos os nossos
olhos a partir deste lugar, encruzilhada de morte e vida, derrota e
renascimento, sofrimento e compaixão.
Aqui,
de tantos homens e mulheres, dos seus sonhos e esperanças, no meio
dum clarão de relâmpago e fogo, nada mais ficou além de sombra e
silêncio.
Num
instante apenas, tudo foi devorado por um buraco negro de destruição
e morte.
Daquele
abismo de silêncio, ainda hoje continua a ouvir-se forte o grito
daqueles que já não estão aqui.
Provinham
de lugares diversos, tinham nomes diferentes, alguns deles falavam
outras línguas.
Ficaram
todos unidos por um mesmo destino, numa hora tremenda que marcou para
sempre não só a história deste país, mas também o rosto da
humanidade.
Aqui,
faço memória de todas as vítimas e inclino-me perante a força e a
dignidade das pessoas que, tendo sobrevivido àqueles primeiros
momentos, suportaram nos seus corpos durante muitos anos os
sofrimentos mais agudos e, nas suas mentes, os germes da morte que
continuaram a consumir a sua energia vital.
Senti
o dever de vir a este lugar como peregrino de paz, para me deter em
oração, recordando as vítimas inocentes de tanta violência e
trazendo no coração também as súplicas e anseios dos homens e
mulheres do nosso tempo, especialmente dos jovens, que desejam a paz,
trabalham pela paz, sacrificam-se pela paz.
Vim
a este lugar cheio de memória e futuro, trazendo comigo o grito dos
pobres, que são sempre as vítimas mais indefesas do ódio e dos
conflitos.
Quereria,
humildemente, ser a voz daqueles cuja voz não é escutada e que
olham, com preocupação e angústia, as tensões crescentes que
permeiam o nosso tempo, as desigualdades inaceitáveis e injustiças
que ameaçam a convivência humana, a grave incapacidade de cuidar da
nossa casa comum, o contínuo e espasmódico recurso às armas, como
se estas pudessem garantir um futuro de paz.
Desejo
reiterar, com convicção, que o uso da energia atómica para fins de
guerra é, hoje mais do que nunca, um crime não só contra o homem e
a sua dignidade, mas também contra toda a possibilidade de futuro na
nossa casa comum.
O
uso da energia atómica para fins de guerra é imoral, como é imoral
de igual modo – já o disse há dois anos – a posse das armas
atómicas.
Seremos
julgados por isso.
As
novas gerações erguer-se-ão como juízes da nossa derrota por
havermos falado de paz, mas não a termos realizado com as nossas
ações entre os povos da terra.
Como
podemos falar de paz, enquanto construímos novas e tremendas armas
de guerra?
Como
podemos falar de paz, enquanto justificamos certas acções
ilegítimas com discursos de discriminação e ódio?
Estou
convencido de que a paz não passa dum «som de palavras», se não
se fundar na verdade, se não se construir segundo a justiça, se não
se animar e consumar no amor, e se não se realizar na liberdade (cf.
São João XXIII, Pacem in terris, 37).
A
construção da paz na verdade e na justiça significa reconhecer que
«subsistem muitas vezes entre os seres humanos consideráveis
diferenças de saber, de virtude, de capacidade inventiva e de
recursos materiais» (Ibid., 87), mas isso nunca poderá justificar a
pretensão de impor aos outros os próprios interesses particulares.
Pelo
contrário, tudo isso pode constituir um motivo de maior
responsabilidade e respeito.
De
modo análogo, as comunidades políticas, que podem legitimamente
distinguir-se umas das outras em termos de cultura ou desenvolvimento
económico, são chamadas a comprometer-se na «obra de comum
ascensão dos povos» (Ibid., 88), para o bem de todos.
De
facto, se realmente queremos construir uma sociedade mais justa e
segura, devemos deixar cair as armas das nossas mãos: «Não se pode
amar com armas ofensivas nas mãos» (São Paulo VI, Discurso às
Nações Unidas, 4/X/1965, 5).
Quando
nos rendemos à lógica das armas e afastamos da prática do diálogo,
esquecemo-nos tragicamente que as armas, antes mesmo de causar
vítimas e ruínas, têm a capacidade de provocar pesadelos, «exigem
enormes despesas, detêm os projectos de solidariedade e de útil
trabalho, falseiam a psicologia dos povos» (Ibid., 5).
Como
podemos propor a paz, se usamos continuamente a intimidação bélica
nuclear como recurso legítimo para a resolução de conflitos?
Que
este abismo de sofrimento evoque os limites que jamais se deveriam
ultrapassar.
A
verdadeira paz só pode ser uma paz desarmada!
Além
disso, «a paz não é ausência de guerra; (...) nunca se alcança
duma vez para sempre, antes deve estar constantemente a ser
edificada» (Conc. Ecum. Vat. II, Gaudium et spes, 78).
É
fruto da justiça, do desenvolvimento, da solidariedade, da
solicitude pela nossa casa comum e da promoção do bem comum,
aprendendo com as lições da história.
Recordar,
caminhar juntos, proteger: são três imperativos morais que
adquirem, precisamente aqui em Hiroxima, um significado ainda mais
forte e universal e são capazes de abrir um caminho de paz.
Consequentemente
não podemos permitir que as actuais e as novas gerações percam a
memória do que aconteceu, aquela memória que é garantia e estímulo
para construir um futuro mais justo e fraterno; uma memória
expansiva, capaz de despertar as consciências de todos os homens e
mulheres, particularmente de quantos hoje desempenham um papel
especial no destino das nações; uma memória viva, que ajude a
dizer de geração em geração: nunca mais!
Por
isso mesmo, somos chamados a caminhar unidos, com um olhar de
compreensão e perdão, abrindo o horizonte à esperança e
proporcionando um raio de luz no meio das numerosas nuvens que hoje
obscurecem o céu.
Abramo-nos
à esperança, tornando-nos instrumentos de reconciliação e de paz.
Isto
será possível sempre, se formos capazes de nos proteger e
reconhecer como irmãos num destino comum.
O
nosso mundo, interligado não só agora pela globalização mas desde
sempre por uma terra comum, reclama, mais do que noutros tempos, que
sejam suplantados os interesses exclusivos de certos grupos ou
sectores, a fim de se atingir a grandeza daqueles que lutam
corresponsavelmente para garantir um futuro comum.
Numa
única súplica, aberta a Deus e a todos os homens e mulheres de boa
vontade, em nome de todas as vítimas dos bombardeamentos, das
experimentações atómicas e de todos os conflitos, do fundo do
coração elevemos juntos um grito: Nunca mais a guerra, nunca mais o
fragor das armas, nunca mais tanto sofrimento! Sobrevenha a paz em
nossos dias, neste nosso mundo.
Ó
Deus, Vós no-lo prometestes: «O amor e a fidelidade vão
encontrar-se. Vão beijar-se a justiça e paz. Da terra vai brotar a
verdade e a justiça descerá do céu» (Sal 85/84, 11-12).
Vinde,
Senhor, que anoitece!
E
onde abundou a destruição, possa hoje superabundar a esperança de
que é possível escrever e realizar uma história diferente.
Vinde,
Senhor, Príncipe da paz, fazei de nós instrumentos e reflexos da
vossa paz!
«Por
amor dos meus irmãos e amigos, proclamarei: “A paz esteja
contigo!”» (Sal 122/121, 8).
“Nunca
mais a guerra, nunca mais o fragor das armas, nunca mais tanto
sofrimento!”, - o Papa Francisco no Encontro pela Paz, celebrado no
Domingo 24 de Novembro de 2019 no Memorial da Paz de Hiroxima.
Os
momentos mais importantes vividos pelo Papa Francisco nas cidades de
Nagasaki e Hiroshima neste Domingo 24 de Novembro de 2019.
Fontes:
Santa Sé, Notícias do Vaticano
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